Estatísticas e Análises, Mundo | 14 de dezembro de 2017

Os surpreendentes efeitos da solidão e o impacto na saúde

Condição afeta capacidade cognitiva, doenças cardíacas, diabetes e demências
Os surpreendentes efeitos da solidão e o impacto na saúde

Os efeitos da solidão e do isolamento social na saúde e longevidade, especialmente entre os adultos mais velhos, já foram estudados diversas vezes. Em 1988, o estudo Social Relantionships and Health já havia descoberto que “o isolamento social está ligado a pressão alta, obesidade, falta de exercício, tabagismo, fator de risco para doenças e morte precoce”.

Outro estudo, de 2012, chamado Loneliness in Older Persons A Predictor of Functional Decline and Death, descobriu que a solidão pode prejudicar a saúde ao aumentar os níveis de hormônios e estresse, que pode aumentar o risco de doenças cardíacas, artrite, diabetes tipo 2, demência e até tentativas de suicídio.

Segundo a pesquisa, entre as pessoas mais velhas que relataram se sentir excluídas, isoladas ou com falta de companheirismo, a capacidade de realizar atividades diárias, como banhos e preparação de refeições diminuiu, enquanto as mortes aumentaram ao longo dos seis anos analisados em relação a pessoas que não relataram nenhum desses  sentimentos.

O médico e pesquisador da Weill Cornell Medicin, de Nova Iorque, Dr. Dhruv Khullar, afirmou, para o The New York Times, que existem evidências de sono interrompido e declínio cognitivo acelerado entre indivíduos socialmente isolados, que ele chamou de “uma epidemia crescente”.

À medida que a pesquisa avança sobre esses temas, os cientistas estão compreendendo os efeitos da solidão e do isolamento na saúde. Eles também estão investigando fatores como quem provavelmente será mais afetado e quais tipos de intervenções podem reduzir os riscos associados.

Há algumas descobertas surpreendentes. Segundo os psicólogos e pesquisadores da Universidade Brigham Young, em Utah, Julianne Holt-Lunstad e Timothy B. Smith, embora seja equivalente em risco, a solidão e o isolamento social não estão necessariamente ligados.

“O isolamento social é constituído por poucas conexões ou interações sociais, enquanto a solidão envolve a percepção subjetiva do isolamento, com uma discrepância entre o desejado e o nível real de conexão social”, escreveram para o jornal Heart, em 2016.

Em outras palavras, as pessoas podem ser socialmente isoladas e não se sentir solitárias. Da mesma forma, é possível se sentir sozinho mesmo quando cercado por muitas pessoas, especialmente se as interações não são emocionalmente gratificantes.

Em 2012, em estudo, a Dra. Carla Perissinotto e colegas da Universidade da Califórnia, em San Francisco, relataram que a maioria dos indivíduos solitários é casada, convive com outras pessoas e não está clinicamente deprimida.

A Dra. Nancy J. Donovan, psiquiatra geriatra e pesquisadora em neurologia do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, disse em entrevista: “Existe uma correlação entre solidão e interação social, mas não para todas as pessoas. É simplista sugerir que pessoas solitárias devem interagir com outras pessoas”, afirma.

Idade da solidão

Segundo a Dra. Holt-Lunstad e colegas, que analisaram 70 estudos que abrangem 3,4 milhões de pessoas, o pico de solidão se encontra em adolescentes e adultos jovens. De acordo com Louise Hawkley, pesquisadora sênior no National Opinion Research Center University, de Chicago, “A intensidade da solidão diminui desde a idade adulta até a meia idade e não se torna intensa novamente até chegar à terceira idade”, explica. 30 por cento dos adultos mais velhos sentem-se solitários com bastante frequência, de acordo com dados do National Social Life, Health and Aging Project.

“Encontramos riscos mais fortes para aqueles com menos de 65 anos do que para aqueles com mais de 65 anos. Os adultos mais velhos não devem ser o único foco dos efeitos da solidão e do isolamento social. Precisamos abordar isso para todas as idades “, disse a Dra. Holt-Lunstad.

Alzheimer

Um dado recente sugeriu que a solidão pode ser um sinal pré-clínico para a doença de Alzheimer. Usando informações da Harvard Aging Brain Study sobre 79 adultos cognitivamente normais que vivem em comunidade, Dra. Donovan e colegas encontraram uma ligação entre a pontuação dos participantes em uma avaliação de três questões para definir a solidão e a quantidade de amilóide em seus cérebros. A acumulação de amilóides é considerada um dos principais sinais patológicos da doença de Alzheimer.

Em outro estudo, com adultos de 50 anos ou mais, publicado no início de 2017 na International Journal of Geriatric Psychiatry, Dra. Donovan e co-autores relataram que a solidão estava ligada ao agravamento da função cognitiva ao longo de um período de 12 anos. Os pesquisadores também descobriram que a depressão, mesmo a relativamente leve, teve um efeito maior do que a solidão no risco de declínio cognitivo.

“Atualmente, existem evidências fortes que relacionam maiores sintomas depressivos ao aumento da progressão do comprometimento cognitivo leve e do comprometimento cognitivo leve à demência”, disse a Dra. Donovan e colegas. Eles sugeriram que a solidão, assim como a depressão de baixo grau e mais grave, pode ter efeitos patológicos similares no cérebro.

Com informações de The New York Times e The Brisbane Times

VEJA TAMBÉM