Mundo | 18 de janeiro de 2016

Remédio experimental falha e mata um paciente na França

Ensaio de medicamento via oral ainda deixou cinco hospitalizados graves
Remédio experimental falha e mata um paciente na França

As autoridades da França anunciaram, no dia 15 de janeiro, que um teste de medicamento deixou um paciente com morte cerebral e outros cinco hospitalizados em estado grave.

De acordo com comunicado do Ministério da Saúde francês, os voluntários foram hospitalizados na cidade de Rennes depois de consumir por via oral o remédio em fase inicial de teste. O procedimento estava sob responsabilidade do laboratório Biotrial, que tinha todas as autorizações necessárias para realizar o teste. Os pacientes estavam em boas condições de saúde antes do experimento. Segundo agências internacionais, todos eram homens e tinham entre 28 e 49 anos.

Conforme a Agência Lusa, a ministra da saúde francesa, Marisol Touraine, afirmou que o medicamento não contém qualquer derivado de cannabis, contrariando informações anteriores. A agência France Presse havia divulgado que o produto testado era uma molécula com efeitos analgésicos contendo um canabinóide. “Não continha cannabis nem qualquer derivado de cannabis”, afirmou a ministra em entrevista coletiva.

O medicamento testado era um analgésico que agiria sobre receptores canabinoides do sistema nervoso humano. Produzidos pelo cérebro, os endocanabinóides são semelhantes ao princípio ativo da cannabis (maconha) e estão associados à extinção de memória e ao controle da dor e da ansiedade.

A nova droga passava pela fase 1 dos testes clínicos – com humanos, após testes em animais – e o que se estudava era, justamente, a segurança da droga. A molécula, criada pelo laboratório português Bial e chamada provisoriamente de BIA 10-2474, foi desenvolvida para tratar transtornos de humor, ansiedade e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

Segundo a ministra Marisol Touraine, o analgésico foi dado a 90 pessoas que participaram voluntariamente dos ensaios clínicos. Os sintomas começaram a se manifestar no dia 10 de janeiro. A ministra francesa disse que se trata de um acidente inédito no país, cujas causas ainda são desconhecidas, e que todas as pessoas afetadas pertenciam ao mesmo grupo, a quem o medicamento foi ministrado de forma repetida. Os ensaios clínicos foram interrompidos e será feita uma inspeção administrativa à “organização, meios e condições de intervenção” do laboratório na realização do ensaio clínico.

Pierre-Gilles Edan, diretor do departamento de neurologia do Hospital de Rennes, afirmou que das pessoas afetadas, além da vítima fatal, outras três sofreram “lesões que poderão ser irreversíveis”.

Como salienta o portal português Observador, apesar dos riscos aliados a ensaios clínicos, há casos em que são oferecidas contrapartidas que atraem muitas pessoas. Na página francesa da Biotrial (que também atua nos EUA, Canadá, Reino Unido e Bélgica), voluntários contam que os ensaios são melhores do que um emprego estudantil bem remunerado ou um complemento no orçamento. Os pagamentos variam entre € 100 e € 4.500, que é o limite previsto pela lei francesa.

No dia 18, o estado de saúde dos outros cinco participantes internados mantém-se estável, com demonstração de melhora, segundo informações do jornal português Público.

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