Uso prolongado de omeprazol aumenta o risco de câncer do estômago
Estudo alerta que riscos aumentam se os medicamentos forem utilizados a longo prazo e de maneira contínuaÉ comum recorrermos a medicamentos como omeprazol, pantoprazol e lanzoprazol a cada desconforto no estômago. Porém, é preciso ter cuidado, pois o uso destes medicamentos, classificados como inibidores de bomba de próton (IBP), aumentam em até 2,4 vezes o risco de câncer de estômago.É o que diz um estudo realizado por pesquisadores Universidade de Hong Kong e da Universidade College London, da Inglaterra, publicado no periódico científico Gut, no dia 31 de outubro.
Não é a primeira vez que o uso desse tipo de medicamento, comumente utilizado para tratar refluxo e úlceras estomacais, é relacionado com o câncer de estômago. Porém, ainda não havia sido controlada a presença da bactéria Helicobacter pylori (H pylori), suspeita pelo desenvolvimento da doença. Depois de eliminar a bactéria, descobriu-se que o risco de desenvolver a doença ainda estava relacionado com a dose e a duração do tratamento com medicamentos IBP.
Nesta nova análise, as bactérias foram removidas com o uso de antibióticos, e o risco de câncer de estômago aumentou na mesma proporção da dosagem e duração do tratamento com os medicamentos anti-refluxo.
O estudo
O estudo considerou uma base de dados em Honk Kong. Os pesquisadores recrutaram 63.397 pessoas e compararam o uso de IBP com outro medicamento, conhecido como H2, que também limita a produção de ácido no estômago. Os participantes foram tratados com terapia tripla, que combina IBP e antibióticos para matar a bactéria H pylori, entre 2003 e 2012. Os cientistas monitoraram todos até que desenvolvessem câncer de estômago, morressem ou chegassem ao final do estudo, em 2015. Durante esse período, 3.271 pessoas receberam IBP por quase três anos enquanto 21.729 tomaram H2. Entre os selecionados para o estudo, 153 desenvolveram câncer de estômago. Nenhum deles testou positivo para H pylori, mas todos tiveram problemas de longo prazo com inflamação estomacal. Quem consumiu IBPs teve um risco de 2,4 vezes maior de desenvolver câncer do que quem usou medicamentos H2, que não foram associados a um aumento do risco da doença.
Risco aumenta conforme a frequência
Os resultados mostraram que enquanto os bloqueadores de H2 não aumentam o risco de câncer de estômago, os IBPs mais que dobraram a probabilidade da doença. Nas pessoas que tomavam diariamente algum medicamento IBP, o risco foi 4,55 vezes maior do que aqueles que ingeriam o medicamento apenas uma vez por semana.
Após um ano de uso de um medicamento como omeoprazol, pantoprazol ou lanzoprazol , a probabilidade do paciente desenvolver câncer de estômago aumentou cinco vezes. Após três anos ou mais de uso contínuo, o risco aumentou para oito vezes.
Pesquisadores tranquilizam quanto aos riscos, mas pedem cautela
Apesar dos resultados,de acordo com Wai Keung Leung, da Universidade de Hong Kong e líder do estudo, o risco absoluto de desenvolver câncer de estômago após tomar algum desses anti-ácidos é pequeno. Por isso, não há motivos para pânico. “Algumas pessoas têm um grande benefício com o uso desses medicamentos e não quero desencorajá-las”, disse ao jornal The New York Times.
Porém, é necessário ter cuidado ao prescrever o uso dos medicamentos. Stephen Evans, professor de farmacoepidemiologia da London School of Hygiene and Tropical Medicine, disse ao jornal The Guardian que os médicos precisam “ter cautela quando prescrevem IBP de longo prazo, mesmo após a erradicação da H plyori”.
O omeprazol e seu uso contínuo também já foram associados à demência e doença renal crônica, conforme já publicado anteriormente pelo portal Setor Saúde.