Gestão e Qualidade | 10 de maio de 2022

Como o Hospital Mãe de Deus aperfeiçoou processos e aumentou o número de internações através do Command Center

Engajar é o principal desafio na hora de promover melhorias, assegura o Líder do Centro de Comando Operacional, dr. Marcius Prestes
Como o Hospital Mãe de Deus aperfeiçoou processos e aumentou o número de internações através do Command Center

CBEXs Chapter Sul iniciou a programação de eventos de 2022 no último dia 9 (segunda-feira), com a palestra “Command Center: A jornada da Eficiência Hospitalar”. O speaker foi o Dr. Marcius Prestes, Líder do Centro de Comando Operacional do Hospital Mãe de Deus. O evento foi realizado em formato híbrido, no Auditório do Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre e com transmissão pela internet. A abertura e o debate foram conduzidos pelo vice-presidente do CBEXs Sul, administrador Robson Morales. O portal Setor Saúde acompanhou a atividade, confira os destaques do encontro.

Prestes falou sobre o programa de Acesso e Fluxo implementado no Hospital, que conseguiu entregar maior agilidade na jornada do paciente, como a diminuição do tempo de espera para conseguir um leito. Ele apresentou ainda como o Command Center da instituição nasceu e apresentou recursos tecnológicos que estão sendo desenvolvidos com o intuito de seguir melhorando o nível da eficiência hospitalar. A importância do engajamento para o sucesso da iniciativa e os próximos passos, como a expansão dos métodos aplicados no Mãe de Deus aos hospitais que integram a rede de saúde da AESC, mantenedora da instituição, também foram destaques da sua exposição.

Abertura

Na abertura, o vice-presidente do CBEXs destacou que o objetivo do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde é promover a troca de experiências e congregar os executivos que atuam no setor. “O nosso propósito é ser o ponto de encontro e de conexão dos executivos da saúde. Hoje, o CBEXs já tem seis anos de atuação, mais de 1.100 associados, mais de 150 eventos anuais e estamos presentes em cinco regiões do Brasil. ” Robson Morales anunciou que, a partir do encontro no Hospital Mãe de Deus, inicia-se a programação de eventos do CBEXs do Rio Grande do Sul, que serão realizados sempre dentro de hospitais gaúchos, mostrando as melhores práticas de gestão e cases de sucesso.

robson morales cbexs

Eficiência hospitalar e o Command Center do Hospital Mãe de Deus

O Dr. Marcius Prestes, destacou que a acolhida faz parte da identidade do Hospital Mãe de Deus. “O pilar forte da nossa instituição é a acolhida. O Mãe me acolheu e me ajudou a me tornar um executivo. Então, representar o Mãe aqui hoje, é uma alegria muito grande para mim”, iniciou.

Prestes salientou que os custos em saúde estão subindo progressivamente, o que demanda uma atenção especial para a aplicação da ciência de melhoria dos processos hospitalares, visando uma melhor eficiência. “Se não intervirmos neste crescimento, para reorganizarmos o equilíbrio financeiro, invariavelmente o sistema vai ruir. ” Para o Líder do Centro de Comando Operacional do Hospital Mãe de Deus, o foco na diminuição das filas é um dos caminhos que podem ser utilizados pelas organizações de saúde para atacar a ineficiência.

Segundo Prestes, sistemas de saúde que possuem 85% de taxa de ocupação costumam ser mais ineficientes. “Era o caso do Mãe de Deus. Em 2015 tínhamos uma taxa de ocupação de aproximadamente 85%, com tempo médio de permanência de 7 dias. ” Com este cenário, há maior tendência de gerar filas de espera por leitos. Em alguns casos, pacientes poderiam esperar até 28 horas para conseguir um leito, destacou Prestes. “Isto gerava uma experiência ruim na jornada do paciente. Então, o nosso trabalho foi começar a entender este mecanismo. ”

Conforme o executivo, existe na jornada do paciente dentro de um hospital, inúmeras chances de ocorrer ineficiências. “Se não existir um processo integrado que enxergue todas as etapas da jornada, possibilitando que o hospital intervenha, você vai invariavelmente acabar investindo sempre na ineficiência”, explicou.

Caminhos para a eficiência 

Prestes diz que o início do programa de Acesso e Fluxo ocorreu primeiramente com um grupo pequeno, para testes e ajustes. Após este processo inicial, o modelo foi expandido para as demais outras equipes.

Foi criada uma atividade chamada “Round da Alvorada”, onde as lideranças médicas se reuniam com outras lideranças que integram os processos assistenciais. “Chamamos todos numa mesma sala para falarem sobre os problemas, todos os dias, nascendo assim o que chamamos de Round da Alvorada, que na literatura Lean, são os hubbles. As pessoas começaram a falar sobre o que tranca o dia a dia do paciente e discutem como resolvê-lo. Junto com isso, nós começamos a dar transparência de dados com o uso da tecnologia, nos primórdios do nosso Command Center. Todo o mapa de leitos começou a estar disponível para toda a operação, através do BI [business intelligence].” Todos os setores conseguiram visualizar e identificar onde a jornada deveria receber uma intervenção, reforçou Prestes.

“Porém, somente isto não resolveria. Avançamos para a segunda fase, que chamamos de Fluxo 2.0: Criar Valor”, disse. Foi implementado o time de fluxo, com uma equipe de três enfermeiras, escolhidas por terem o perfil de trabalhar voltadas para o acolhimento e o engajamento. Elas são as responsáveis por transitar por toda a jornada, resolvendo os gargalos entre as áreas, em prol da melhoria contínua. Adicionalmente, a instituição começou a trabalhar com novos dashboards, menos estáticos e mais dinâmicos.

marcius prestes hospital mae de deus

Alguns resultados já começaram a aparecer, como a queda no tempo de permanência na internação, na sala de recuperação, na emergência e no tempo de espera por leitos. “Ao atingir níveis melhores de eficiência, o número de pessoas que dormem na emergência esperando um leito começa a diminuir. Começamos a beneficiar mais pessoas dentro do nosso sistema. ”

Engajamento: um dos principais desafios

Para Prestes, um dos principais desafios para os executivos de saúde é o engajamento das equipes. O Command Center é apenas o meio para se buscar a informação. O mais importante é fazer as equipes entenderem o valor destas informações e que é possível buscar as metas estipuladas, discutindo e implementando os ciclos de melhoria.

“Ter 85% de ocupação é o mesmo que não ter leito. O que precisávamos? Que os médicos dessem as altas hospitalares previstas para o dia o mais cedo possível, para poder fazer o sistema rodar.” Para buscar este cenário, três indicadores foram definidos como metas, alinhadas com as equipes médicas gerenciadas:

Alta médica antes das 11 horas (para acelerar o processo de desocupação de leitos para novos pacientes);


Prescrição médica principal antes das 11 horas (buscando melhorar a rotina de visita médica, o processo de dispensação de medicamentos e uso de recursos dos exames);


Tempo médio de permanência hospitalar (desospitalização dos pacientes no tempo correto, algo cientificamente associado à maior qualidade e segurança).

O engajamento, segundo Prestes, é um trabalho hercúleo, mas que deve ser constante. O apoio da alta direção é essencial neste processo. Ao longo dos meses, o corpo clínico foi conseguindo diminuir o horário da alta. Atualmente, a maioria dos médicos conseguem dar alta aos pacientes entre 9h e 10h da manhã. “Com estas medidas diminuímos em um dia o tempo de permanência, aumentando bastante a eficiência do sistema. Podemos dizer que construímos, sem gastar dinheiro, somente melhorando processos, mais ou menos 50 leitos dentro da nossa instituição”, completou.

hospital mae de deus command center

Mudança de chave

O Hospital Mãe de Deus quis ir além. Ao delimitar como meta atender 80% dos pacientes da emergência em até 15 minutos, a instituição começou a montar o esboço da sua Sala de Comando (Command Center). Um profissional fica na sala de comando controlando o dashboard da emergência e ao identificar que um paciente segue esperando na fila, aciona a equipe para que o gestor possa intervir e iniciar a correção. “Isto ajuda muito o executivo, pois ele pode ir lá na ponta resolver o problema que a equipe está enfrentando. ”

O número de internações, ano após ano, foi crescendo. “Mostramos que investir em processos, em melhoria da jornada do paciente nas filas, faz o hospital crescer. ”

O próximo passo, denominado “Fluxo 3.0: Visão Institucional”, levou o modelo para outras áreas do hospital. Foi criado uma matriz de indicadores para buscar eficiência de forma sistêmica. “Começamos a enxergar a eficiência hospitalar como um todo. ”Através de um índice global, a instituição consegue identificar se está, de fato, melhorando a eficiência. O índice é resultado da média ponderada de todos os indicadores.

Command Center A jornada da eficiência hospitala

“O programa de Acesso e Fluxo virou uma política institucional. Seguimos investindo no Command Center, para que ganhe um escopo ainda mais forte.”

Prestes diz que a área assistencial também tem ações específicas. Ele cita a adoção do Robô Laura (inteligência artificial que alerta quais pacientes internados têm mais riscos de piora do quadro de saúde), como uma das medidas que têm contribuído para o alcance de resultados melhores.

Inovação

O Mãe de Deus também está investindo no desenvolvimento de ferramentas próprias, como uma solução para a gestão de leitos. Com o uso da inteligência artificial, há três projetos em andamento, igualmente nascidos na instituição: Robôs preditores de recuperação pós-operatório em CTI de pacientes em cirurgias; de horário de recuperação de pacientes em cirurgias eletivas; e de internação de pacientes em pronto atendimento.

marcius prestes hospital mae de deus command center

Visão Corporativa

O “Fluxo 4.0: Visão Corporativa” está levando os métodos e tecnologias aplicadas no Hospital Mãe de Deus aos outros hospitais mantidos pela mantenedora AESC (Associação Educadora São Carlos), nas cidades de Capão da Canoa e Torres, no litoral do Rio Grande do Sul.

Visão de futuro

O “Fluxo 5.0: Visão de Negócio” é focado em soluções para medir e controlar a eficiência, antes mesmo de o paciente chegar ao hospital. “Para o futuro, queremos trazer a visão do Command Center e do programa Fluxo e Acesso para enxergar o paciente antes de ele chegar ao hospital. Ou seja, também estamos preocupados com a jornada enquanto ele está se deslocando a partir de uma transferência para cá, buscaremos melhorar ainda mais este processo. Este é o futuro que queremos chegar”, finaliza Prestes.

Ao final do evento, Prestes concedeu entrevista exclusiva ao portal Setor Saúde. Ele falou sobre a importância do engajamento para o sucesso do Command Center e como ele entende que deve ser a preparação de um profissional para atuar como executivo da saúde. Confira:

Promoção e parceiros

O evento foi promovido pelo Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (CBEXs) Chapter Sul, com os apoios de Hospital Mãe de Deus, Fasaúde (Grupo IAHCS), Conselho Regional de Administração do RS (CRA/RS) e Sociedade Médica de Administração em Saúde do RS (SOMAS) filiada à AMRIGS.

Assista o evento completo




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