Tecnologia e Inovação | 11 de junho de 2014

Exoesqueleto de alta tecnologia será lançado na abertura da Copa do Mundo

Régis Kopper, diretor da Universidade de Duke explica como foi possível fazer um paraplégico caminhar
Exoesqueleto de alta tecnologia será lançado na abertura da Copa do Mundo

Um grande passo tecnológico feito pela medicina fará a abertura da Copa do Mundo no Brasil, no dia 12 de junho. O pontapé inicial da partida será dado por um brasileiro paraplégico. Graças ao projeto Walk Again (caminhar de novo, em tradução livre), ele estará vestindo um exoesqueleto que o permitirá andar.

O feito só será possível graças ao trabalho do neurocientista paulistano Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke (EUA), que comanda uma equipe de cerca de cem cientistas norte-americanos, europeus e brasileiros no projeto, desenvolvido em parceria entre a universidade norte-americana Duke e instituições da Suíça, da Alemanha e do Brasil.

Entre os brasileiros envolvidos está Régis Kopper, gaúcho de Porto Alegre, ‎Diretor da Duke immersive Virtual Environment (DiVE), responsável pelo desenvolvimento do sistema de treinamento dos pacientes utilizando a realidade virtual, que possibilita o controle dos comandos cerebrais que movimentam o exoesqueleto. “Essa é uma parte essencial, tanto para o sistema aprender a identificar as ondas cerebrais do paciente, como para o paciente aprender a modular os comandos para que tenham consistência para ser identificado pelo sistema”, explicou, em entrevista ao portal Setor Saúde.

O exoesqueleto é uma estrutura que envolve o membro paralisado do usuário – no caso do paraplégico, as pernas – e se movimenta a partir de comandos dados pelo próprio cérebro da pessoa. Ele será apresentado ao mundo antes do jogo entre Brasil e Croácia, em São Paulo. “A equipe tem trabalhado incansavelmente para que o projeto seja demonstrado em um evento tão importante e visível”, destacou.

Régis Kopper revelou que “em linhas gerais, o sistema opera com uma combinação de comandos cerebrais e neuromotores e estímulos táteis. O sistema é para locomoção e obedece a mesma lógica que usamos para caminhar. Quando caminhamos, não estamos constantemente pensando em cada passo que daremos. Ao contrário, pensamos no objetivo, seja ele iniciar o movimento, parar o movimento, virar, chutar, etc. O sistema utiliza, assim, uma combinação de comandos cerebrais com movimentos autônomos do exoesqueleto. Outra parte muito importante do projeto é o estímulo tátil. Quando caminhamos, estamos sempre avaliando o que chamamos de feedback loop, que é um ciclo de controle e estímulo que nos possibilita caminhar e não cair”.

O especialista explicou, ainda, que em pessoas com movimentos irrestritos, tanto o controle como o estímulo se dão nos membros inferiores. As pernas se movem e a pessoa sente o pé pisando no chão, do calcanhar aos dedos. “Como paraplégicos não tem sensação tátil nos membros inferiores, a equipe do projeto desenvolveu a chamada pele artificial, que é um conjunto de sensores que capta a pressão de cada passo. Essa pressão, então, é transformada em estímulo tátil que é transferido para o paciente nos antebraços, através de ondas vibratórias. Com o treinamento e a prática, os pacientes passam a incorporar o conjunto comando nas pernas-estímulo nos braços como um único conjunto e passam a sentir os pés pisarem no chão. Isso é importantíssimo para que o equilíbrio seja mantido”, conclui.

O projeto Walk Again ainda está no início. Recentemente, o neurocientista Miguel Nicolelis publicou o primeiro vídeo do exoesqueleto (veja aqui), mas sem pacientes “vestindo” o equipamento. A grande estreia será na Copa do Mundo, quinta, dia 12.

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