Mundo | 30 de junho de 2016

EUA aprovam primeiro medicamento para todos os 6 genótipos relacionados a hepatite C

Epclusa, da Gilead, é o pangenótipo que serve para todas as variantes da doença
epclusa

O órgão regulador de saúde norte-americano (FDA) aprovou, no dia 28 de junho, o Epclusa, um fármaco da Gilead Sciences que se torna o primeiro tratamento disponível para as seis principais formas de hepatite C (pangenótipo). Além de combater todas as estirpes da doença, o medicamento tem um custo abaixo dos tratamentos tradicionais.

A nova droga combina uma medicação mais antiga (Sovaldi) com uma mais recente (velpatasvir), e custa US$ 74.760 para um tratamento de 12 semanas (sem contar quaisquer descontos por ventura oferecidos). Isso é menos do que os preços de tabela para um outro tratamento da Gilead hepatite C, que combina as drogas Sovaldi e Harvoni.

Desde que o Sovaldi foi lançado, no início de 2014, a Gilead tem recebido críticas pelo alto preço do medicamento. Na época, a medicação tinha um preço de US$ 84 mil, sem descontos, para 12 semanas de tratamento, ou cerca de US$ 1 mil por dia. Isso fez com que os pagadores, públicos e privados, temessem que a droga se tornasse um grande gasto nos orçamentos.

Como analisa o portal Stat, “isso porque o medicamento pode curar mais de 90% dos pacientes, o que levou a um surto de receitas, e também porque a Gilead inicialmente não tinha concorrência. A preocupação em relação a preços foi ampliada quando a Gilead liberou o Harvoni a um preço de US$ 94.600 por 12 semanas de tratamento, e alguns pagadores responderam restringindo a cobertura a pacientes cuja doença estava em um estágio avançado”.

Uma investigação do Senado dos EUA feita em 2015 concluiu que a empresa lucrou demasiadamente em cima dos pacientes, o que levou a procuradoria-geral de Massachusetts ameaçar a Gilead com uma ação judicial em relação ao preço praticado.

Em sua defesa, a empresa argumentou que seus tratamentos são mais acessíveis do que pagar por transplante de fígado, tratamento para câncer e hospitalizações. Não está claro, até que ponto a mais nova droga vai elevar a preocupação dos governos, seguradoras e operadoras. “O Epclusa vai custar cerca de metade do valor do tratamento mais comumente utilizado para pacientes com genótipo 3 da doença”, diz o artigo da Stat.

O analista da Leerink (banco de investimento dos EUA especializado na área da saúde), Geoffrey Porges, considera que esse genótipo é “o mais difícil de tratar e uma das razões pela qual o Epclusa foi concedido com prioridade pela FDA”. O especialista prevê que as vendas globais de Epclusa ficarão em torno de US$ 1,8 bilhões neste ano e US$ 10,3 bilhões em 2017″.

Enquanto isso, o padrão mais comum de atendimento é um tratamento de combinação que inclui Sovaldi e Daklinza (da Bristol-Myers Squibb). “O componente da Bristol tem um preço de tabela de US$ 63 mil, o que sugere que o custo deste tratamento mais antigo pode colocar a Bristol em desvantagem competitiva”.

“A maioria dos casos de hepatite C, cerca de 70%, ocorrem entre pessoas com o genótipo mais prevalente”, o genótipo 1, afirmou Michael Sherman, diretor médico da Harvard Pilgrim Health Care, o segundo maior plano de saúde na região de New England. “Ter mais opções é uma coisa boa e não acho que isso vá levar a um aumento dos custos”.

Enquanto isso, um porta-voz da Express Scripts (empresa de assistência médica norte-americana sediada em St. Louis), tem criticado a Gilead pelo preço. “Eles têm sido sensíveis às discussões ao longo dos últimos anos e têm incluído os debates sobre contenção em torno dos valores deste novo medicamento. Vamos continuar a negociar com a Gilead em relação ao preço líquido”.

A segurança e a eficácia do tratamento foi avaliada durante um período de 12 semanas em três estudos, que incluíram 1.558 pessoas com ou sem cirrose, de acordo com a FDA. Com a aprovação, a Gilead espera um impulso nas vendas. “Embora o Sovaldi e o Harvoni tenham gerado vendas combinadas de mais de US$ 19 bilhões no ano passado, um aumento de 54% a partir de 2014, as vendas caíram mais de 5% no primeiro trimestre de 2016. Isto foi explicado, em parte, pelo aumento na concorrência. A Abbvie começou a vender um comprimido no final de 2014 e, no início deste ano, a Merck também lançou uma pílula a um preço muito mais em conta”, revela o Stat.

A Initiative for Medicines, Access, & Knowledge (I-MAK), uma equipe de advogados e cientistas que defende o aumento do acesso a medicamentos econômicos, criticou a postura da farmacêutica. Um dos colaboradores (e fundador), o advogado Tahir Amin, diz que o preço cobrado para o novo medicamento é ultrajante. “Gilead ainda não percebeu isso. Mais uma vez, a Gilead tem mostrado que está mais preocupada em proteger os seus lucros ao invés de fazer com que seus medicamentos estejam disponíveis para todos os consumidores”, alertou.

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