Doença hematológica pode ser alerta para insuficiência renal
Edição de julho do Grand Round, colocou em debate uma descoberta feita pelo médico brasileiro Fernando Fervenza, nefrologista na Mayo Clinic.
A evolução da medicina, em uma projeção de futuro, será a possibilidade de trabalhar mais com a prevenção do que com a doença. Cada nova evidência que abre uma janela de diagnóstico precoce é algo que deve ser difundido – não só entre a população, mas também entre os médicos. A edição de julho do Grand Round do Hospital Moinhos de Vento, ocorrido na última quarta-feira (12), colocou em debate uma descoberta feita pelo médico brasileiro Fernando Fervenza, nefrologista na Mayo Clinic – organização sem fins lucrativos da área de serviços médicos e de pesquisas médicas de Rochester, em Minnesota, nos Estados Unidos.
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A gamopatia monoclonal de significado indeterminado (MGUS) é uma disfunção da medula óssea — tecido responsável pela produção das células sanguíneas – e, até então, era considerada benigna. No entanto, o nefrologista Fernando Fervenza descobriu que, quando alocada no rim, a MGUS poderia evoluir com perda progressiva da função renal. Para descrever esses casos previamente diagnosticados, cunhou o termo gamopatia monoclonal de significância renal (MGRS), que provoca sobrecarga do órgão, causando evolução grave para doença renal crônica terminal e a necessidade de hemodiálise.
Por ser silenciosa, o diagnóstico depende de algo sutil: o olhar atento dos médicos clínicos, nefrologistas e hematologistas na leitura de exames rotineiros, como explica o supervisor da residência médica em Nefrologia do Hospital Moinhos de Vento, Renato George Eick. “Esse achado dos nefrologistas da Mayo Clinic trouxe novas diretrizes de tratamento e de diagnóstico”, explicou.
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De acordo com Fervenza, os primeiros relatos da doença foram em 2009. A partir de uma análise, verificou-se melhora nos tratamentos a partir do uso de medicamentos específicos, como o daratumumabe – utilizado para tratar distúrbios hematológicos –, que teve efeito na progressão do MGRS para doença renal crônica terminal. “Na faixa etária acima dos 50 anos, cerca de 5% da população apresenta MGUS, e somente um percentual destes pacientes desenvolverá a doença renal que caracteriza a MGRS”, enfatizou a médica hematologista e hemoterapeuta Erica Marquardt Lammerhirt Otton.
Por isso, alterações hematológicas, como das imunoglobulinas, são importantes sinais de alerta, de acordo com a médica hematologista e hemoterapeuta. “A variação dessa célula pode ter desdobramentos graves, como câncer. Como descrito por Fervenza, a produção excessiva de anticorpos desnecessários pode afetar outros órgãos, como o rim e o coração”, descreve.