Sírio-Libanês inicia consultoria no Beneficência Portuguesa, de Porto Alegre
Hospital gaúcho vive grave crise financeira
No Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, ocorreu a solenidade que marcou o início do processo de consultoria que o Hospital Sírio-Libanês (SP) realizará no Hospital Beneficência Portuguesa (RS). A instituição paulista foi escolhida pelo governo federal para ajudar a recuperar o hospital gaúcho. A FEHOSUL esteve presente no evento, com as participações do presidente da entidade, médico Cláudio Allgayer, e do vice-presidente, Pedro Westphalen – atual secretário de Transportes do Estado do Rio Grande do Sul.

Claudio Allgayer acompanhou a atividade
Atualmente, o Beneficência Portuguesa conta com apenas três pacientes e luta para se manter ativo. A Instituição, de 160 anos e que nos seus melhores momentos dispunha de 200 leitos, acumula uma dívida reconhecida de cerca de R$ 70 milhões.
Segundo o Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Paulo de Argollo Mendes, as primeiras medidas tomadas para a reestruturação serão divididas em duas partes, “uma de urgência e outra de pleno funcionamento”.
Em relação a urgência, Argollo destaca a importancia de não deixar o hospital fechar. “Por isso estamos mantendo 3 ou 4 pacientes, que em termos de saúde pública não tem nenhum significado, mas conserva a estrutura andando”, afirma.
Para atingir o pleno funcionamento, Argollo explica que o hospital está sob processo de auditoria executado pelo Banco do Estado do Rio Grande do Sul para saber qual o real valor da dívida e também negociar, com o próprio banco do RS, um empréstimo. “Pensamos que podemos estar funcionando a pleno em 6 meses”, especula.
O Secretário da Saúde do RS, João Gabbardo, lembrou a importância do Beneficência Portuguesa para o Rio Grande do Sul. “Esse é um hospital tradicional, tem uma localização excepcional e faz parte da cultura do povo do RS. O hospital tem uma história na saúde pública de Porto Alegre. O Estado do Rio Grande do Sul vai fazer todo um esforço para que continue funcionando, seja para atendimento do SUS ou para convênio”, conta.
O presidente do Hospital Beneficência Portuguesa, Augusto Veit, afirmou que a crise ocorreu por falhas administrativas. “Houve falhas de gestão. Efetivamente, não tem o que se discutir. Acrescentando com outros problemas que houveram nos últimos anos. Resumindo, falhas e atitudes incorretas na gestão”, explica.
Veit também diz que é necessário contornar os problemas que já existem, como a cozinha interditada, antes de realizar uma prestação de serviço. “Enquanto é feito os levantamentos da auditoria e consultoria, o hospital deve seguir lutando”, fala.
Sírio-Libanês
O Sírio Libanês é uma das seis instituições do país que integram o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), financiado com recursos de isenção fiscal. Segundo o Diretor-executivo do Hospital Sírio-Libanês, Fernando Torelly, a instituição paulista fará um trabalho de três meses para atingir um diagnóstico da situação do Beneficência Portuguesa para auxiliá-lo a se reestruturar. “Iremos apresentar para o Secretário Municipal e Ministério (da Saúde) quais sugestões e os próximos passos para a viabilidade dessa instituição”, explica.
Torelly destaca que dois técnicos já começaram a trabalhar e outros profissionais irão acompanhá-los na próxima semana. “Vamos realizar o diagnostico predial, tecnológico, de funcionamento médico e administrativo, além de entender toda a governança financeira da instituição”, conta.
Torelly não arrisca uma previsão para as mudanças. “A gente entende a ansiedade das pessoas, mas, antes da solução, é importante saber qual é a condição do hospital”, explicando, igualmente, que o hospital paulista não tem a intenção de agregar gestão ao seu trabalho, “ não está no escopo do Sirio-Libanês assumir hospitais em outros estados para administrar”.
Abertura de leitos psiquiátricos
A abertura de leitos psiquiátricos pode ser uma das alternativas para manter o Hospital Beneficência Portuguesa. De acordo com o Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Paulo de Argollo Mendes, o Beneficência Portuguesa está negociando com o Secretário da Saúde do RS, João Gabbardo, a possibilidade de criar leitos psiquiátricos, já que “são mais fáceis de manejar e podem cumprir a missão de manter o hospital funcionando”.
João Gabbardo acredita que a abertura de leitos psiquiátricos é uma alternativa válida, entretanto não deve ser a única. “30 leitos de saúde mental não sustentam esse hospital [Beneficência Portuguesa]. Essa é uma alternativa provisória, não irá resolver o problema que estamos enfrentando”, declarou.

Westphalen defendeu a importância do acordo e a mobilização de vários entes da sociedade