Tecnologia e Inovação | 5 de abril de 2017

A lacuna entre o ponto de atendimento e a vida cotidiana

Informações acerca da vida do paciente podem reduzir a ineficiência e o desperdício
A lacuna entre o ponto de atendimento e a vida cotidiana

Os dados utilizados para tomar decisões críticas de cuidados de saúde vêm do ponto de atendimento – quando um paciente está no consultório médico ou no hospital. Embora essas informações sejam valiosas, ela desenha um quadro incompleto, uma vez que os dados sobre onde e como os pacientes vivem, comem, trabalham e gastam seu tempo livre fornecem uma visão ainda mais clara do seu estado de saúde atual, bem como indicam quais condições ou doenças eles são suscetíveis de desenvolver durante a vida. Para isso, especialistas, pesquisadores e empresários da área da saúde estão investindo em tecnologia e novas soluções para lidar com dados e informações a fim de melhorar o tratamento e o atendimento ao paciente.

O aproveitamento desses dados transformará os cuidados de saúde, permitindo que os profissionais médicos se concentrem nos procedimentos de maior impacto, ao mesmo tempo em que permitem que as máquinas executem a maior parte dos diagnósticos e tratamentos da medicina.

Ineficiências podem levar a duplicação de serviços, qualidade de atendimento precária, custos altos e fraude, para não mencionar o que foi descrito como uma “epidemia” de esgotamento médico, conhecido como burnout. Somente nos EUA, estima-se que mais de 1/3 dos 3,2 trilhões de dólares gastos com cuidados de saúde é desperdício.

Vida cotidiana 

“Como obter um quadro completo de dados sociais, comportamentais e ecológicos na vida cotidiana dos pacientes – todas as coisas para as quais estamos essencialmente cegas?”, indagou A.G. Breitenstein, diretor de produtos da Optum Analytics, em entrevista para a Sloan Healthcare and Bioinnovations Conference – conferência promovida pelo MIT (Estados Unidos) que reúne líderes da indústria, acadêmicos e políticos para discutir as questões mais prementes e inovações interessantes no setor de saúde.

“No final do dia, com exceção do ofício de cirurgia, todo o resto é dados e algoritmos, mas somos deficientes na aplicação de algoritmos na medicina”, afirmou Breitenstein. Mas conforme o especialista “há oportunidades de tirar esse trabalho do pessoal clínico”, completou.

Parceria para reduzir a ineficiência e o desperdício

Milhares de empresas pretendem abordar estas questões através do uso de ferramentas digitais de saúde. Estas empresas vão desde a Optum, companhia matriz da Optum Analytics e uma subsidiária do UnitedHealth Group (Amil, no Brasiluma seguradora que cobre 70 milhões de americanos, até a Rendever Health, uma startup baseada no MIT, que usa a realidade virtual para melhorar a vida dos idosos em casas de assistência, e que ganhou o prêmio de 25 mil dólares oferecidos pela organização da conferência.

Optum Ventures, lançada no ano passado, ajuda a encontrar e financiar novas empresas que buscam inovações que atendam às necessidades da base de clientes da Optum. Larry Renfro, CEO da Optum, disse que esta estratégia de investimento – similarmente prosseguida pelos braços de capital de risco de empresas de cuidados de saúde que vão desde Takeda à Blue Cross and Blue Shield Association – é sobre “tentar ser 500 speedboats, não o Queen Mary“, afirmou Renfro, referindo-se ao grande navio da atualidade.

Abrindo a “caixa preta” de dados sobre cuidados de saúde

Planos de saúde, hospitais e outras grandes organizações de saúde muitas vezes lutam para inovar. As equipes de executivos, que enxergam a saúde digital como uma forma de gerar vantagem competitiva, ainda são “poucas e distantes entre si”, disse Sukanya Soderland, sócia da divisão de saúde e ciências da vida da consultoria global Oliver Wyman. “Nenhuma pessoa promoveu de fato, algo para impulsionar esta iniciativa.”

Para discutir com os líderes de cuidados de saúde sobre os benefícios do produto e da aderência do público à medicação de sua empresa, Adam Hanina, CEO da AiCure – empresa que desenvolve e implementa tecnologias de inteligência artificial clinicamente validadas para otimizar o comportamento do paciente e a aderência à medicação – disse que parou de falar em termos técnicos e perguntou, “você tem alguma ideia de quantos de seus pacientes tomam seus medicamentos?”

Esse tipo de percepção sobre o comportamento do paciente fora do sistema de saúde, mas também disponível no ponto de atendimento, tornará possível converter os cuidados de saúde no que Breitenstein descreveu como um sistema “impulsionado por dados, “algoritmicamente” conduzido e probabilisticamente preciso”.

Além de lidar com o desperdício e a ineficiência, um sistema baseado em dados proporcionará aos pacientes e aos profissionais médicos a mesma experiência de cliente que eles esperam das indústrias de companhias aéreas, bancos e comércio eletrônico.

“Os consumidores estão agora acostumados com boas informações sobre como tudo funciona”, disse Breitenstein. “Eles não são mais tolerantes com a ‘caixa preta’ que é a saúde”, completou.

 

Com informações MIT Management Sloan School. Edição SS.

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