Gestão e Qualidade, Política | 18 de abril de 2017

Modernização das regulações pode economizar milhões na saúde

Estudo mostra que é possível poupar milhões na saúde com a mudança ou fim de algumas normas
Modernização das regulações pode economizar milhões na saúde

O oftalmologista Oliver Schein, do Hospital Johns Hopkins, encontrou uma maneira simples de economizar meio bilhão de dólares por ano da conta da saúde dos Estados Unidos, sem nenhum efeito negativo no cuidado do paciente. O único empecilho para isso: uma norma do governo.

Conforme informações do Dr. Peter Pronovost (diretor do Armstrong Institute for Patient Safety and Quality) – para o The Wall Street Journal -, dezessete anos atrás, o Dr. Schein e colegas publicaram um estudo constatando que os pacientes de cirurgia de catarata que foram submetidos a exames de rotina pré-operatórios – como um eletrocardiograma, exames de sangue e de imagem – não tiveram menos complicações do que aqueles que não realizaram nenhum teste antes da cirurgia. Os riscos desta cirurgia são tão pequenos que podem ser identificados e tratados no dia em que ocorrem. No entanto, 53% dos pacientes continuam a fazer esses testes como parte de um exame médico pré-operatório, apesar da evidência sólida de que isto não reduz o risco cirúrgico para pacientes com catarata.

Esses exames não são realizados como rotina nem antes de procedimentos dentários, mas continuam a ser exigidos pelo governo dos Estados Unidos e por organizações de acreditação antes de cada operação de catarata e outras cirurgias eletivas de baixo risco. Para catarata, os custos desses exames obrigatórios são de cerca de 500 milhões de dólares por ano (cerca de 1,6 bilhão de reais). Entre os beneficiários do Medicare (sistema de saúde norte-americano direcionado á população idosa) nenhum procedimento é tão realizado quanto a cirurgia de catarata, que, segundo projeções, pode crescer para 3,3 milhões de cirurgias por ano até 2020.

A exigência dos exames pré-operatórios faz sentido para a grande maioria dos procedimentos. Os pacientes podem trazer fatores de complicação para a mesa de operações, como doenças e condições múltiplas e alergias. Os exames ajudam a equipe que irá realizar a cirurgia a planejar uma operação bem sucedida e a identificar e mitigar os riscos de potenciais complicações.

Segundo o Dr. Pronovost, esses riscos raramente existem na cirurgia de catarata. Os pacientes recebem anestesia local e sedação leve para um procedimento que normalmente dura vinte minutos. Muitas vezes, os pacientes vão para casa em até 30 minutos após a cirurgia. E os pacientes que realmente precisam de exames pré-operatórios, como aqueles com uma admissão hospitalar recente, podem ser facilmente identificados com uma lista de verificação.

No entanto, o exemplo da catarata fala de um problema maior. As regulamentações de saúde têm um papel crítico na garantia da segurança dos pacientes e dos trabalhadores (enfermeiros, médicos e demais profissionais da saúde). Porém, há a necessidade de se buscar evidências médicas e experiência para nos mostrar onde podemos reduzir com segurança o custo da regulação.

O excesso de regulamentação também prejudica a produtividade do profissional e contribui para o esgotamento do trabalhador. Médicos gastam cerca de metade do seu tempo documentando em sistemas de registros eletrônicos  pouco amigáveis ou fazendo trabalho excessivamente administrativo, de acordo com um estudo publicado no ano passado no site Health Affairs.

Existem muitas regulamentações em saúde que, se modernizadas, poderiam ajudar a reduzir os custos, preservando ou mesmo melhorando a segurança do paciente e dos tratamentos. Por exemplo, é mais conveniente e menos dispendioso que pacientes em melhores condições de saúde obtenham antibióticos intravenosos a longo prazo em casa, ao invés de estender suas internações hospitalares. Este tratamento, entregando os medicamentos através de um cateter em uma base ambulatorial, aumenta a satisfação do paciente e economiza dólares de cuidados em saúde.
Infelizmente, segundo analisa o artigo, o sistema de saúde norte-americano não cobre situações como essa. Os pacientes, muitas vezes são obrigados a pagar cerca de cem dólares por dia de seus próprios bolsos para receber os serviços em casa. Aqueles que não podem ou não querem pagar têm de visitar uma instalação especializada, uma situação que não só aumenta os custos, mas é inadequado para esses pacientes mais saudáveis.

Há sinais encorajadores de que os reguladores estão olhando melhor para essas questões. Os Centros de Serviços do Medicare e do Medicaid (CMS, na sigla em inglês) recentemente removeram uma regulação que impedia que nutricionistas prescrevessem ordens de dieta – anteriormente, apenas um médico podia fazer. Com essa decisão, é esperada a economia de centenas de milhões de dólares e de tempo médico. No entanto, existem muitas questões como esta que precisam ser sanadas, representando bilhões de dólares em potenciais poupanças. O CMS regula e administra os programas de saúde do governo norte-americano, como os planos de saúde para idosos, dentre outros.

Conforme Provonost, as regulamentações sábias conseguem ajudar bastante nos cuidados de saúde. Ainda assim, muito precisamos andar para estabelecer um processo para identificar, avaliar e rever, ou até remover regulamentações que pressionam os médicos, aumentam os custos e colocam encargos sobre os pacientes, sem benefícios claros para a segurança ou a qualidade.

 

Acesse a publicação original Cut This One Regulation–and Save $500 Million in Health-Care Costs no WSJ.

Peter Pronovost

Peter Pronovost, do Johns Hopkins Hospital, dos EUA

 

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