Estatísticas e Análises | 26 de agosto de 2016

Obesidade tem relação com envelhecimento acelerado do cérebro

Excesso de peso afeta o volume da substância branca, causando envelhecimento cerebral prematuro
Obesidade tem relação com envelhecimento acelerado do cérebro

As pessoas de meia idade obesas, ou com peso acima do recomendável, apresentam um envelhecimento cerebral comparável ao de pessoas de peso normal, porém dez anos mais velhas. Não importa qual seja o peso de uma pessoa, o cérebro humano tem o seu destino traçado: encolher, murchar, enfraquecer, atrofiar. Em uma palavra, ele envelhece. Mas segundo os neurologistas do Centro de Estudos do Envelhecimento e das Neurociências da Universidade de Cambridge (Reino Unido), tudo indica que o cérebro das pessoas obesas envelhece prematuramente.

Como relata reportagem do jornal francês Le Figaro, “A obesidade, fator bem conhecido por sua implicação no diabetes, doenças cardiovasculares e certos cânceres, também invade e influencia o cérebro”.

Para estudar a ligação entre obesidade e o nível do envelhecimento cerebral, os pesquisadores analisaram as estruturas cerebrais de 527 indivíduos entre 20 e 87 anos. Desses, 246 foram definidos como magros, 150 tinham excesso de peso e 77 foram considerados obesos. Os resultados da pesquisa, publicados na revista Neurobiology of Aging, mostram que os obesos com idade média de 40 anos possuem um volume de matéria branca comparável ao de pessoas de peso normal com idade média de 50 anos.

Situada no cérebro e na medula espinhal, a matéria branca contem milhões de fibras nervosas – os axônios – que estabelecem a conexão entre uma região do cérebro e outra, assegurando dessa forma a boa circulação das informações no contexto do sistema nervoso. Antes de chegar aos quarenta anos de idade, nenhuma redução do volume da matéria branca foi observada nas pessoas obesas. Os pesquisadores sugerem que o cérebro se torne particularmente vulnerável ao excesso de peso a partir desse período da vida.

Para explicar esse fenômeno, os autores sugerem que as substâncias produzidas pelo tecido adiposo (as gorduras), como a citocina e a leptina, estão na origem de reações inflamatórias induzidas por algumas células imunológicas situadas no cérebro. Essa inflamação teria como consequência a degeneração da matéria branca.

Contudo, esses resultados ainda não permitem afirmar que a obesidade está na origem das mudanças cerebrais. “Nosso cérebro encolhe naturalmente com o tempo, mas ainda não sabemos porque as pessoas com excesso de peso apresentam um encolhimento maior da matéria branca”, salienta Lisa Ronan, doutora do departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge e uma das autoras do estudo. “Precisamos estudar os mecanismos biológicos que ligam o peso de uma pessoa à estrutura do seu cérebro”, complementa.

Apesar das diferenças detectadas na quantidade de matéria branca de pessoas normais e obesas, os pesquisadores não detectaram um déficit de capacidades cognitivas, aferidas por exames de QI (quociente intelectual). Os investigadores pretendem, agora, realizar novos testes para tentar determinar se essas mudanças são reversíveis com a perda de peso.

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