Gestão e Qualidade | 12 de junho de 2020

Salvador Gullo Neto avalia segurança do paciente em tempos de pandemia

CEO do aplicativo Safety4me participou de Live da Fasaúde/IAHCS
Salvador Gullo Neto avalia segurança do paciente em tempos de pandemia

A Faculdade de Tecnologia em Saúde (Fasaúde) promoveu mais uma edição da sua séria de lives especiais. O tema desta vez foi Os Impactos da Pandemia na Segurança do Paciente, realizada na quarta-feira (10). Na atividade, foram repercutidas estratégias adotadas pelo setor da saúde para combater a Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus). O debate, transmitido pelo Instagram, foi conduzido pelo professor e doutor em epidemiologia Paulo Petry, coordenador dos cursos de extensão e pós-graduação da Fasaúde. O convidado foi o CEO do aplicativo Safety4me, Salvador Gullo Neto, que falou diretamente dos Estados Unidos, onde reside atualmente.


O debate contou com apoio da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FEHOSUL), Associação dos Hospitais do RS (AHRGS), Instituto de Acreditação Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS Acreditação), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) e Portal Setor Saúde.


Sobrecarga do sistema de saúde

Petry questionou a Gullo Neto sobre como se estabelece a segurança do paciente em um período atual de pandemia. O CEO do Safety4me, que reside atualmente na Califórnia, explicou que, inicialmente, não imaginou que a situação do coronavírus observada na China no início do ano se disseminaria com tantos impactos no setor da saúde, como ocorreu nos meses seguintes.

Gullo Netto ainda explica que, no primeiro momento, imaginou que o desafio que seria imposto pelo coronavírus poderia ser similar ao enfrentamento da última pandemia do H1N1, em 2009. “Aí, chegaram vídeos da Itália, e comecei a me assustar. Começamos a entender que havia uma sobrecarga do sistema de saúde em função de um número muito violento de casos de contaminação ao mesmo tempo”, afirmou.

Achatamento da curva e distanciamento social

As estratégias de achatamento da curva no número de contaminados, tendo como aliado o distanciamento social entre as pessoas, são medidas muito importantes para garantir segurança do paciente nesse momento, na avaliação do CEO do Safety4me – aplicativo que oferece aos pacientes maior inclusão e participação nos processos de saúde, por meio de plataformas educativas – para auxiliar a segurança do paciente, o aplicativo conta com um time multidisciplinar: o médico Dr. Rafael, a enfermeira Florence, o administrador Fernando, a nutricionista Antonia, o fisioterapeuta Hector, a técnica de enfermagem Ana.

Gullo Neto aponta que essas são, no momento, as ações mais eficientes para frear o avanço do vírus, e são essenciais por evitar a sobrecarga do sistema de saúde e, consequentemente, garantir atendimento seguro a todos.

Segurança do paciente em hospital de campanha x hospital tradicional

Gullo Neto aponta que eventos adversos nos hospitais são um dos maiores fatores de mortalidade – de acordo com o CEO do Safety4me, é a terceira causa de morte nos EUA. Ele avalia que o problema pode ser potencializado durante uma pandemia. “Estimam que a mortalidade por evento adverso foi em torno de 200 mil nos EUA no ano passado, sem pandemia. Imagina num estado de pandemia, com sobrecarga do sistema, o que pode acontecer com a mortalidade por evento adverso”, ponderou.


Gullo Neto demonstra receio quando o tema é segurança do paciente nos recentes hospitais de campanha construídos. Para ele, a probabilidade de eventos adversos e danos aos pacientes é muito maior no hospital de campanha. “Acredito que nós vamos ter um problema muito sério em relação aos hospitais de campanha. Imagina o seguinte: num hospital tradicional, onde temos todos os processos bem estruturados, as pessoas sabem os fluxos, temos eventos adversos como terceira causa de morte [no mundo]. Imagina num hospital de campanha”, disse.

O CEO do Safety4me ainda salienta a relação entre eventos adversos com problemas de comunicação dentro do hospital, ressaltando que podem ser ainda mais graves em hospitais de campanha. “Em torno de 80% dos eventos adversos graves estão relacionados com dificuldades de comunicação. Vamos fazer uma relação disso com o hospital de campanha: um hospital erguido em tempo recorde, pessoas que nunca trabalharam juntas, pessoas que vão ter que desenhar processos e fluxos de urgência. Nossa, só de pensar na quantidade de falhas possíveis na estruturação desses processos, chega a me dar arrepio”, avaliou Gullo Neto, ressaltando  que os riscos que as pessoas correm no hospital de campanha são muito mais elevados.


Segurança do paciente: tema recentemente disseminado no setor

Gullo Neto ressalta que segurança do paciente é um tema muito recente na área da saúde. De acordo com ele, o primeiro livro que fala abertamente de que haviam falhas no processo assistencial e que poderiam estar causando mortes e deixando pessoas aleijadas é de 1999, do Institute of Medicine, nos Estados Unidos. “Antes, não se tinha a clareza que, muitas vezes, a mortalidade ou o desfecho inadequado estava por trás de uma falha do processo assistencial”, afirmou.

No Brasil, o movimento de segurança do paciente ganha maior relevância em 2013, quando o Ministério da Saúde, junto com a Anvisa, publicou a RDC  36. “Estamos falando de oito anos atrás, é ontem”, enfatizou.



Ainda, o CEO do Safety4me avalia que há um desafio de abordar o tema com pacientes e familiares que frequentam o ambiente hospitalar, que não demonstram interesse pelo assunto, e também com os profissionais de saúde, que muitas vezes têm receio em abordar o assunto.

Segurança do paciente em um novo momento após a pandemia

Para Gullo Neto, a cultura de segurança do paciente no setor da saúde precisa ser fortalecida, podendo se espelhar em exemplos de outros setores. Ele citou o setor de aviação, com o exemplo do desastre aéreo de Tenerife, em 1977, quando dois aviões se chocaram, causando 583 mortes – é considerado o maior desastre aéreo da história. A partir de então, os protocolos de segurança evoluíram drasticamente. “Hoje, viajamos de avião de forma muito mais tranquila, porque os checklists de segurança estão muito sólidos”, destacou.

“Essa pandemia vai nos servir para isso: para que possamos sair dessa pandemia e olhe para a segurança do paciente de uma outra forma. Para que os hospitais, clínicas e locais que prestam assistência estejam em um outro momento após a pandemia”, avaliou.

Safety4me: tornar o paciente piloto do “próprio avião”

O CEO do Safety4me analisa que a plataforma desenvolvida pelo aplicativo tem como objetivo empoderar o paciente nos processos hospitalares, possibilitando a ele ser o piloto do próprio avião.

“O piloto de avião tem um drive [comprometimento] muito forte para fazer o checklist, porque a vida dele está em risco. Já na saúde, esse drive não existe, porque se nós profissionais não fizermos esse checklist, não acontece nada conosco, mas o nosso paciente pode ter um evento adverso e morrer ou ficar aleijado. E isso resume um pouco do que é a nossa plataforma. O Safety4me é uma iniciativa de empoderamento do paciente,  para que ele possa ser o piloto do avião dele, que ele possa estar checando em tempo real se as coisas estão sendo feitas. Estamos ajudando o paciente a se proteger”, detalhou.

A polêmica da hidroxicloroquina

Questionado sobre o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, Gullo Neto apontou cautela, pois não há demonstração de eficácia até o momento.  De acordo com ele, do ponto de vista de segurança do paciente, não há evidência científica de que o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina sejam eficazes em largas escalas, em casos leves ou moderados, ressaltando que o medicamento pode inclusive causar efeitos colaterais severos. Entretanto, o CEO do Safety4me avalia que pode ser válida a utilização do medicamento em casos mais graves, desde que sejam seguidos os protocolos médicos adequados.

Paulo Petry

“Eu sempre digo que a segurança do paciente é um tema extremamente importante. Nós trabalhamos como epidemiologistas e com a área da medicina social, com a segurança da comunidade, ou seja, já está se tentando expandir esse conceito. Claro, é importante estar num hospital seguro, mas também é importante, com medidas de proteção de saúde preventivas e preditivas, que se possa criar uma população mais saudável. Espero que esse seja um ensinamento da pandemia”, avaliou Petry.

Segurança do paciente em evidência

Gullo Neto enfatizou que a pandemia fez crescer a procura pelos serviços da Safety4me. De acordo com ele, estão sendo feitas a implantação da plataforma em várias instituições, como a Unimed em Erechim, Pelotas, em Juiz de Fora, Vale do Caí, Centro do RS, entre outras instituições. O app Safety4Me é um ambiente leve e educativo que viabiliza a inclusão dos pacientes nas equipes de saúde como um membro participativo, contribuindo para o seu cuidado, durante a internação hospitalar.

A equipe do Dr. Gullo está lançando um curso comandado pela Chief Experience Officer do app, Caroline Souto. A iniciativa será realizada pela ferramenta Zoom, abordando questões que envolvem a segurança do paciente e a participação dos profissionais. Serão oito treinamentos nas quintas-feiras, a partir do dia 18 de junho, das 19h30 às 21h. As inscrições podem ser solicitadas pelo email contato@safety4me.com, ou pelo Instagram da plataforma.

Próxima live

A próxima edição terá como convidado o médico cardiologista Alex Mello, que debaterá sobre o tema Doenças Cardiovasculares e a COVID-19. O evento ocorre no dia 17 de junho, quarta-feira, às 19h, novamente pelo instagram do professor Paulo Petry. Leia as matérias com a cobertura das lives já realizadas, com a participação dos professores Robson Morales e Milton Berger

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