Coletar resultados relevantes sem atrapalhar as outras funções e em tempo hábil é essencial para um hospital que está focado na entrega de um serviço de qualidade. A medição dos resultados relatados pelo paciente Patient-Reported Outcomes, de sigla PRO ou PROs)- em português Medidas de Resultados Relatados pelo Paciente (MRRP) – é uma maneira de resolver esse problema, utilizando questionários padronizados. O estudo Making Patients and Doctors Happier — The Potential of Patient-Reported Outcomes, publicado pelo New England Journal of Medicine, aborda os avanços possíveis com o uso da ferramenta.

Também chamado de Patient-Reported Outcomes Measures (PROMs ou PROMIS), este tipo de coleta se proliferou na oncologia internacionalmente, onde tem sido associada ao melhor gerenciamento de sintomas, qualidade de vida e melhores índices de resolutividade. Por causa desses benefícios, as operadoras e seguradoras de saúde começaram a incentivar a incorporação da ferramenta de obtenção de informação nas rotinas dos estabelecimentos de saúde. Por exemplo, o plano de saúde norte-americano para pessoas acima de 65 anos Medicare,  inclui incentivos financeiros para hospitais para coletar e enviar dados PRO para pacientes submetidos à substituição eletiva do quadril ou joelho.

Por exemplo, o modelo de tratamento Comprehensive Care for Joint Replacement (CJR), incentiva hospitais financeiramente a coletar e enviar seus dados, adquiridos através do PRO, de pacientes submetidos à substituição eletiva do quadril ou joelho.

Várias instituições incorporaram o método PRO na prática diária e verificaram resultados promissores. O Centro Médico Dartmouth –Hitchcock (DHMC), nos Estados Unidos, começou a utilizar a técnica para fins clínicos e de pesquisa em 1998. Em 2009, um terço dos pacientes do DHMC relataram que a incorporação de PRO levou a mudanças positivas em suas estadias.

Os pacientes do DHMC também podem usar uma calculadora, baseada em dados PRO, para calcular os possíveis resultados de intervenções cirúrgicas versus não cirúrgicas, comparando suas possibilidades através do histórico de pacientes semelhantes a eles. Assim, os pacientes se sentem mais engajados no tratamento e seguros do caminho a ser adotado.

O Departamento de Cirurgia Ortopédica da Universidade de Rochester introduziu um conjunto básico de PRO em 2015. Os dados das mais de 1,1 milhão de avaliações concluídas até agora são utilizados pelos pacientes na tomada de decisão compartilhada em relação às opções de terapia. Além disso, a técnica foi introduzida em 30 departamentos e divisões da universidade.

Benefícios

Entre as vantagens, o PRO pode melhorar a relações entre médicos e pacientes, permitindo que os profissionais compreendam melhor os sintomas e expectativas de cada um. Por exemplo, a coleta de dados forneceu aos cirurgiões da coluna uma medida quantitativa de como os pacientes estavam lutando para lidar com a dor pós-cirúrgica. Através disso, os cirurgiões poderiam tomar as medidas adequadas, como indicar para certos pacientes um psicólogo focado em dor comportamental.

Os PRO também podem melhorar a tomada de decisão compartilhada. Por exemplo, um médico recebe um paciente idoso que insistiu na ideia de realizar a extirpação total ou parcial da próstata (prostatectomia), “para estar seguro” após uma biópsia revelar uma lesão de baixo grau.

Ao mostrar dados de pacientes reais sobre a incontinência pós-prostatectomia e a impotência ao longo do tempo, ambos realizaram um “debate” sobre riscos e benefícios que levaram à escolha do paciente de vigilância ativa, sem realizar a cirurgia. Tanto o médico como o paciente se sentiram com melhor sinergia sobre o processo e o resultado de sua conversa, facilitada através dos dados.

Os PROs também podem melhorar a eficiência do fluxo de trabalho e economizar tempo quando são usados regularmente. Um médico de cuidados primários que utiliza pesquisas eletrônicas com um questionário de triagem não necessita ser forçado a realizar listas de verificação verbais durante as visitas.

Finalmente, os PROs facilitaram conversas que, de outra forma, não teriam ocorrido ao permitir que questões sensíveis fossem criadas de forma sistemática. Oncologistas da área de radioterapia relataram que os PROs permitiram conversas honestas relacionadas à disfunção sexual, incontinência e hemorragia retal em pacientes com câncer de próstata. Antes da implementação dos PROs, esses sintomas nem sempre foram explicitamente discutidos, ou sua importância foi minimizada. Os PROs também ajudaram um médico de cuidados primários a identificar situações de violência – ou abuso – doméstico em um paciente de longa data que não se sentia confortável em abordar o problema na conversa, mas estava disposto a divulgá-lo eletronicamente. O médico relatou sentir que algo não estava bem com o paciente há anos, mas as visitas de rotina não forneceram evidências concretas.

” Assim, nossas pesquisas sugeriram que o uso dos PROs podem melhorar a satisfação do médico, melhorar as relações médico-paciente, aumentar a eficiência do fluxo de trabalho e permitir conversas cruciais. A satisfação crescente do médico é vital, dado que quase metade dos médicos tem pelo menos um sintoma de burnout, e esta situação está intimamente associada a erros médicos, menor satisfação do paciente e menor adesão ao paciente em planos de tratamento”, diz o estudo.

” Acreditamos que os PROs têm o potencial de recarregar pacientes e médicos no processo de atendimento. Longe de ser apenas uma estratégia para satisfazer os pagadores ou provar o valor de certas tecnologias, os PROs poderiam ajudar a sustentar o ´espírito´ da força de trabalho do médico, fornecendo um caminho muito necessário para um sistema de saúde mais forte”, completa o artigo.

Sobre a ferramenta

Em 2016, foi lançado no endereço www.healthmeasures.net (em inglês) informações sobre seleção de medidas, ferramentas de coleta de dados, cálculo e interpretação de pontuação, Teoria de Resposta de Itens (TRI) e suporte a um fórum on-line para postar perguntas para a comunidade de usuários PROMIS.

Acesse o estudo (em inglês).