Estatísticas e Análises, Tecnologia e Inovação | 26 de julho de 2020

Estudo confirma que dexametasona apresenta benefícios em quadros graves de Covid-19

Por outro lado, o seu uso aumenta riscos em pacientes com quadro leve da doença
Estudo confirma que dexametasona apresenta benefícios em quadros graves de Covid-19

A dexametasona pode reduzir o risco de morte em pacientes em estado grave com o novo coronavírus (Covid-19), de acordo com um estudo publicado no periódico The New England Journal of Medicine (NEJM). Os resultados apontam que o medicamento, um esteroide de baixo custo, apresenta melhora em casos mais graves. Entretanto, os dados coletados também apontam que o uso da dexametasona pode agravar o quadro em pacientes que apresentam estados leves da doença.

Os primeiros resultados em relação ao medicamento já haviam sido divulgados em junho, por pesquisadores do Reino Unido, que relataram que a dexametasona pode reduzir em um terço o risco de morte em pacientes em estado grave. Na ocasião o dr. Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, disse que a descoberta representava um “dia histórico no tratamento da COVID-19!…é o primeiro tratamento farmacológico para COVID-19 que mostrou impacto em reduzir a mortalidade! Finalmente temos uma ‘boa nova’!” Agora, novas evidências reforçam os benefícios do medicamento para combater a Covid-19.

Novos resultados

Os novos resultados publicados no NEJM reforçam o que já havia sido anunciado. A dexametasona teve um benefício mensurável para os pacientes com Covid-19 que precisaram de suporte respiratório. Entretanto, não foi apresentado benefício, e até mostrou risco de agravamento, em pacientes que não estavam em estado grave.

O estudo dividiu dois grupos: cerca de 2.100 pessoas hospitalizadas confirmadas ou suspeitas com Covid-19 foram designadas a receber um tratamento de 10 dias com dexametasona, além do tratamento padrão; outro grupo, com cerca de 4.300 pacientes, recebeu apenas o tratamento padrão.

Cerca de 16% dos pacientes (entre os dois grupos) estavam recebendo ventilação mecânica, 60% estavam recebendo apenas oxigênio e 24% não estavam recebendo nenhum suporte respiratório.

Após 28 dias, 482 pacientes que tomaram dexametasona haviam morrido, em comparação com cerca de 1.110 dos pacientes que não tomaram. Isso significa que cerca de 23% dos pacientes tratados com dexametasona morreram, em comparação com cerca de 26% dos outros pacientes.

Isso pode não parecer uma diferença significativa, mas os pesquisadores encontraram um benefício considerável para os pacientes em condições mais graves: entre aqueles que necessitavam de ventilação mecânica, cerca de 30% dos pacientes tratados com dexametasona vieram a óbito, em comparação com 41% do grupo que não foi tratado com o medicamento. Um benefício menor, mas ainda significativo, também foi observado nos pacientes que receberam oxigênio sem ventilação invasiva.

Em contraponto, agravamento em casos leves

A dexametasona não ofereceu benefício para pacientes que não precisavam de suporte respiratório. De fato, entre os pacientes com esses casos mais leves, aqueles que tomavam dexametasona eram realmente mais propensos a morrer – cerca de 18% deles morreram, em comparação com 14% daqueles que receberam apenas o tratamento padrão.


Logicamente, o medicamento anti-inflamatório parecia funcionar melhor em pacientes com mais inflamação. Pacientes que sofreram sintomas por pelo menos uma semana – e, portanto, provavelmente desenvolveram algum dano inflamatório nos pulmões – pareciam se sair melhor com o esteroide do que pacientes com sintomas mais recentes, que podem não ter sofrido muita inflamação.

“É provável que o efeito benéfico dos glicocorticoides [como a dexametasona] em infecções respiratórias virais graves dependa da seleção da dose certa, no momento e no paciente correto”, escrevem os pesquisadores no jornal. “Doses altas podem ser mais prejudiciais do que úteis, assim como o tratamento dado no momento em que a replicação viral é primordial e a inflamação é mínima”, complementam.


Embora a publicação do artigo seja um passo encorajador, a pesquisa preliminar ainda deve ser validada e replicada por outros pesquisadores. Os pesquisadores também observaram que, como pretendiam divulgar resultados o mais rápido possível para atender à demanda por novas terapias, eles não coletaram alguns dados sobre resultados secundários e de longo prazo.



Hidroxicloroquina não apresenta benefícios, conclui estudo com pesquisadores brasileiros

Em outro estudo publicado na NEJM – o maior estudo brasileiro publicado até agora sobre hidroxicloroquina para Covid-19 -, pesquisadores concluíram que a hidroxicloroquina não teve eficácia no tratamento de pacientes leves e moderados com diagnóstico de Covid-19, indicando ainda que o uso do medicamento pode aumentar o risco de arritmia cardíaca e lesão hepática. A pesquisa foi publicada na quinta-feira (23).

O estudo Coalizão I foi realizado pela Coalizão COVID-19, que ainda conduz outros oito estudos sobre o tema, incluindo um sobre a mesma droga no tratamento de casos ambulatoriais, ou seja, em casos mais leves da Covid-19. O grupo é formado por Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital do Coração (HCor), Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

O Instituto Tacchini de Pesquisa em Saúde (ITPS) também fez parte do Coalizão I. No total, foram analisados 665 pacientes em 55 centros de saúde de todo país. Com 18 casos incluídos, o Hospital Tacchini ficou entre as 12 instituições que mais contribuíram para o estudo. Os pacientes foram divididos em três grupos: 217 receberam uma combinação de hidroxicloroquina e azitromicina; 221 apenas hidroxicloroquina e outros 227 permaneceram com o suporte clínico padrão. Após 15 dias, não foi constatada qualquer melhora no estado clínico dos pacientes que receberam o medicamento em comparação aos do grupo de controle, que receberam tratamento padrão.


“A pesquisa foi realizada seguindo padrões metodológicos rigorosos, e sem dúvidas é um achado importante em nível mundial no cenário de COVID”, descreve a gerente do ITPS, dra. Juliana Giacomazzi.  Ela ainda ressalta que o ITPS ainda participa de outros estudos envolvendo o mesmo medicamento, também idealizados pelo Coalizão COVID Brasil.  É o caso do Coalizão V, que está avaliando o uso de hidroxicloroquina em pacientes ambulatoriais e já tem quase 500 pessoas incluídas no Brasil, 27 apenas em Bento Gonçalves.

“Há, também, outros estudos nacionais e internacionais sendo realizados no ITPS utilizando outras medicações promissoras como corticóides, anticoagulantes, imunomoduladores e antivirais, sendo realizados em parceria com a Rede Coalizão COVID Brasil e com grandes laboratórios farmacêuticos”, finaliza.


Com informações do The New England Journal of Medicine, Time e Tacchini. Edição do Setor Saúde.



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