Gestão e Qualidade | 18 de março de 2021

Hospitais relatam aumento de preços de mais de 1.500% em itens do Kit Intubação

Na quarta-feira (17), FEHOSUL emitiu alerta de possível falta de insumos
Hospitais relatam aumento de preços de mais de 1.500% em itens do Kit Intubação

Com o aumento de internações e superlotação dos hospitais do Rio Grande do Sul, um tema que ganha atenção diz respeito ao abastecimento de insumosEstima-se que as indústrias farmacêuticas do Brasil consigam manter o fornecimento regular somente para os próximos 15-20 dias, assim mesmo, em caráter intermitente. 

Após alerta emitido pela Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), na quarta-feira (17), de que hospitais do RS começaram a relatar preocupação com os estoques baixos do chamado “Kit Intubação”, formado por medicamentos por bloqueadores neuromusculares (BCN) e sedativos, utilizados no tratamento intensivo dos casos graves de Covid-19, o Setor Saúde entrou em contato com hospitais para compreender a situação do momento.

Em geral, grande parte dos hospitais consultados relatam que, no momento, o abastecimento dos insumos está garantido para os próximos dias. Porém, um levantamento feito pelo Conass demonstra que 18 estados já identificaram a falta ou baixa cobertura de BCN

Os hospitais apontam como estão os estoques, apresentam dados sobra a variação de preços e indicam alternativas caso faltem medicamentos. Confira:

Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)

“Os estoques estão sendo monitorados diariamente através de um dashbord de controle onde evidenciamos o consumo dia a dia dos medicamentos, bem como os níveis de estoque.  É difícil precisar quanto tempo duram os estoques em função da grande variabilidade, cada produto possui um tempo de estoque diferenciado, sendo que preconizamos pelo mínimo de 10 dias como estoque de segurança”, explica Simone Dalla Pozza Mahmud, coordenadora de Suprimentos do HCPA.

Variação de preços – “A variação de preços é distinta dependendo do medicamento. Há de se considerar que o Hospital possui muitos contratos firmados, fazendo com que alguns preços se mantenham. Entretanto, foi observada variação na ordem de 50%, 100%, chegando em 200% em itens específicos”.

Alternativa caso faltem medicamentos – “Primeiramente, se pensa em protocolos alternativos para as terapias de sedação, bloqueio neuromuscular e analgesia. Alguns hospitais buscam por importação e outros recebem repasse de fármacos conforme criticidade de seus estoques. Estamos tentando nos ajudar com empréstimos, mas essa estratégia é limitada e oferece riscos aos hospitais, pois não há garantias da indústria do fornecimento em tempo, além de reforçar protocolos alternativos junto às equipes assistenciais”.

Hospital de Caridade de Erechim (HC)

O Hospital de Erechim aponta que o “Kit Intubação” é composto de forma mais tradicional por três medicamentos injetáveis: Fentanila (Analgésico opióide); Midazolam (Hipnótico / Benzodiazepínico) e Rocurônio (Bloqueador Neuro Muscular / BCN), sendo que na falta de um determinado medicamento existem certas alternativas que podem ser utilizadas ou associadas pelos médicos, a depender da condição clínica dos pacientes.

“Estas alternativas foram indicadas pela Direção técnica do Hospital e até o momento não foram necessárias devido estoques dos medicamentos – apesar da elevação substancial no consumo devido número de pacientes intubados e aumento de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo para Covid-19. Atualmente, os estoques destes medicamentos são variáveis (Fentanila aproximadamente 30 dias: Midazolam 15 dias e de forma mais crítica o Rocurônio por aproximadamente 7 dias) ”.

Aumento de preços – “Como os medicamentos são lançados no sistema adotado pela instituição de forma individual, a porcentagem de aumento difere entre os mesmos. De modo aproximado, verificamos um aumento da Fentanila em torno de 110%; Midazolam em torno de 250 % e do Rocurônio em torno de 130%”.

Alternativa caso faltem medicamentos – “As iniciativas que o Hospital de Caridade de Erechim tem adotado, além da formação do Comitê Especial do HC para Enfrentamento da Covid-19 com participação da Administração; Direção Técnica e Gerências, refere-se a: monitoramento diário dos estoques e consumo destes e de diversos medicamentos utilizados na instituição e nas unidades Covid; cotações semanais junto a fornecedores (indústria farmacêutica e distribuidoras de medicamentos; Indicação antecipada pela Direção Técnica HC junto ao corpo clínico, caso seja necessária utilização de alternativas; além da utilização racional de acordo com necessidade dos pacientes”.

Situação mais crítica para os BCN – “A situação mais grave refere-se à classe dos BCN (Bloqueadores Neuro Musculares), devido à falta generalizada de diversos representantes: Rocurônio; Pancurônio; Cisatracúrio; Atracúrio e Vecurônio. Ou seja, embora a maioria das instituições hospitalares utilizem um ou mais medicamentos representantes desta classe farmacêutica, a falta no país é generalizada devido consumo alto por praticamente todos Estados da federação, e indisponibilidade de atendimento de toda demanda por parte da indústria farmacêutica. Apenas a título de exemplificação, recentemente foram realizadas cotações com mais de 30 fornecedores e nenhum deles possuía tais medicamentos para comercialização. Além disso, ordens de compras (pedidos) colocados junto à indústria têm sido negadas ou mesmo atendidas parcialmente de forma unilateral sob argumento de distribuir a produção para os diversos Estados”.

Hospital Regional Santa Lucia, de Cruz Alta

De acordo com o superintendente administrativo e financeiro, Giovanne Torres; e o coordenador do Setor de Compras, Tiago Righi, do Hospital Regional Santa Lucia, de Cruz Alta, um dos itens do kit do material é suficiente para atender a demanda dos próximos 4 dias.

Além disso, eles apontam que o custo do Kit Intubação atualmente teve em alguns itens o aumento de mais de 1.000%.

“Foram introduzidos outros medicamentos para redução do consumo do Kit e o Hospital Regional Santa Lucia, mantém-se em constante pesquisa entre fornecedores até de outros países”, disseram.

Hospital São Lucas da PUC-RS

Baixo estoque de insumos – Assim como as demais instituições de saúde, o Hospital São Lucas da PUC-RS enfrenta baixos estoques dos insumos de intubação, principalmente em relação a bloqueadores e sedativos, alguns já nos limites de escassez. O monitoramento dos insumos e demais recursos imprescindíveis à assistência dos pacientes, ocorrem diariamente, com reuniões do comitê de crise envolvendo as equipes da linha de frente, suprimentos, compras e demais áreas de apoio”.

Situação preocupante – “O alto consumo dos insumos nos preocupa. Diariamente são realizados estudos técnicos de análise de viabilidade das substituições de protocolos clínicos que, uma vez de acordo com a criticidade do quadro dos pacientes, são aplicadas para manejar os estoques e garantir, ao mesmo tempo, a eficácia do atendimento”.

“Preços abusivos” – A instituição ainda enfrenta a cobrança de preços abusivos do mercado para a aquisição dos insumos, com média de aumento de 372% no mês de março em relação a dezembro de 2020. No ano passado, em comparação com 2019, os aumentos superaram 3.000%. Além desta questão, as lideranças seguem observando um quadro de intensa exaustão nas equipes, debilitadas física e mentalmente pela pressão da chegada ininterrupta de pacientes”.

 Hospital Virvi Ramos, de Caxias do Sul

De acordo com o Hospital Virvi Ramos, de Caxias do Sul, a duração do estoque dos medicamentos pertencentes ao kit intubação varia de 4 a 25 dias.

A instituição observa que, atualmente, o aumento dos medicamentos do Kit Intubação varia de 25% a 1.560%.

Caso o estoque esteja baixo, a estratégia da instituição é a substituição dos medicamentos de acordo com a disponibilidade de estoque.

Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves

“Desde o início da pandemia, o hospital manteve um gerenciamento rigoroso dos seus estoques, antecipando possíveis necessidades. Atualizações de cenário são repassadas periodicamente pelas equipes responsáveis e em nenhum momento foi apontada qualquer dificuldade de abastecimento tanto de materiais quanto de medicamentos em curto prazo”.

FEHOSUL convoca reunião

O presidente da FEHOSUL, Cláudio Allgayer, convocou uma reunião para esta sexta-feira (19) com hospitais associados para tratar deste problema e de outros que estão afetando a prestação de serviços aos pacientes do IPE Saúde, da saúde suplementar e do SUS.

“O aumento abusivo de preços é uma realidade que vem atingindo fortemente as instituições. Esta situação tem gerado sérios problemas de caixa para os hospitais. Estamos trabalhando em várias frentes para tentar equalizar e manter os atendimentos da melhor forma. Mas a situação dos hospitais é dramática. Faltam profissionais e leitos. A tríade do colapso pode se completar com a iminente falta de insumos”, disse Allgayer.

 



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