Gestão e Qualidade | 21 de dezembro de 2021

Hospital próprio e integração com a maior operadora do Brasil: um ano especial para o CCG Saúde

Diretor Fabio Rossetto fala sobre os desafios e as conquistas da operadora em 2021, ano em que completou 30 anos de atuação
Hospital próprio e integração com a maior operadora do Brasil um ano especial para o CCG Saúde

O ano de 2021 ficará marcado por duas conquistas históricas na trajetória de 30 anos da operadora CCG Saúde: a inauguração do seu primeiro hospital próprio e o anúncio da venda do negócio para o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI) por cerca de R$ 1 bilhão. Fabio Bernal Rossetto, Diretor Executivo Financeiro do CCG Saúde, concedeu entrevista para o portal Setor Saúde, na Série Especial com executivos de hospitais e operadoras do Rio Grande do Sul. Ele é o 2º entrevistado da série que iniciou no dia 20/12 (saiba mais no final da matéria).

O executivo destaca desafios, conquistas e lista ganhos a partir da integração com a GNDI. Rossetto analisa ainda o momento atual da saúde nacional, com recorde de aquisições, cita tendências que impactarão o setor da saúde, o fator pandemia e os ensinamentos em termos de gestão. Ele também fala sobre o alinhamento do CCG Saúde ao novo cenário da saúde e opina sobre os gargalos que devem ser foco de atenção dos governos e das organizações de saúde em 2022.

Confira a entrevista completa.

Desafios e Conquistas

Segundo Rossetto, o ano de 2021 foi muito desafiador para toda a área da saúde. “Estamos fechando dois anos de pandemia, onde os colaboradores da ponta – clínicas, hospitais, ambulatórios – foram testados ao limite, com sobrecarga de trabalho e também emocional, visto o cenário extremamente desafiador. Em março, quando estourou a segunda onda da Covid-19, tivemos que rapidamente adaptar nossas clínicas para garantir o atendimento necessário aos nossos beneficiários que não conseguiam migrar para hospitais privados e públicos pela superlotação e ausência de leitos. Contratamos equipes de intensivistas, adquirimos respiradores, aumentamos equipe assistencial – em suma, não medimos esforços para dar condições de tratamento qualificado aos nossos pacientes.”

Covid-19: equilibrar as necessidades dos clientes e despesas

Em todo o mundo, o aumento de custos na saúde foi um dos desafios dominantes. O cenário cheio de incertezas ocasionado pela Covid-19, exigiu das organizações a implementação de ações rápidas para equilibrar as necessidades dos clientes e o aumento das despesas.

“Nós tivemos um desafio grande de equilibrar as necessidades dos nossos beneficiários e as crescentes despesas para o tratamento da Covid-19 com a sustentabilidade do negócio. Em função do cenário econômico, foi o primeiro ano em que tivemos um reajuste negativo determinado pela ANS, enquanto as despesas só cresciam. Fato esse que fez com que a maioria das operadoras de saúde apresentasse um resultado negativo bem significativo”, explica.

Hospital Humaniza

Por outro lado, o CCG Saúde conseguiu manter o seu plano de investimentos. Em junho, inaugurou o seu primeiro hospital próprio, inciativa extremamente importante para ampliar o escopo de atendimento da operadora. A estrutura é vital para possibilitar o alcance de uma maior eficiência operacional, por meio de uma estrutura completa de rede verticalizada.

hospital humaniza ccgsaude

“Em 2021 abrimos – de forma faseada – as portas do Hospital Humaniza. Nosso primeiro Hospital próprio em Porto Alegre, com estrutura para 220 leitos, 9 salas cirúrgicas, hemodinâmica, 20 leitos individuais de UTI e todos os serviços complementares de imagem e exames que são necessários para que os nossos beneficiários pudessem contar, a partir desse momento, com uma estrutura completa em rede verticalizada. Esse importante feito faz com que consigamos ampliar o nosso escopo de atendimento de uma forma que os nossos clientes se beneficiem do fato de termos informações horizontais do seu histórico de saúde, na necessidade de atendimento hospitalar. Já para a operadora significa maior eficiência operacional no cuidado com a saúde de quem conta com a gente.”

hospital humaniza ccgsaude fotos

Aumento de clientes

“Esse ano também foi marcado pela consolidação na qualidade do nosso atendimento e pela conquista de mais clientes, especialmente com a aquisição da carteira de clientes da Multiclinica de Novo Hamburgo e a ampliação na nossa participação no Vale do Sinos”, destaca Rossetto.

Promover e sustentar o crescimento e rentabilização do negócio

“E por último, mas não menos importante, a consolidação do projeto pelo qual fui contratado: promover e sustentar o crescimento e rentabilização do negócio (2020 tivemos resultado histórico), com clientes satisfeitos, um custo adequado e o reconhecimento do mercado ao ponto que fez com que o CCG Saúde fosse adquirido pelo Grupo NotreDame Intermédica (GNDI)”.

Integração ao Grupo NotreDame

Em junho, o Grupo NotreDame confirmou a aquisição do CCG Saúde. O acordo envolveu 100% das ações da operadora, em negócio fechado pelo valor de R$ 1,06 bilhão. O processo de compra e venda ainda segue sob trâmites regulatórios. A entrada do GNDI é caminho natural do processo iniciado em 2019, quando o CCG Saúde vendeu uma fatia minoritária à Kinea, gestora de private equity do Itaú.

“Recentemente, fomos adquiridos pelo Grupo NotreDame Intermédica, a maior operadora de saúde suplementar do Brasil, com mais de 7,6 milhões de beneficiários e uma estrutura própria enorme em diversos estados brasileiros”. Rossetto lista alguns resultados previstos a partir desta integração:

Lançamento de novos produtos com maior abrangência e mais facilidades para nossos beneficiários;


Melhorias nos nossos canais de atendimento;


Investimentos em infraestrutura de TI para melhorar a experiência dos nossos usuários;


Ampliação no número de leitos do Hospital Humaniza;


Aumento da nossa rede própria de atendimento a partir de aquisições de operadoras e hospitais.


Cabe lembrar, que há poucos dias, o CADE deu sinal verde para a fusão – incorporação das ações – da GNDI pela Hapvida. Ainda há um período para o CADE dar o OK final e definir os “remédios” que a nova companhia deverá aplicar para impedir a concentração de mercado para algumas regiões. GNDI/Hapvida será uma das maiores operadoras verticalizadas do mundo. 

O alinhamento ao novo cenário da saúde

O executivo do CCG Saúde diz que existem dois grandes segmentos da saúde: a indústria e os serviços. Sob este ângulo, ele analisa o movimento de fusões e aquisições, a formação de grandes redes e a busca pela eliminação de custos e desperdícios. E destaca como o alinhamento do CCG Saúde se integra a este novo cenário.

“Quando a gente analisa o mercado da saúde, ele tem dois grandes segmentos: um é a indústria (farmacêutica, de biotecnologia, materiais, equipamentos e sistemas médicos); o outro são os serviços (as operadoras e suas várias modalidades, seguradoras, medicina em grupo, autogestão, hospitais, clínicas, laboratórios e imagem). O grande marco da transformação na saúde vem de duas coisas: 1ª o avanço da tecnologia médica, que faz com que aumente a previsibilidade do diagnóstico, ocasionando uma inversão: você sai de uma gestão de doença, para uma gestão preditiva, que é o que todos estão buscando”, analisa Rossetto.

“A segunda coisa, relacionada ao que eu acredito, é o aumento da competitividade em determinado mercado. Mercados mais evoluídos demonstram um nível superior de competição; muitos competidores bem postos no mercado elevam o nível daquele mercado e isso traz benefícios para todos: diminuição de fraudes, diminuição de abusos, do consumo exacerbado e faz com que os clientes sejam mais críticos, já que aumenta a oferta para eles. E esse cenário de competição mudou no Brasil a partir de 2015 com a abertura do setor de saúde ao capital estrangeiro, que antes não era possível”, completa.

CCG SAUDE GRUPO

“Então, quando você olha na parte de setor de saúde da indústria são empresas mais desenvolvidas, são multinacionais que tem uma ampla competição global, que tem clientes extremamente exigentes, o que faz que tenham um nível de maturidade maior: de negócio, de governança, de gestão e de entrega de produto. Quando você olha para serviços são muitos empreendedores no Brasil e poucas multinacionais. E esses empreendedores, após 2015, perceberam uma oportunidade muito grande por que, com o capital entrando em saúde, muitos bancos e fundos de investimento – que antes não viam a saúde como um negócio, por que não podiam trazer capital estrangeiro – viram como uma grande oportunidade” entende Rossetto.

“A velocidade de grandes grupos aumentou exponencialmente”

“Antes de 2015 já tínhamos esse desenvolvimento, mas não em larga escala. Vale lembrar que já tínhamos Dasa, o Fleury, Hermes Pardini, Rede Dor, ou seja, já haviam grandes grupos no setor de saúde no Brasil. Mas depois de 2015, a velocidade de grandes grupos aumentou exponencialmente. Entrou capital nas operadoras, na medicina diagnóstica e em todos os setores de serviços do segmento. Como os bancos, os fundos e os investidores também são exigentes, o mercado precisou dar um resultado superior e, naturalmente, elevou a competição na saúde, aumentou a maturidade, aumentou o nível de entrega, os clientes ficaram mais exigentes e esse novo cenário fez com que todo segmento se desenvolvesse. ”

“Um outro componente importante é a tecnologia de gestão por meio da inovação, que nos permite usar a inteligência artificial, diagnósticos mais precoces por meio de análise genômica ou outros. E a facilidade de ter essa tecnologia, faz com que surjam também, nesse período, muitos concorrentes de menor porte. Normalmente startaps, que vem com propostas de mudar o que se faz hoje. Propostas melhores. Esse é o panorama do mercado”, completa Rossetto.

“E o CCG está totalmente alinhado a essa estratégia. É uma empresa que nasceu há 30 anos e, nessa fase do Kinea, que envolve a gestão partilhada com os fundadores, foi construído o projeto de expansão para estarmos alinhados aos grandes grupos que estão sendo investidos e que eles viessem nos escolher. E isso foi feito, o que culminou na venda para o Grupo NotreDame Intermédica, que tinha o capital de um banco estrangeiro e é alinhado à tecnologia e às novas práticas de gestão. ”

Tendências: predição, mudança do remuneração médica e inteligência artificial

Predição: “No nível mais macro, a primeira tendência é quem estiver gerindo saúde e predição e não doença estará em vantagem em relação a quem está gerindo doença. No Brasil, a gente tem uma cultura voltada para os hospitais, ou seja, se a pessoa tem um problema de saúde, procura um Hospital. A tendência é termos um diagnóstico precoce de fato, utilizando de análise genômica entre outras que permitem a predição de uma condição futura da pessoa, então ao invés de esperar o dia em que ela terá que ir ao hospital, ela vai saber que por determinados fatores, ela está mais suscetível a ter algumas doenças, então, ela já vai tratar isso de maneira preditiva, ao invés de esperar o problema acontecer. Esse, para mim, é o principal driver que muda a relação de saúde. Hoje toda a indústria de saúde é voltada para quando a pessoa está doente e não quando a pessoa está saudável”, pondera.

Mudança do modelo de remuneração médica: “Segunda tendência é que apesar do modelo preponderante seja o universal, ou seja, o SUS, a participação da saúde suplementar aumenta a cada ano. Infelizmente, dentro do segmento de saúde ocorrem muitos abusos, fraudes, consumo exacerbado e muitos players vão atuar para tentar corrigir isso: mudando modelo de remuneração médica, alterando a interação entre operadora e prestadores, inclusive com modelos que não necessitem de operadoras, outros não precisando de hospitais. Tudo isso vai ser ofertado. Essa é uma tendência transformacional de saúde”, defende Rossetto.

Inteligência artificial: “Um outro ponto é o fato de que a inteligência artificial vai estar muito presente no dia a dia. Hoje já existem hospitais – inclusive no Brasil – que utilizam de tecnologia avançada, como o Watson, da IBM, para condução de tratamento e diagnóstico precoce e isso vem a complementar a visão técnica médica na resolução de cada caso. Esse fato também muda porque faz com que um concorrente que não tenha corpo clínico reconhecido, passe a ter o mesmo nível de acesso e conhecimento de tratamento. A tecnologia vai democratizar o acesso à qualidade”, prevê Rossetto.

Ensinamento da pandemia

Rossetto acredita que a adaptabilidade e a velocidade ficarão como os principais legados para a gestão, com consequências que ajudarão a moldar um novo modelo de atuação, familiarizado à busca de soluções de forma mais ágil.

“Neste ano, fomos desafiados diariamente a nos adaptarmos com respostas cada vez mais ágeis para os principais problemas apresentados. Não havia tempo para consolidar planos a médio prazo. A resposta e as mudanças nas nossas estruturas físicas e operações precisaram ser imediatas, pois significavam criar condições para que mais pessoas se salvassem frente ao cenário catastrófico que vivemos no início do ano”, entende.

CCG SAUDE UNIDADES

Valor à vida e às pessoas: “esse é o nosso core business”

“Sempre tivemos o valor à vida e às pessoas, pois esse é o nosso ‘core business‘. Mas também a valorizar cada pequena vitória, cada pequeno gesto, cada gota de suor dos colaboradores que trabalharam incansavelmente para garantir tratamento adequado e de qualidade aos nossos beneficiários”, adiciona.

Gargalos que devem ser foco de atenção dos governos e das organizações de saúde em 2022

“O principal desafio do governo e da iniciativa privada é enxergar a saúde de forma integral e integrada, e não em suas partes. Hoje a gente é muito focado nas estruturas para atender aos indivíduos – clínica, hospital, etc. Vamos precisar entender muito mais quem é o indivíduo, quais são suas necessidades e então definir quais serão as estruturas necessárias”, finaliza Rossetto.

FABIO ROSSETO PERFIL

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Sobre a Série Especial Setor Saúde

Pelo quarto ano consecutivo, o portal Setor Saúde publica a sua série especial com executivos da saúde do Rio Grande do Sul. Neste ano, as entrevistas serão publicadas diariamente a partir do dia 20 de dezembro. Não haverá publicações no período de festas de Natal e Ano Novo (dias 24, 25, 26 e 31 de dezembro, assim como em 1º e 2 de janeiro). Acompanhe as nossas redes sociais (facebooktwitterlinkedin) para ficar atualizado sobre as publicações ou acesse www.setorsaude.com.br.


 

 



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