Garantir excelência na experiência do paciente exige escuta ativa e ações após a alta hospitalar
Em evento da FEHOSUL, Seméia Corral, Rodrigo Pires e Tiago Almeida Ramos discutem processos, desempenho, valor em saúde e IA.
A FEHOSULrealizou na tarde da última sexta-feira (5), na AMRIGS, mais uma edição do Seminários de Gestão. Na abertura do evento foram discutidos os temas “REDESENHANDO O CUIDADO EM SAÚDE: CIÊNCIA DA MELHORIA, VALOR E EXPERIÊNCIA DO PACIENTE” com Seméia Corral (Corral & Associados Consultora em Saúde) e O PAPEL DA IA GENERATIVA NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE, com a participação do Dr. Rodrigo Pires dos Santos (Médico Infectologista do HCPAe Fundador da Qualis Infectologia). A mediação ficou por conta do Dr. Tiago Almeida Ramos (Diretor Médico do Hospital Mãe de Deus). O portal Setor Saúde apresenta a quarta e última matéria do evento. Acompanhe.
Corral falou sobre a importância do evento e destacou que a responsabilidade do hospital vai além da internação, estendendo-se ao acompanhamento pós-alta para garantir que o paciente retorne à sua rotina com qualidade. “Primeiramente, sobre este evento, ele trouxe questões de qualidade, segurança, inovação, processos… é sempre bom discutir com pessoas que estão fomentando esta mesma ideia de busca da melhoraria da experiência do paciente”, pontuou Corral.
Corral destacou que a responsabilidade do hospital vai além da internação, estendendo-se ao acompanhamento pós-alta para garantir que o paciente retorne à sua vida com qualidade. “A questão da continuidade de cuidado do paciente é importantíssima. Enquanto ele está em nossas instituições, é preciso estabelecer os processos de uma forma que a gente garanta o melhor cuidado e o melhor desfecho, mas a nossa responsabilidade não termina quando o paciente vai embora. E a gente não deve olhar só para aqueles indicadores duros, os que tradicionalmente a gente acompanha para determinar a qualidade do tratamento.”
“Devemos olhar sobre o ponto de vista do paciente e isso está relacionado ao longo prazo. Quando ele tiver alta do hospital, devemos acompanhar se realmente ele voltou para a sua vida com qualidade ou se o tratamento trouxe sintomas que precisam ser ajustados. A partir daí, entra a equipe multidisciplinar coordenada sempre pelo médico para ajustar e tomar as medidas terapêuticas necessárias. Precisamos ter um follow-up para entender aquilo que o paciente sente após a internação, ou seja, suas expectativas foram atendidas?”
“O nosso dever é promover um redesenho da saúde, utilizando a ciência da melhoria para poder mudar e melhorar os processos, incentivar o valor em saúde e a experiência do paciente”, defendeu Corral.
Pacientes não têm acesso a informações sobre quem entrega o melhor desempenho e resultados
Mesmo com inúmeras certificações de qualidade e listas dos “melhores hospitais”, o Brasil ainda carece de publicações que de fato apresentem os prestadores de serviços de saúde com os melhores desempenhos. Corral falou sobre como ultrapassar esse desconhecimento e como empoderar o paciente neste sentido. “Acredito que o caminho é a transparência nos dados. Os hospitais realmente apresentarem os seus resultados publicamente para que o paciente tenha acesso a esses indicadores e possa escolher tanto o hospital quanto o melhor médico para ele. Nos Estados Unidos é assim. Lá a pessoa quando escolhe um infectologista, olhar qual o desempenho dele. Aqui no Brasil não acontece isto. As pessoas em grande parte escolhem porque alguém indicou, fica próximo da sua casa ou porque é uma instituição que tem mármore na sua fachada e cada vez mais, porque é um médico que agora é influencer digital e tem muitos seguidores. Infelizmente a gente não escolhe por medidas de qualidade, nem por indicadores. Os sistemas de saúde da Inglaterra, o NHS, muitos países da Europa e nos Estados Unidos; os hospitais são remunerados conforme o seu desempenho. Aqui é conforme o volume. É isso o que a gente precisa mudar. Esse é o redesenho que a gente precisa mudar.”
Em sua palestra, Corral detalhou este tema com profundidade elencando aspectos como desempenho e remuneração. Leia trecho da sua apresentação: “Ao introduzir um sistema de pagamento baseado no desempenho, vinculado a medidas de experiência relatadas pelo paciente, se declara que o que realmente importa, não é só a quantidade de cuidados prestados, mas sim, como foram prestados e como a pessoa que os recebeu se sentiu – A experiência vivida”, aprofundou a especialista da Corral & Associados Consultora em Saúde e da Rede D´Or de Ensino.
Processos e a IA
O Dr. Rodrigo Pires (Médico Infectologista do HCPA e Fundador da Qualis Infectologia) também defendeu uma mudança de paradigma e pontuou aspectos fundamentais relacionados à inteligência artificial. Para Pires, a IA deve ser vista como uma ferramenta que auxilia e aprimora os processos existentes, não o contrário. “Eu acho que dentro do que a Seméia colocou, a gente tem que olhar para os nossos processos e como a inteligência artificial vai poder nos ajudar. E não o contrário. Ou seja, usar a inteligência artificial e tentar construir um processo talvez não funcione na minha instituição.”
“É necessário olhar o que essas novas ferramentas, as novas tecnologias, podem acrescentar a um modelo que eu estou utilizando. O que eu quero com esse processo? Eu quero reduzir o número de óbitos? Para isto, devemos identificar mais pacientes com determinada condição para agir com predição. É preciso também saber olhar para os dados”, completou.
“Adicionalmente, tem todas as questões estruturais, de infraestrutura, de tecnologia. Como o meu parque tecnológico está apto e preparado para receber uma tecnologia nova? O que eu vou necessitar de estrutura, de computador para que essa solução funcione?”, indagou Pires.
“É preciso entender também que as soluções de inteligência artificial precisam ser retreinadas com uma certa periodicidade. E o treinamento normalmente não é espontâneo. Eu tenho que pegar dados e submeter essa inteligência a um novo treinamento para ela aprender, tanto do ponto de vista da evolução tecnológica como mudança do perfil dos pacientes, novos protocolos, etc. Sempre que eu pretendo utilizar uma tecnologia dessas, eu tenho que prever a manutenção”, alertou o Médico Infectologista do HCPA e Fundador da Qualis Infectologia.
“A manutenção não é só ajustes, é melhorias e continuidade. Por exemplo, em um determinado momento um hospital criou uma unidade nova. Só que os dados não estavam preparados. E a instituição hospitalar recebia inputs de um banco de dados antigo. Então, eu não estava vendo aquela unidade como uma entrada no meu modelo de inteligência. Na assistência, os parâmetros mudam de tempos em tempos. Antes o normal era 20 miligramas por decilitro, hoje virou 02. A minha inteligência está preparada para identificar o errado, o 20? As ferramentas têm que andar junto com os processos já estabelecidos dentro do hospital”, explicou Pires.
Para o Dr. Tiago Almeida Ramos (Diretor Médico do Hospital Mãe de Deus). o evento da FEHOSUL é fundamental para unir ideias que possam gerar mudanças. “Um grande mérito da FEHOSUL é colocar aqui no mesmo auditório palestrantes e ouvintes de diferentes cenários, tanto público como privado, com visões diferentes e complementares. É importante, pois a gente tem no Hospital de Clínicas a academia, o ensino, e a gente tem a parte privada, o viés privado. É complementar e um ganho para todos. Então acho que a iniciativa de ter um fórum onde todos possam comentar, conversar, explicar e crescer juntos é muito importante.”
“Hoje aqui tocamos em dois pontos nevrálgicos. Todo hospital busca eficiência, qualidade de entrega e cuidado centrado no paciente, não é mesmo? E nada melhor e óbvio do que ouvir o paciente para entregar um cuidado qualificado, o que realmente importa pra ele. Não deve ser o que a gente acha que importa para ele. Esse é um erro comum em que a gente pode cair”, comentou Ramos.
“Uma coisa que me preocupa muito como Diretor Médico do Hospital Mãe de Deus é isso. Como eu consigo oferecer as ferramentas necessárias para tirar a demanda de trabalho administrativo do médico para que ele possa se concentrar no que realmente ele tem a maior capacidade de fazer, que é o atendimento humanizado ao paciente?”
“Eu li recentemente uma literatura a respeito de inteligência artificial, escrita por quem teme a substituição do médico. Mas a verdade é que aquele artigo, nas entrelinhas, falava o contrário. Ao apontar que a IA tiraria a atribuição do médico, afastando-o do paciente, o artigo se esqueceu de que o prontuário, que é burocrático, rouba tempo. Ou seja, o tempo gasto em tarefas mais administrativas vai diminuir com a IA. A verdade é que o médico poderá ter mais tempo para fazer o que é realmente o destinado a ele, aquilo que é o mais vital em sua profissão. A missão dele é ouvir e tocar o paciente. Ele terá mais tempo e fará o juízo crítico da informação que ele vai colher por meio da inteligência artificial”, finalizou o Diretor Médico do Hospital Mãe de Deus.
Impressão sobre o evento
Renato Pompeu (Consultor Técnico de Oncologia da Astellas Farma Brasil) esteve presente ao evento e destacou a importância de uma abordagem holística e centrada no paciente na saúde. “A FEHOSUL trouxe discussões importantes sobre gestão em saúde e a jornada centrada no paciente. Os temas discutidos aqui são muito importantes. Nós trabalhamos com a produção de medicamentos de ponta e estamos sempre muito atentos a poder contribuir com esse diálogo e esse olhar para o paciente, ouvir as necessidades do paciente. A discussão tem tudo a ver com a nossa atuação, o paciente é o foco, é a razão da Astellas. Como a Seméia ressaltou, muitas vezes se pensa que o contato do paciente ao médico ou ao hospital é o final da jornada, mas não. E a Astellas sempre esteve muito atenta também à questão do acesso às medicações e na boa adesão ao tratamento. Atuamos em áreas muitas vezes esquecidas, como medicamentos inovadores para doenças raras e para doenças oncológicas. Parabenizamos a FEHOSUL pela sua sensibilidade em escolher temas tão importantes”, finalizou.
Próxima edição do Seminários de Gestão
A próxima edição dos Seminários de Gestão está agendada para junho de 2026. Em breve, a FEHOSUL divulgará mais informações.