Estatísticas e Análises | 25 de maio de 2016

“Pequeno AVC” é aviso que não deve ser ignorado

Atendimento de emergência a ataque isquêmico transitório reduz pela metade o risco de AVC subsequente
Pequeno AVC é aviso que não deve ser ignorado

Muitos Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) poderiam ser evitados no mundo, se houvesse mais controle sobre os sinais iniciais: o Ataque Isquêmico Transitório (AIT). Como revelado por um novo estudo, uma atenção precoce reduz pela metade o risco de AVC no prazo de três meses. Um AIT é de início súbito e geralmente dura entre 2 e 30 minutos. Dificilmente se prolonga por mais de uma ou duas horas (1h ou 2h).

Os médicos chamam esse “mini-derrame”, ou “pequeno AVC” de AIT, e quem o “sente” tem grandes chances de ter um AVC em pouco tempo.

Os efeitos do AIT são exatamente os mesmos do AVC (derrame):

 1 forte dor de cabeça

2 dormência total ou parcial de um dos lados do corpo

3 perda de sensibilidade no tato e tonturas

São sinais ainda AIT (segundo o site http://www.manuaismsd.pt):

  • Perda de sensibilidade ou perturbações da mesma num braço ou numa perna ou num lado do corpo

  • Debilidade ou paralisia num braço ou numa perna ou em todo um lado do corpo

  • Perda parcial da visão ou da audição

  • Visão dupla

  • Enjoo

  • Linguagem ininteligível

  • Dificuldade em pensar na palavra adequada ou para a exprimir

  • Incapacidade em reconhecer partes do corpo

  • Movimentos inabituais

  • Incontinência urinária

Estudo 

O estudo, publicado na edição de 21 de abril do New England Journal of Medicine, foi conduzido por um time liderado pelo Dr. Pierre Amarenco, do renomado Bichat Hospital, em Paris, França. As descobertas têm origem em um programa chamado projeto TIA Registry (tiaregistry.org), cujo objetivo é descrever o perfil atual de pacientes com AITs ou pequenos AVCs, bem como os fatores de risco e desfechos a curto e longo prazo para “refinar a avaliação de risco”.

Os autores afirmam que “no projeto TIA Registry, observamos uma taxa mais baixa de eventos cardiovasculares após um AIT ou um pequenoAVC que o descrito em coortes históricas”. Os resultados, dizem os especialistas, “provavelmente refletem o risco atual de eventos cardiovasculares recorrentes entre pacientes com AITs ou vítimas de pequenos AVCs que são admitidos em clínicas de AIT e recebem controle de fatores de risco e tratamento anti-trombótico conforme recomendado pelas diretrizes atuais”.

A pontuação ABCD² (regra de predição clínica utilizada para determinar o risco de acidente vascular cerebral no dia seguinte a um ataque isquêmico transitório) foi um bom preditor de risco, e a pesquisa sugere que “limitar a avaliação de urgência para pacientes com um escore de quatro ou mais, perderia aproximadamente 20% daqueles pacientes com AVCs recorrente precoces. Múltiplos infartos no exame de imagem e doença aterosclerótica de grandes artérias também foram fortes preditores independentes de eventos vasculares recorrentes”. Os dados podem ajudar no desenho e interpretação de futuros ensaios randomizados.

O ABCD² é um escore utilizado como preditor de risco de AVC isquêmico, durante os primeiros sete dias após a ocorrência de um Ataque Isquêmico Transitório (AIT). Estudos demonstraram um risco de AVC isquêmico acima de 30% em pacientes com escore ABCD de 6 pontos, em relação aos pacientes com escores ABCD menores. Útil para identificar e orientar a conduta clínica nos pacientes na emergência, se precisam, por exemplo, de investigação emergencial ou monitorização mais intensiva.

tabela avc

Os pesquisadores relataram dados de 4.789 pacientes de 61 unidades, todas dedicadas a avaliação de urgência de pacientes com AIT em 21 países, como parte do TIAregistry. Desses pacientes, 78,4% foram avaliados por especialistas em AVC dentro de 24 horas do início dos sintomas.

Infarto agudo foi observado na tomografia computadorizada ou na ressonância em 33% dos casos; nova fibrilação atrial em 5% (67% dos quais receberam um tratamento anticoagulante antes da alta) e estenose carotídea em cerca de 16% (27% dos quais foram submetidos a revascularização carotídea antes da alta).

Segundo o portal Medscape, a taxa de eventos em um ano para o desfecho cardiovascular composto (AVC, síndrome coronariana aguda, ou morte por causas cardiovasculares) foi de 6,2%. As taxas de AVC nos dias 2, 7, 30, 90 e 365 foram, respectivamente, de 1,5%, 2,1%, 2,8%, 3,7% e 5,1%, muito abaixo das taxas relatadas em estudos prévios.

As baixas taxas de eventos deste estudo não podem ser explicadas por uma população de baixo risco. Mais de dois terços (⅔) da coorte tinha um escore ABCD² de quatro ou mais, e o risco observado foi baixo em cada estrato do escore.

Os autores sugerem que os desfechos positivos podem ser explicados por implementação melhor e mais rápida de estratégias secundárias de prevenção ao AVC, entre as quais o início imediato de medicamentos antiplaquetários, anticoagulação oral no caso de fibrilação atrial, revascularização urgente em pacientes com estenose carotídea crítica e outras medidas de prevenção secundária (como tratamento com estatinas e medicamentos anti-hipertensivos).

Pacientes com um pequeno AVC ou um AIT têm menores taxas de seqüela, mas com frequência não são atendidos pelos sistemas de detecção de AVC agudo, seja por atraso na busca por cuidados médicos, ou por avaliações clínicas de que tratamentos de urgência não são necessários. “Esta oportunidade perdida é ainda mais preocupante dadas as incríveis melhorias na qualidade da prevenção primária e secundária”, afirma o artigo.

O estudo também observou que os desfechos registrados foram pelo menos 50% mais baixos que aqueles publicados em estudos prévios, mostrando que o “tratamento de urgência para estes pacientes, seja em clínicas especializadas em AITs ou unidades de atenção dedicada com especialistas em AVC, sem dúvida funciona”.

O estudo também observou alguns resultados interessantes na avaliação de risco dos pacientes. Principalmente múltiplos infartos no exame de imagem, aterosclerose de grande artéria e um escore ABCD² de seis ou sete estiveram, cada um, associados com mais do dobro de risco de AVC. No entanto, limitar as avaliações de urgência para pacientes com um escore ABCD² de quatro ou mais faria com que aproximadamente 20% dos pacientes com um AVE recorrente precoce não tivessem diagnóstico adequado.

“Este estudo deve levar os planos de saúde, hospitais e legisladores a fazer alterações necessárias no sistema de atenção ao AVC, com objetivo de fornecer os cuidados mais efetivos não apenas para pacientes com AVC agudo, mas também para aqueles com AITs ou pequeno AVCs”, conclui o artigo.

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