Estatísticas e Análises | 2 de junho de 2016

Pesquisadores identificaram que homens e mulheres sentem dor de forma diferente

Compreender os motivos poderia levar a tratamentos diferentes baseados no sexo
Pesquisadores identificaram que homens e mulheres sentem dor de forma diferente

Entre homens e mulheres, nem toda dor é sentida da mesma forma. As mulheres são mais sensíveis à dor do que os homens, além de sofrerem mais com condições dolorosas, como enxaqueca, artrite e fibromialgia. Os cérebros feminino e masculino processam a dor em diferentes regiões. Qual seria, portanto, a razão para mulheres e homens obterem o mesmo tratamento para a dor?

Essa questão é abordada em um artigo do portal Medical Daily, que destaca que um grupo de pesquisadores investigou como ratos machos e fêmeas respondem à dor, e descobriu que eles ativam diferentes tipos de células do sistema imunológico. O trabalho foi divulgado no periódico Nature Neuroscience.

Depois de ferir as patas dos ratos de ambos os sexos, os pesquisadores testaram a sensibilidade à dor, após a administração de um medicamento que tinha como alvo as células imunológicas conhecidas como micróglias. Tais células, existentes na medula espinal e cerebral, atuam como uma primeira linha de defesa do sistema nervoso central (SNC).

“Ao detectar uma dor desencadeia-se, instantaneamente, uma resposta imune no SNC – que persiste em pessoas com dor crônica – e não faria sentido que a droga, que estava destinada a suprimir a micróglia, pudesse reduzir a dor. No entanto, isso só aconteceu nos ratos machos. Os pesquisadores descobriram, igualmente, que as fêmeas ainda experimentaram sensibilidade ao toque, um sintoma comum de dor crônica”, diz o artigo.

Entre as fêmeas, foi detectado um tipo diferente de célula imunológica que era a provável responsável pela resposta à dor: as células T, uma “segunda linha de defesa normalmente responsável por buscar e eliminar patógenos. Por esta razão, o medicamento de supressão de micróglia não funcionou”.

Compreender os diferentes caminhos biológicos para a dor entre homens e mulheres é crucial para o desenvolvimento de tratamentos com base no sexo. Apesar de uma maior propensão para a dor, as mulheres tendem a enfrentar certa frieza do médico em uma consulta, muitas vezes tendo dificuldade em enfatizar e convencer o profissional da gravidade da sua dor. “Consequentemente, elas acabam sem a atenção médica necessária. Os pesquisadores do estudo admitiram isso, também”, destaca o artigo.

“Se você está desenvolvendo drogas e quer entender a biologia da dor para criar novos analgésicos, parece que existem duas biologias a serem analisadas, não uma”, alertou o Dr. Jeffrey Mogil, co-autor do estudo e diretor do Centro de Pesquisa da Dor Alan Edwards, na Universidade McGill (Canadá). “Estamos trabalhando em uma delas (masculina) e que, na verdade, acaba por ser a menos clinicamente relevante, dado que a maioria dos pacientes com dor crônica são realmente as mulheres”, analisou.

Devido à falta de inclusão de animais fêmeas na pesquisa – pelo menos até recentemente – tem sido claro por que as mulheres enfrentam taxas mais elevadas de dor. “No entanto, é provável que isso se refira a vários fatores biológicos e ambientais. Níveis hormonais ondulantes ao longo do ciclo menstrual são um exemplo, assim como os níveis mais baixos de estrogênio aumentam a suscetibilidade à enxaqueca. Níveis de endorfinas e os analgésicos naturais do corpo também são baixos durante o período menstrual”.

O texto do Medical Daily encerra dizendo que com mais pesquisas, os cientistas não só obterão uma melhor compreensão de como a dor se difere entre os sexos, mas também outras condições. E com cada uma, poderão se aproximar da medicina personalizada, sob medida para as biologias específicas de homens e mulheres. “Este tipo de diferença entre os sexos poderemos ver em outros domínios”, conclui Dr. Mogil. “Acredito que isso pode ser a ponta do iceberg”, resumiu.

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