Geral | 30 de abril de 2014

Professor e médico considera Mais Médicos “uma loucura”

Artigo publicado na Folha de São Paulo com forte crítica ao programa governamental
Professor e médico considera

O médico e professor paulista Miguel Srougi publicou, no dia 27 de abril, artigo no jornal Folha de São Paulo em que aponta problemas graves no programa do Governo Federal para a saúde. Com o título “Mais Médicos: Fragmentos sobre a Loucura”, o texto mostra dados para confirmar as falhas na iniciativa.

Embora considere a proposta positiva em sua intenção, Dr. Srougi considera o Mais Médicos uma “aspiração planetária”. Para justificar a crítica, ele lembra que, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo precisaria de 4,3 milhões de médicos e enfermeiras.

“O que eu e a imensa maioria dos médicos brasileiros não conseguimos aceitar é a forma como o programa Mais Médicos foi imposto à nação. Para dissimular a indecência na saúde, nossos governantes trouxeram médicos cubanos. Iniciativa de grande apelo aos mais distraídos, mas ilegítima, injusta, inconsistente e empulhadora”.

O artigo ainda afirma que a iniciativa de trazer médicos estrangeiros é ilegítima porque viola leis e valores da sociedade brasileira, como o fato de profissionais receberem menos de 10% do que foi anunciado; cidadãos proibidos de expressar seus sentimentos, vivendo em condições insuficientes.

“Em três anos, serão transferidos R$ 5 bilhões para Cuba, país igualmente carente, mas que não pode ser privilegiado em detrimento dos desvalidos do Brasil. País habitado por 60 milhões de analfabetos e por 6,5 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, que vão para a cama sem saber se terão o que comer no dia seguinte”, salienta.

Outra falha no programa é sua inconsistência e a “demonização” dos médicos brasileiros que, conforme o ex-ministro da saúde, Alexandre Padilha, aprenderiam a tratar pacientes pobres para, depois, se dedicar apenas aos ricos. “Poucas vezes testemunhei algo tão preconceituoso, perigoso e mentiroso. O ex-ministro, que diz ter estudado medicina, sabe que em todo o planeta existe um contrato social não escrito: médicos aprendem em hospitais universitários e, como retribuição, os pacientes recebem cuidados orientados ou providos por professores, que se colocam entre os mais competentes médicos de cada país”, afirma o conceituado urologista.

Em relação à inconsistência, Dr. Srougi questiona a qualidade dos médicos cubanos. “Com formação dúbia, serão incapazes de exercer qualquer ação médica efetiva em ambientes degradados e abandonados. O que farão frente a um paciente com dor aguda no peito? Se do céu cair um eletrocardiograma, não saberão interpretá-lo. Se por intuição desconfiarem de um infarto, não conseguirão tratá-lo. Se alguma divindade conseguir transportar o paciente para um centro mais desenvolvido, inexistirão vagas nos hospitais do SUS. Atendido no setor de emergências, ele morrerá pelo infarto e de frio, pois terá que utilizar o seu cobertor para forrar o chão gélido, onde será despejado e não atendido”.

Por fim, o médico lembra que o Governo prometera, nos últimos cinco anos, o fechamento de 286 hospitais ligados ao SUS e deixou de utilizar, há dois anos, cerca de R$ 17 bilhões dos recursos destinados ao setor. “Lamento prever a ruína próxima do Mais Médicos. Os cubanos já estão migrando para centros mais prósperos e os nossos governantes, sob jugo da marquetagem eleitoreira e com mentiras repetidas, esforçam-se para esconder os frangalhos da ação tresloucada. Restarão no palco do horror, abandonados e resignados, aqueles que nunca conseguirão expressar a desilusão”, concluiu Miguel Srougi.

Miguel Srougi é médico com Doutorado e Livre-Docência em Urologia pela USP, pós-graduação em Urologia na Harvard Medical School (EUA). Autor ou co-autor de mais de 450 trabalhos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais indexadas e de 180 capítulos em livros nacionais e internacionais, tendo como linhas de pesquisas “Fatores de Prognósticos e História Natural das Neoplasias Urológicas” e “Tratamento Cirúrgico do Câncer Urológico”.

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