Estatísticas e Análises, Gestão e Qualidade | 3 de fevereiro de 2022

Atrasos e interrupções no tratamento dificultam o controle do câncer no Brasil

“Identificar o câncer em seus estágios iniciais pode ser decisivo para o sucesso do tratamento, mas só isso não basta – também é preciso iniciar a terapia o quanto antes”, enfatiza o Dr. Paulo Hoff
Atrasos e interrupções no tratamento dificultam controle do câncer no país

Nesta sexta-feira, 4 de fevereiro, diversas organizações no Brasil e no mundo chamam a atenção para o Dia Mundial do Câncer – data criada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) e Organização Mundial da Saúde (OMS) para conscientizar a população sobre a doença. Caracterizado pelo crescimento desordenado de células anormais, que podem invadir e destruir tecidos e órgãos do corpo, o câncer afetou mais de 600 mil pessoas no Brasil em 2021, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Apesar dos avanços da medicina nos últimos anos, a melhor forma de combater o câncer ainda é por meio do diagnóstico precoce e do início imediato do tratamento. Em estágio inicial, muitos tipos de câncer podem ser controlados e mesmo eliminados por meio de procedimentos como cirurgia para remoção da parte afetada, quimioterapia e radioterapia. Já a doença em sua forma avançada e metastática só pode ser combatida com medicamentos e outras tecnologias, cujos custos podem ser altíssimos.

“Identificar o câncer em seus estágios iniciais pode ser decisivo para o sucesso do tratamento, mas só isso não basta – também é preciso iniciar a terapia o quanto antes, quando a doença muitas vezes pode ser controlada por meio de abordagens de custo muito mais reduzido”, enfatiza o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Paulo Hoff. “Levar isso em consideração é fundamental para cuidar do paciente e também da sustentabilidade dos sistemas de saúde”, acrescenta.

Para aumentar o rastreamento do câncer e combatê-la de antemão, ainda há muitos desafios a serem superados no Brasil. “Hoje, trabalhamos com um modelo de atendimento muito focado em especialidades e não em atenção básica de saúde. A maioria dos pacientes descobre o câncer ao ir a consultas de rotina, como durante a ida anual ao ginecologista”, comenta Dr. Paulo Hoff. “Com a intensificação e o refinamento de um modelo de atenção básica de saúde, com médicos que atuam por uma abordagem mais generalista, como o da família, por exemplo, seria possível identificar precocemente a doença. É preciso mais investimento em prevenção e diagnóstico – e atenção ao tempo de espera pelo início do tratamento”, defende o especialista.

Barreiras

Além da questão do diagnóstico precoce e tratamento imediato, no Brasil, tanto o sistema de saúde público quanto o privado enfrentam outros desafios e entraves. Um dos principais deles é em relação ao abastecimento de medicamentos no SUS. Diversos tratamentos têm passado por longos períodos de interrupção da entrega pelo Ministério da Saúde, como é o caso do anticorpo monoclonal usado em pacientes com câncer de mama HER2 positivo. Outras moléculas encontram-se na mesma situação, o que preocupa secretarias de saúde, médicos e pacientes.

Um estudo publicado em 2020 no The British Medical Journal demonstrou que, a cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte aumenta em até 13%. “Esses atrasos e interrupções nos tratamentos têm grande impacto no sucesso do controle do câncer, dificultado profundamente a vida dos pacientes. A SBOC pede ao governo federal que se esforce em manter o cronograma de entregas de medicamentos aos brasileiros em todo o território nacional”, defende Dr. Paulo Hoff.

A incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde também é um ponto de alerta para oncologistas e pacientes de todo o país. Isso porque, além das dificuldades enfrentadas para que os órgãos reguladores incorporem novos medicamentos contra o câncer, mesmo após incorporados muitos deles não são devidamente ofertados à população. No SUS há pelo menos sete tratamentos já incorporados que seguem indisponíveis para o paciente oncológico. Dois deles, contra tipos diferentes do câncer de pulmão, estão há sete anos sem serem adequadamente financiados. Tratamentos incorporados recentemente parecem seguir o mesmo caminho, como a imunoterapia contra melanoma avançado, prestes a completar um ano desde a publicação da portaria que obriga sua cobertura na rede pública.

“A preocupação em relação ao tratamento do câncer é extremamente significativa, pois se trata da segunda doença que mais causa mortes no país. Vale ressaltar que o tratamento do câncer não pode esperar”, avalia o presidente da SBOC.


A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) é a entidade nacional que representa mais de 2,5 mil especialistas em oncologia clínica distribuídos pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Fundada em 1981, a SBOC tem como objetivo fortalecer a prática médica da oncologia clínica no Brasil, de modo a contribuir afirmativamente para a saúde da população brasileira. É presidida pelo médico oncologista Dr. Paulo Hoff.


 



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