Gestão e Qualidade, Mundo | 22 de janeiro de 2018

Hospitais se unem para criar empresa de medicamentos genéricos nos EUA

Preço alto e escassez de medicamentos são os principais motivos da iniciativa
Hospitais se unem para criar empresa de medicamentos genéricos nos EUA

Irritados pelo aumento dos preços e pela persistente falta de medicamentos genéricos, quatro dos maiores grupos hospitalares dos Estados Unidos estão formando um novo fabricante sem fins lucrativos, com o objetivo de criar produtos farmacêuticos mais acessíveis para os pacientes do que os atualmente disponíveis no mercado.

Os quatro grupos são: Intermountain Healthcare, Ascension, SSM Health e Trinity Health. As instituições estão trabalhando com órgãos como o Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA para criar uma iniciativa que garanta a fabricação de medicamentos genéricos essenciais, diretamente ou por meio de subcontratos. Adicionalmente, pretendem pressionar o mercado para que oferta e demanda tenham um equilibrio mais justo, tanto para os hospitais como para a população em geral.

A nova empresa a ser constituída planeja produzir e/ou negociar diretamente com outras empresas e assim combater “práticas de preços injustas, que prejudicam o mercado genérico de medicamentos e os consumidores”, de acordo com declaração dos quatro grupos hospitalares – que juntos administram mais de 300 hospitais.

“É um plano ambicioso e os sistemas de saúde estão hoje na melhor posição para corrigir os problemas no mercado de medicamentos genéricos. Estamos confiantes de que podemos melhorar a situação para nossos pacientes, trazendo uma concorrência extremamente necessária para o mercado “, disse o Dr. Marc Harrison, diretor-executivo e presidente da Intermountain Healthcare, que lidera a iniciativa.

“A melhor maneira de controlar o aumento do custo dos cuidados de saúde nos EUA é criar condições para que os pagadores, os provedores e as empresas farmacêuticas trabalhem juntos e compartilhem a responsabilidade para tornar os cuidados acessíveis”, afirmou Laura Kaiser, presidente e diretora-executiva da SSM Health, em comunicado. “Iniciativas como essa promoverão a nossa capacidade de proteger os pacientes contra a falta de medicamentos e os aumentos de preços que limitam o acesso aos cuidados que precisam”, reforçou.

Não foram divulgados detalhes específicos, como as áreas terapêuticas que serão direcionadas ou o montante de capitalização na fase inicial. Porém, a empresa planeja produzir comprimidos, patches (adesivos) e medicamentos injetáveis estéreis para hospitais em todo o país, incluindo o sistema administrado pelo Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA, que atua como parceiro. As operações devem começar no início do próximo ano, de acordo com Harrison.

As despesas com medicamentos de varejo representaram cerca de 12% do gasto total em saúde nos EUA em 2015, em comparação com cerca de 7% até a década de 1990, de acordo com um relatório recente do Escritório de Responsabilidade do Governo dos EUA (GAO, na sigla em inglês). E as margens de lucro das empresas farmacêuticas também aumentaram, em média, 17,1% entre 2006 e 2015, segundo o relatório.

De acordo com o GAO, espera-se que as despesas com medicamentos cresçam 8% em 2018, principalmente alimentadas pelo uso de medicamentos caros, embora algumas empresas farmacêuticas também tenham aumentado os preços das drogas genéricas.

O Dr. Walid Gellad, do Centro de Política Farmacêutica e Prescrição da Universidade de Pittsburgh, avaliou as mudanças que estão por vir. “A questão-chave para o sucesso e a sustentabilidade será como os fabricantes de genéricos e os grandes grupos de comércio responderão, e também como outros grupos de hospitais poderão se posicionar. É um mundo novo. As seguradoras se tornam hospitais. E os hospitais tornam-se igualmente fabricantes do ramo farmacêutico. Em algum momento, os fabricantes se tornarão seguradoras e provedores”, prevê.

O movimento considerado sem precedentes é uma resposta a um período prolongado de aumento dos preços de alguns genéricos, bem como a escassez de um grande número desses medicamentos, que tradicionalmente foram vistos como alternativas de menor custo para medicamentos de marca. Algo que não vem sendo confirmado.

Em alguns casos, as empresas farmacêuticas abandonaram um determinado mercado devido a baixas margens de lucro ou problemas de produção. Em resposta, os grupos hospitalares claramente planejam desafiar a indústria farmacêutica – de grandes a pequenos.

Atuando como “tubarões”, muitas destas empresas desviaram o interesse que deveria ser a de anteder as pessoas, mesmo que para isto fosse necessário um esforço maior em termos de gestão e controle do fluxo financeiro. Em movimentos que se tornaram prática disseminada no mercado norte-americano, se concentraram naqueles produtos com maior retorno comercialmente. De certa forma, manipularam o mercado e aumentaram os valores cobrados sem qualquer preocupação com os pacientes e as fontes pagadoras.

 

Com informações dos portais Statnews e Modern Healthcare. Edição do Setor Saúde.

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