PSA antes dos 55 anos não fornece benefícios na detecção do câncer de próstata
Estudo europeu mostra que apenas uma pequena parcela de pacientes abaixo dessa idade podem se beneficiar da triagemA triagem para o câncer de próstata através do exame de PSA antes dos 55 anos pode ter um valor muito limitado. É o que indica uma recente investigação apresentada no VII Encontro Europeu Multidisciplinar do Cânceres Urológicos, realizado em Barcelona.
O Antígeno Prostático Específico (utiliza-se internacionalmente a sigla PSA, do inglês Prostate Specific Antigen) é uma substância produzida pelas células da glândula prostática. É encontrado principalmente no sêmen, mas uma pequena quantidade é também encontrada no sangue. A maioria dos homens saudáveis têm níveis menores de 4 ng/ml de sangue. A chance de um homem desenvolver câncer de próstata aumenta proporcionalmente com o aumento do nível do PSA. Quando há câncer de próstata, o paciente apresenta um nível do PSA acima de 4 ng/ml.
A utilização do PSA para detectar tumores da próstata tem sido o assunto de várias controvérsias. Recentemente o secretário de saúde do Rio Grande do Sul, médico João Gabbardo, defendeu a mesma linha de atuação que é preconizada pelo estudo, ao dizer que tais exames não deveriam ser realizados (http://setorsaude.com.br/gabbardo-defende-exames-para-deteccao-de-cancer-de-prostata-somente-em-alguns-casos/) em teste de detecção indiscriminada.
Estima-se que o teste possa reduzir a mortalidade (por câncer de próstata) em um em cada 98 homens diagnosticados. Os críticos do uso do exame em screening argumentam que, de cada 100 pacientes cujo PSA indica câncer, cinco recebem tratamento desnecessariamente. Os tratamentos são extremamente agressivos e causam efeitos secundários significativos, incluindo incontinência urinária e/ou impotência.
O estudo realizado por pesquisadores da Universidade Erasmus, em Roterdã (Holanda) analisou os resultados de 6.822 homens que participaram do Estudo Europeu Randomizado de Triagem do Câncer de Próstata (European Randomized Study of Screening for Prostate Cancer – ERSPC). A seleção ocorreu entre 1993 e 1997, quando os participantes tinham idades entre 55 e 59 anos, e foram seguidos até que eles chegassem aos 75 anos. No início do estudo, foram rastreados 189 casos diagnosticados de câncer de próstata, mas quando concluído, constatou-se que 40 dos 189 pacientes haviam morrido, 19 por causa de metástase causada pelo câncer e 21 devido ao câncer de próstata. Os resultados mostram que estes 40 homens representam o grupo que poderia ter se beneficiado da detecção precoce.
Para o coordenador do estudo, Leonard Bokhorst, os resultados sugerem que a maioria dos benefícios da triagem se confirma apenas se for feita depois dos 55 anos. De acordo com os dados, “80% a 90% dos participantes não se beneficiam de detecção precoce. Na verdade, é mais do que provável que o rastreio causa danos relacionados aos efeitos colaterais, como stress, incontinência urinária e impotência”, diz o especialista.
Bokhorst ressalta que não há uma “verdade absoluta”, mas sua pesquisa leva a crer que “recomendar a triagem antes dos 55 anos não seria a melhor maneira de melhorar a relação dano-benefício do rastreio. Para a maioria dos homens, a única maneira de melhorar é mudar o protocolo de rastreio de detecção em si, como por exemplo, alterando os testes de PSA, ou se possível buscar um método diferente de detecção de câncer de próstata”, concluiu.