Gestão e Qualidade | 22 de abril de 2018

Falência da GEAP Saúde está “muito próxima” confirma diretor da operadora

Em áudio polêmico, Roberto Sérgio Fontenele diz que faltam 130 milhões de reais e que a autogestão pode fechar até junho
Falência da GEAP Saúde está “muito próxima” confirma diretor da operadora

Em áudio publicado pelo portal Correio Braziliense, o novo diretor executivo da Geap Saúde, Roberto Sérgio Fontenele Candido, afirmou que a instituição de autogestão – que administra atualmente cerca de 456 mil vidas – está muito perto da falência. A declaração ocorreu em cerimônia de posse de gerentes da filial do Distrito Federal realizada recentemente.

A Geap é a segunda operadora de auto gestão em número de vidas (beneficiários) no Brasil, ficando atrás da Caixa de Assistência do Banco do Brasil, que possui mais de 686 mil vidas. Fundada em 1945, a GEAP Saúde atende servidores públicos federais ativos, aposentados e familiares.

“Estou preocupado em realizar alguma coisa para tentar salvar a Geap. Qual é a situação? Estamos com direção fiscal [uma forma de intervenção imposta pela agência reguladora dos planos de saúde] e, se no dia 30 de junho, daqui a dois meses, não colocarmos R$ 130 milhões no caixa da Geap, ela entrará em direção técnica e, imediatamente, entrará em liquidação judicial pela ANS”, afirmou o dirigente da operadora. Ele garante que ninguém quer isso, nem o governo. Mas a situação é dramática. “Tem muita gente apostando que vamos encontrar uma solução. Eu já disse para alguns interlocutores: não faço milagres, não fabrico dinheiro”, frisou enfaticamente Roberto Sérgio.

A Direção Fiscal a que se refere, foi iniciada em dezembro de 2017, conforme informado na ocasião pelo portal Setor Saúde. Na oportunidade, o presidente da Federação dos Hospitais do RS (FEHOSUL), Cláudio Allgayer, alertou para os problemas de gestão da operadora que poderiam se refletir em atrasos de pagamentos aos prestadores de serviços de saúde, como hospitais, clínicas e serviços de medicina diagnóstica.

Hospitais e foco na regional do Distrito Federal

No áudio, o diretor da Geap informa que vem recebendo ligações de hospitais querendo voltar a prestar serviços para os beneficiários dos planos da empresa. “O principal regional [unidade da Geap] que eu vou me dedicar e me debruçar bastante é a daqui [Distrito Federal]. Por que? Primeiro porque eu sou de Brasília. Não aguento mais receber ligações de todos os donos de hospitais daqui. Santa Lúcia, quer voltar com a gente. Hospital D´Or, quer voltar com a gente”, acrescentando que “eles sabem que eu sou muito duro na negociação”.

“Hospital rouba, mas rouba muito” e “médico rouba muito”

Logo em seguida chamou atenção a sua declaração a respeito de hospitais e de profissionais médicos. “Se quiser trabalhar com a gente, tem que trabalhar sem roubo. Hospital também rouba. Mas rouba muito. Médico, rouba muito. Se tem aqui algum médico, é médico nosso, não rouba”, levando os ouvintes às gargalhadas.

Na sequência, pediu apoio aos mesmos: “vocês estarão apoiando o emprego de vocês”.

O presidente da FEHOSUL e vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), entidade que representa hospitais de todo o Brasil, disse que “mesmo que a declaração tenha sido feita num ambiente fechado, as irresponsáveis generalizações demonstram uma atitude preconceituosa e altamente reprovável em relação aos dois segmentos que são parceiros da Geap, o hospitalar e o médico. Ambos são os responsáveis efetivos pelos serviços que ela ´vende´. Sua finalidade não existe sem os serviços destes dois segmentos, que atendem a totalidade dos beneficiários da operadora” pontuou Allgayer. O presidente da FEHOSUL também acrescentou que prefere acreditar que foi uma estratégia do novo diretor para angariar junto aos colaboradores o apoio que veio pedir logo em seguida. “Simplificar os graves problemas estruturais e gerenciais que a Geap atravessa, constitui uma estratégia ‘populista’, de micro abrangência, que serve apenas para o público interno. Por outro lado, cria internamente uma visão errada e desrespeitosa que não é sadia, nem ajudará a entidade a sair do ‘atoleiro’ em que se meteu”, finaliza Allgayer.

“Pegando fogo”

“É uma empresa que está pegando fogo. Não vamos mentir. Sou um cara transparente, vocês me conhecem. Nunca vi uma empresa com tantos problemas, mas não é culpa de vocês. É culpa de gestões anteriores”, enfatiza. Ele vai além: “Tenho 15 anos de mercado e nunca vi nada parecido com o que estou vendo na diretoria executiva. É uma pena”, são algumas das afirmações polêmicas do diretor executivo da operadora.

“Geap só gasta”

O executivo ressalta ainda que, se não houver uma solução rápida nos próximos 60 dias, todos da Geap Saúde perderão os empregos. “Não sobrará nenhum [emprego] porque não fizeram o que deveria ter sido feito. A Geap só gasta, gasta, gasta. Contrata, contrata, contrata”, diz. Ele acrescenta que a empresa está perdendo uma média de 5 mil clientes por mês. “Eu já conheci a Geap com 900 mil pessoas. Hoje, tem 450 mil associados que estão absolutamente à deriva. Dá vontade de parar e de chorar”, frisa.

Fontenele foi gerente do plano de saúde da Caixa Econômica Federal por 15 anos. Ele afirma que, para administrar planos de saúde é preciso seriedade, honestidade e respeito às pessoas que pagam as mensalidades para serem atendidas. “E tudo isso é o que não encontrei na diretoria executiva da Geap”, garante.

FEHOSUL e CNS

A FEHOSUL solicita aos prestadores de serviços de saúde da rede credenciada da GEAP Saúde que entrem em contato com a entidade patronal de representação dos prestadores de serviços institucionais de saúde. “ Estamos acionando a nossa entidade nacional em Brasília [CNS], para exigir a ‘transparência’ que o novo diretor garantiu que teria. Não admitiremos atrasos de pagamentos, glosas injustificadas ou práticas abusivas contra o segmento”, defende Allgayer.

No RS, a GEAP Saúde possui cerca de 16 mil beneficiários, ocupando a 9ª colocação entre as empresas de auto-gestão em saúde no Estado.

Ouça o áudio completo aqui.

 

Com informações Correio Braziliense, Sala de Situação ANS e FEHOSUL. Edição Setor Saúde.

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