Tecnologia e Inovação | 8 de março de 2017

Em Fortaleza, médicos estão testando a pele da tilápia para tratar queimaduras

O tratamento reduz o tempo de cura em muitos dias, além de diminuir a dor
Em Fortaleza, médicos estão testando a pele da tilápia para tratar queimaduras1

A inovação surgiu da necessidade. A pele da tilápia, um peixe extremamente comum no Brasil, era, até agora, considerada algo descartável. E, ao contrário dos tratamentos convencionais disponíveis no país, essa “bandagem” não precisa ser constantemente trocada como no caso das ataduras tradicionais, processo que muitas vezes é extremamente doloroso.

A pele animal é usada há tempos nos países desenvolvidos para o tratamento de queimaduras. Falta no Brasil, porém, alternativas como pele humana, de porco ou até a opção artificial, que são amplamente disponíveis nos Estados Unidos. Além disso, os únicos três bancos de pele no país respondem a apenas 1% da demanda nacional, como afirma o Dr. Edmar Maciel, cirurgião plástico e especialista em queimaduras do Instituto José Frota – em Fortaleza – e profissional que lidera os testes clínicos com a pele de tilápia. Os bancos de tecidos ficam nas cidades de Porto Alegre, São Paulo e Recife. No caso que envolveu a Boate Kiss, muitos pacientes utilizaram doações de outros paises como a Argentina, referência em gerenciamento do processo de busca e doação de peles.

Como resultado dessa escassez, os pacientes do SUS geralmente são tratados com gaze e creme de sulfadiazina de prata. Essa pomada serve apenas para evitar que a queimadura infeccione, afirma a Dra. Jeanne Lee, diretora interina no Centro Regional de Queimadura na Universidade da Califórnia em San Diego. “Mas isso não ajuda em termos de cura”, completa Lee.

A PESQUISA

O primeiro passo na pesquisa foi analisar a pele do peixe. “Nós tivemos uma grande surpresa quando vimos a quantidade de proteínas de colágeno tipo 1 e 3, que são muito importantes para cicatrização, existentes em larga porções na pele de tilápia, até mais do que em outras peles animais e na humana”, explica o Dr. Maciel. “Outra descoberta foi o tanto de tensão, de resistência que o material possui, sendo bem maior do que o encontrado na derme humana. Também observamos bastante umidade”.

Em pessoas com queimaduras de segundo grau superficiais, os médicos aplicam a pele e a deixam até que o paciente cicatrize naturalmente. Para as queimaduras mais profundas, os curativos de tilápia devem ser trocados algumas vezes durante semanas, mas ainda sim com bem menos frequência do que as ataduras tradicionais. O tratamento com o peixe também reduz o tempo de cura em muitos dias, além de diminuir a dor, afirma o Dr. Maciel.

Em Fortaleza, médicos estão testando a pele da tilápia para tratar queimaduras

As primeiras amostras de pele de tilápia foram preparadas e estudadas por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC). Técnicos utilizaram vários agentes esterilizantes e, depois, enviaram as peles para sofrerem um processo de radiação em São Paulo com o objetivo de matar vírus, isso antes de embalar e refrigerar as amostras. Depois de limpas, essas peles podem durar até dois anos.

Veja a implementação da pesquisa aqui.

No Brasil, junto com os testes clínicos, pesquisadores estão atualmente conduzindo estudos histológicos que comparam a composição das peles humanas, da tilápia, do porco e do sapo. Eles também estão estudando comparativamente os custos do tratamento com a pele do peixe e o tradicional. Se esses testes continuarem mostrando sucesso, os médicos esperam que alguma empresa processe as peles em escala industrial e as venda para o SUS.

 

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