Mundo | 16 de junho de 2020

Pesquisadores Oxford dizem que o dexametasona reduz mortes em pacientes graves de Covid-19

Sociedade Brasileira de Infectologia classifica notícia como "dia histórico"
Estudo de Oxford demonstra que o dexametasona tem grande potencial de reduzir mortes em pacientes graves e Covid-19

Um medicamento barato e amplamente disponível pode ajudar a salvar a vida de pacientes gravemente doentes pelo coronavírus (Covid-19). O tratamento com esteroides em baixa dose do medicamento dexametasona é um grande avanço na luta contra o vírus, dizem especialistas do Reino Unido. O medicamento reduziu o risco de morte em pacientes que precisaram utilizar ventiladores/respiradores ou oxigênio.

Para o dr.  Clóvis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, a descoberta é um “dia histórico no tratamento da COVID-19!…é o primeiro tratamento farmacológico para COVID-19 que mostrou impacto em reduzir a mortalidade! Finalmente temos uma ‘boa nova’!”

Recovery

A droga faz parte do RECOVERY, o maior estudo mundial que vem testando tratamentos já existentes para verificar se eles funcionam para o coronavírus. Além do dexametasona, o estudo está avaliando o lopinavir, hidroxicloroquina, azitromicina, tocilizumab e o plasma convalescente.


Segundo o estudo, o dexametasona reduziu o risco de morte em 1/3 dos pacientes que precisaram utilizar ventiladores/respiradores. Para quem necessitou oxigênio, reduziu as mortes em 1/5.


Amplitude

Em termos gerais, cerca de 19 dos 20 pacientes com coronavírus se recuperam sem precisar de hospitalização. Dos que são hospitalizados, a maioria se recupera, mas alguns podem precisar de oxigênio ou ventilação mecânica. São os pacientes de alto risco – como diabéticos, com doenças cardiológicas e pulmonares – que a dexametasona promete ajudar.

O medicamento já é usado para reduzir a inflamação em outras condições de saúde. Segundo o estudo, o seu uso ajudará a estancar danos que podem acontecer quando o sistema imunológico do corpo entra em ação, enquanto tenta combater o coronavírus: a chamada tempestade de citocinas, que pode ser potencialmente mortal.

Pesquisa

Na pesquisa liderada pela equipe da Universidade de Oxford, cerca de 2 mil pacientes hospitalizados receberam o dexametasona. Os resultados foram comparados com mais de 4 mil que utilizaram outros tipos de intervenção. Para os pacientes que estão utilizando respiradores, o uso do do dexametasona reduziu o risco de morte de 40% para 28%. Para pacientes que precisaram de oxigênio, o risco de morte caiu de 25% para 20%.


O investigador chefe do estudo, Peter Horby, disse: “Este é o único medicamento até agora demonstrado que reduziu a mortalidade – e a reduz significativamente. É um grande avanço”.

O pesquisador principal, Martin Landray, disse que as descobertas sugerem que uma vida pode ser salva a cada oito pacientes em um ventilador e a cada 20/25 tratados com oxigênio. “Há um benefício claro em ambos os grupos”, disse ele.


Os pesquisadores da Oxford estimam que se o medicamento tivesse sido usado para tratar pacientes no Reino Unido desde o início da pandemia, até 5 mil vidas poderiam ter sido salvas. E poderia ser de grande benefício nos países mais pobres, com um grande número de pacientes de Covid-19.

O governo do Reino Unido possui em estoque 200 mil tratamentos com dexametasona. O sistema de saúde do Reino Unido, o NHS (similar ao Ministério da Saúde no Brasil), informou que passará a disponibilizar o medicamento para seus pacientes mais graves.

Tratamento e custo

“O tratamento com dexametasona  dura até 10 dias de e custa cerca de 5 libras esterlinas (R$ 32,46 na conversão do dia 16) por paciente. Um caixa do medicamento no Brasil custa cerca de R$ 8 no varejo. “Então, basicamente, custa 35 libras para salvar uma vida. Este é um medicamento que está disponível globalmente”, completa Landray. Quando apropriado, os pacientes hospitalares devem receber o medicamento imediatamente, defende o professor Landray.


Conclusão prática

Na nota assinada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns destacada: “que todo paciente com COVID-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora da UTI devem receber dexametasona via oral ou endovenosa 6mg 1x/dia por 10 dias. Medicação barata e de acesso universal.” 


Indicado pacientes hospitalizados

As pessoas não devem sair para comprar o dexametasona para utilizar em casa, alertam os pesquisadores. O medicamento não indicou, neste estudo, ter ajudado pessoas com sintomas mais leves do coronavírus – que não precisam de ajuda com a respiração. Os resultados do estudo ainda não foram publicados em uma revista especializada para serem avaliados por pares (escrutínio de outros pesquisadores). Além disso, alguns médicos pediram cautela sobre os resultados.

A dexametasona é usada desde o início dos anos 60 para tratar uma ampla gama de condições, como artrite reumatoide e asma.

Metade de todos os pacientes da Covid que precisam de ventilador não sobrevive, portanto, reduzir esse risco em um terço tem um enorme impacto.

O medicamento é administrado por via intravenosa em terapia intensiva e em comprimidos para pacientes menos graves.

Dexametasona x Remdesivir

O remdesivir demonstrou ter ajudado a reduzir a duração dos sintomas do coronavírus de 15 dias para 11. Ao contrário da dexametasona, o remdesivir é um medicamento novo e pouco utilizado. A sua fabricante Gilead vem apresentando limitada capacidade de produção em larga escala. Além disso, o preço do remdesivir ainda não foi anunciado pela Gilead.



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