Tecnologia e Inovação | 4 de agosto de 2020

Sami quer redesenhar a saúde utilizando o potencial da tecnologia, incentivos e relacionamentos

Presidente da startup defende a ideia de que a "prevenção produz fidelização, e a fidelização permite a prevenção"
Startup Sami quer redesenhar a saúde utilizando o potencial da tecnologia, incentivos e relacionamentos

Redução de desperdícios, aumento de eficiência, novos modelos de remuneração e telemedicina são alguns tópicos presentes há um bom tempo nos debates do setor de saúde brasileiro. Porém, as pautas ganharam ainda mais importância com a pandemia da Covid-19, que trazem um desafio inédito a todo o ecossistema da saúde, colocando em evidência a necessidade de combater os desperdícios e as ineficiências. A hora é de reinvenção e sobrevivência.

Nesse sentido, a startup Sami se propõe auxiliar as operadoras de planos de saúde a terem maior eficiência, com o forte uso das tecnologias de dados. “Nós entendemos que precisávamos redesenhar o sistema como um todo para aproveitarmos melhor o potencial do uso de tecnologia, incentivos e relacionamentos para o desafio ao qual nos propomos” diz o presidente da healthtech, Vitor Asseituno, em entrevista ao portal Setor Saúde.

Na prática, a Sami ajuda a identificar o caminho mais adequado para o tratamento do paciente, assim como auxilia o mesmo a mudar seus hábitos, incentivando-o a buscar a melhora da qualidade de vida. “Acreditamos que a prevenção produz fidelização, e a fidelização permite a prevenção”, diz Asseituno. Ao se relacionar com o prestador, a Sami prioriza incentivos por meio de uma remuneração gerada pelos resultados obtidos, não pelo volume (fee for service). No modelo da Sami, a tecnologia é um dos alicerces para ajudar a ganhar previsibilidade, oferecer um relacionamento mais personalizado e transparente, orientado para a entrega de uma experiência benéfica para o paciente e menos custosa para o sistema de saúde como um todo.


“Criamos um modelo em que a troca de dados é regra entre os agentes participantes e os incentivos são redesenhados com o objetivo do melhor alinhamento possível, ou seja, que a entrega de saúde para um paciente seja feita pelo sistema [desenvolvido pela Sami]”, explica o presidente. Asseituno ainda explica que “a Sami nasceu da crença de que existe um grande ganho no processo de organização e análise de tudo que já existe, mas que não é adequadamente utilizado”. Há grandes oportunidades para quem souber tirar o melhor proveito da análise de dados, ou data analytics.


A Sami já tem como clientes o Grupo Pátria e a Unimed Piracicaba, que juntas somam mais de 200 mil vidas. Confira a entrevista concedida por Vitor Asseituno ao Setor Saúde.

Setor Saúde: A startup foi formada por conta de muitas ineficiências observadas no setor da saúde. Quais os maiores gargalos do setor e quais são os novos horizontes que a Sami proporciona ao ramo da saúde?

Vitor Asseituno: Um dos principais gargalos do setor é o do conhecimento [na ponta]. Pacientes não sabem onde e quando procurar um médico ou qualquer outro tipo de atendimento, e qual tipo de atendimento procurar. Ao mesmo tempo, o melhor conhecimento médico-científico nem sempre está facilmente disponível e por falta de boa evidência científica muitas pessoas acabam tendo diagnósticos e  tratamentos errados, incorrendo em uma cadeia de eventos que geram custo e aumentam a ineficiência do setor, além de gerar riscos e desperdícios para o paciente.

Setor Saúde: Um dos focos da startup é oferecer aos clientes um plano focado em prevenção, e não somente o cuidado clínico (hospitais e médicos). Quais as estratégias que são tomadas nesse sentido?

Vitor Asseituno: Para a prevenção fazer sentido, qualquer empresa tem que pensar no longo prazo pois o retorno do investimento em prevenção acontece em alguns anos no mínimo, na maioria dos casos. Mas em geral ela não é feita pela alta rotatividade dos membros de planos de saúde. Acreditamos que a prevenção produz fidelização, e a fidelização permite a prevenção. Ou seja, ambos são fundamentais, e só fazem sentido em conjunto. Dessa forma, a relação que criamos com nossos clientes é o pilar principal do nosso negócio, e os benefícios que eles têm conosco fortalecem esse relacionamento.

Setor Saúde: Em uma matéria recente publicada no Brazil Journal, é dito que diversas healthtechs estão tentando atacar partes do problema, mas a Sami se propõe a resolver por inteiro. Nos explique como ocorre isso e como a Sami se diferencia de outras healthtechs?

Vitor Asseituno: A saúde funciona em sistema. Soluções que resolvem ou endereçam apenas parte do sistema correm o risco de se tornarem curiosidade ou desperdício. E infelizmente, boa parte das soluções estão desintegradas do restante do sistema, fazendo com que seu benefício esteja muito aquém do seu potencial. Nós entendemos que precisávamos redesenhar o sistema como um todo para aproveitarmos melhor o potencial do uso de tecnologia, incentivos e relacionamentos para o desafio ao qual nos propomos. Dessa forma, criamos um modelo em que a troca de dados é regra entre os agentes participantes e os incentivos são redesenhados com o objetivo do melhor alinhamento possível, ou seja, que a entrega de saúde para um paciente seja feita pelo sistema.

Sami_Site

Setor Saúde: Como a Sami observa os avanços tecnológicos no mercado da saúde? Quais métodos podem ser observados na atuação da Sami?

Vitor Asseituno: A saúde tem avanços tecnológicos todos os dias em diversas áreas, novos tratamentos, novos métodos diagnósticos, descoberta de novas doenças, etc, mas onde na nossa visão ainda não se apropriou de tecnologias existentes é na gestão de todo o conhecimento desenvolvido, ou seja, na gestão de dados conhecidos, mas ainda espalhados em diversos serviços em diferentes formatos. A Sami nasceu da crença de que existe um grande ganho no processo de organização e análise de tudo que já existe, mas que não é adequadamente utilizado, o que se costuma chamar de data analytics. Nos diferenciamos também por não sermos apenas prescritivos ou consultivos, mas de fato intervirmos para mudar as condutas e os caminhos dos pacientes.

Setor Saúde: O número de beneficiários de planos de saúde sofreu uma baixa de 283 mil vínculos entre abril e maio de 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus. Em qual foco de atuação a Sami se encaixa, em termos de classe social e segmentos econômicos de interesse? Poderia nos detalhar algumas das estratégias comerciais de inserção e ganho de fatia de mercado?

Vitor Asseituno: Temos focado atualmente em empresas que já têm plano de saúde [contratado para seus colaboradores], mas que estão insatisfeitos. Agimos antes que essas pessoas venham a perder o seu plano de saúde pela insustentabilidade do sistema que leva à um aumento abusivo da conta. Mas acreditamos também que o melhor controle e até redução de custo produzido pelo nosso trabalho, vá a aumentar o acesso de muitas pessoas à um plano privado de saúde.

Setor Saúde: Qual o papel dos hospitais na visão dos empreendedores da Sami para os próximos anos?

Vitor Asseituno: Os hospitais vão ter que se ‘superespecializar’, ou seja, ficar cada vez melhores na alta e altíssima complexidade, cumprindo de maneira ótima e competitiva seu principal papel na cadeia. Alguns hospitais estão tentando expandir (em vez de aprofundar) seu escopo, se tornando quase sistemas de saúde de fato, o que depende da vocação e do contexto de cada hospital.

Setor Saúde: Qual a importância da telemedicina no conceito de atuação da Sami?

Vitor Asseituno: A telemedicina tem um papel fundamental na nossa atuação, uma vez que é um dos momentos de maior proximidade do cliente que um atendimento médico pode produzir hoje. Propomos a sua utilização para triagem, para atendimento e para acompanhamento de pacientes, permitindo realmente que estejamos com eles o tempo todo.



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