Gestão e Qualidade, Tecnologia e Inovação | 7 de fevereiro de 2018

A revolução na saúde está chegando

Artigo analisa mudanças que trarão mais autonomia aos pacientes, com a chegada da era denominada DOCTOR YOU
A revolução na saúde está chegando

Não é à toa que “eles” são chamados historicamente de “pacientes” – no sentido de sereno, conformado. Mas o cenário atual da saúde, com uma série de insatisfações relatadas pelos pacientes (como exames intermináveis, aumento de custos, jargões incompreensíveis e principalmente longas esperas) irá trazer mudanças, com a era do “Doctor You”, em que o paciente terá mais protagonismo e poder de decisão, tendo maior contato aos dados e decisões médicas. É o que diz a coluna Líderes da edição impressa do The Economist, sob a o nome “Doctor You”, que analisa este novo cenário.

Para sinalizar as mudanças, o texto cita o anúncio recente feito recentemente pelas três das maiores empresas dos Estados Unidos – Amazon, Berkshire Hathaway e JPMorgan Chase -, de um novo empreendimento para oferecer cuidados de saúde melhores e mais baratos para seus funcionários. As empresas realizaram um acordo para criar uma empresa para melhorar os cuidados com a saúde dos seus quase um milhão de funcionários nos Estados Unidos. O anúncio foi feito dia 30 de janeiro. A iniciativa é uma resposta aos altos custos de planos de saúde no mercado norte-americano, e demonstram as grandes alterações que estão por vir. Operadoras de planos de saúde consolidadas, como a United Health Group – dona da Amil no Brasil – CIGNA, AETNA e outras, correm risco de perder milhares de clientes no competitivo mercado americano da saúde.

“ Um problema fundamental com o sistema atual é que os pacientes não têm conhecimento e controle”. A internet, porém, já permite que os pacientes busquem consultas on-line quando e para o que desejarem. “O paciente pode fazer exames de sangue, sequenciar seu genoma e verificar a bactéria em seu intestino”, exemplifica. E eles, cada vez mais, querem ser donos deste conhecimento para monitorar a condição de sua saúde.

Porém, o artigo alerta que estas mudanças radicais exigem uma mudança de ênfase, por parte dos hospitais, pacientes e de médicos. E estas modificações estão acontecendo aos poucos. Um exemplo são tecnologias presentes no smartphone, que permitem que as pessoas monitorem sua própria saúde. “As possibilidades se multiplicam quando se adiciona os principais ingredientes: acesso dos pacientes aos seus próprios registros médicos e a facilidade de compartilhar informações com profissionais de sua confiança. Isso permite que o paciente reduza as ineficiências em seu próprio tratamento e também forneça dados para ajudar a treinar algoritmos médicos”. Esta troca de informações, entre hospitais, pacientes e médicos facilitada pela tecnologia trazem novas demandas, novas respostas e atitudes por parte dos players da saúde.

O “médico” mais interessado é você

O artigo enfatiza que o fluxo de informações de dados médicos ao alcance dos pacientes “irá trazer muitos frutos”. O primeiro grande benefício é um melhor diagnóstico. “Alguém preocupado com seu coração agora pode comprar uma pulseira que contenha um monitor que detecte arritmias. Os aplicativos estão tentando diagnosticar tudo, desde câncer de pele e concussão cerebral até a doença de Parkinson. Há pesquisa em andamento para ver se o suor pode ser analisado para biomarcadores moleculares sem a necessidade de um exame de sangue invasivo. Alguns pensam que as mudanças na rapidez com que uma pessoa desliza a tela sensível ao toque do telefone podem sinalizar o início de problemas cognitivos”, explica o artigo.

Outro benefício diz respeito à gestão de doenças complexas. Um exemplo são os aplicativos de diabetes, que podem mudar a forma como os pacientes lidam, monitorando os níveis de glicose no sangue e ingestão de alimentos, potencialmente reduzindo os danos a longo prazo, como cegueira e gangrena. O artigo cita também o exemplo da startup Akili Interactive, que busca aprovação regulatória para um videogame projetado para estimular uma área do cérebro envolvida no transtorno de hiperatividade com déficit de atenção.

Os pacientes também podem melhorar a eficiência

Embora os registros de saúde sejam cada vez mais eletrônicos, muitos contêm dados que os equipamentos não conseguem ler com precisão. Isso pode levar a atrasos no tratamento, por exemplo. “Muitas das 250 mil mortes nos EUA atribuídas a erros médicos a cada ano podem ser atribuídas a cuidados mal coordenados. Com os dados ao alcance de suas mãos, padrões comuns para permitir o compartilhamento e um forte incentivo para corrigir as coisas, os pacientes são mais propensos a detectar erros”, diz o texto.

Outro benefício é a geração e agregação de dados. A Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês) já está sendo treinada por uma unidade da Alphabet, empresa-mãe do Google, para identificar os tecidos cancerosos e os danos da retina. “No futuro, as AIs, por exemplo, fornecerão diagnósticos médicos automatizados a partir de uma descrição de seus sintomas, irão traçar características comportamentais que sugerem quando o paciente está deprimido ou identifica se está em risco especial de doença cardíaca. A agregação de dados também tornará mais fácil para o paciente encontrar outras pessoas com doenças semelhantes e para ver como estas responderam a vários tratamentos”.

Os riscos

O texto analisa os possíveis riscos que poderão surgir com o processo de transferir aos pacientes maior acesso aos dados médicos. “ Nem todo mundo quer tomar o controle ativo de seus próprios cuidados de saúde, muitos querem que os profissionais administrem tudo”, sinaliza. Porém, o artigo recomenda que os dados podem ser analisados por aqueles que estão interessados, enquanto os que não estão podem optar por compartilhar dados automaticamente com provedores confiáveis.

Outro risco que poderá surgir é pelo fato de os benefícios das novas tecnologias geralmente estarem à disposição apenas dos mais ricos, por causa dos custos. “Esses temores são atenuados pelos incentivos que os empregadores, os governos e as seguradoras têm para investir em cuidados preventivos econômicos para todos.

Alphabet lançou recentemente uma empresa chamada Cityblock Health, por exemplo, que planeja rastrear os dados dos pacientes para oferecer melhores cuidados aos moradores das cidades de baixa renda, muitos deles abrangidos pelo Medicaid, programa de seguro de saúde para os americanos mais pobres.

Segurança de dados

O texto ainda alerta para riscos que são mais difíceis de lidar, como a segurança (quase um quarto de todas as violações de dados nos Estados Unidos ocorrem nos cuidados de saúde). “As empresas de saúde devem enfrentar penalidades rigorosas se ocorrer falha na segurança, mas é ingênuo esperar que as violações nunca aconteçam”, enfatiza o texto.

Porém, esta nova era traz mais benefícios do que riscos. O texto cita o exemplo da Suécia, que pretende dar a todos os cidadãos o acesso eletrônico aos seus registros médicos até 2020 – mais de um terço dos suecos já estabeleceram contas. “Estudos mostram que os pacientes com tal acesso têm uma melhor compreensão de suas doenças e que seu tratamento é mais bem-sucedido em função disto. Os resultados destes estudos – nos EUA e no Canadá – produziram não apenas pacientes mais satisfeitos, mas custos mais baixos, já que os clínicos apresentaram menos consultas. Isso não deve ser uma surpresa. Ninguém tem maior interesse em sua saúde do que você. Confie no Doctor You”, finaliza o artigo.

Outra mudança, não destacada no texto, mas que foi tema de matéria do portal Setor Saúde nos últimos dias, é união de hospitais, também nos EUA, para enfrentar a escassez de medicamentos e o monopólio da indústria farmacêutica, que encarecem os custos na saúde. Este novo mercado demonstra que hospitais podem produzir medicamentos, operadoras operar hospitais, e grandes empresas se unirem para criar suas soluções de saúde. Ou seja, o mercado se movimenta para enfrentar ineficiências, pensando em atender um paciente mais participativo e uma sociedade que enfrenta as questões pouco lógicas que ocorrem no mercado.

FEHOSUL falará sobre a Saúde do Futuro em março

Abordando estes e outros temas, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL), a Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS) e o SINDIHOSPA abordarão na próxima edição do Seminários de Gestão – TENDÊNCIAS E INOVAÇÕES EM SAÚDE, o Hospital do Futuro. “ Vamos discutir estas questões que impactam o novo cenário da saúde. Especialistas apresentarão a verve desruptiva, que afeta hospitais, clínicas, diagnóstico, tecnologias e terapêutica, que todo CEO e demais executivos e profissionais da saúde devem estar atentos”, destacou Cláudio Allgayer, presidente da FEHOSUL. O evento ocorre em Porto Alegre, no dia 9 de março, no Centro de Eventos do Hotel Continental.

 Artigo originalmente publicado na revista The Economist. Edição do Setor Saúde.

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