Gestão e Qualidade | 9 de agosto de 2018

O impacto da informação na geração de valor e redução de custos na saúde no Seminários de Gestão

Eduardo Giacomazzi apresentou modelo de sucesso holandês
O impacto da informação na geração de valor e redução de custos na saúde no Seminários de Gestão

O uso correto dos indicadores para a segurança do paciente e o consequente impacto nos custos hospitalares e na geração de valor. O que o sistema de saúde brasileiro pode aprender com o modelo holandês, considerado o melhor sistema de saúde europeu? Estes foram temas apresentados pelo diretor adjunto do Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde (ComSaude) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Eduardo Giacomazzi, com a palestra “Informação que gera valor em saúde”, na 8ª edição do Seminários de Gestão.

Promovido pela Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL), Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA) e Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS), esta edição teve como tema central  “Performance, Resultados e Valor em Saúde”. Evento prestigiado na área de gestão de saúde, contou mais uma vez com auditório lotado. O Seminários teve como patrocinador o Banrisulo portal Setor Saúde como veículo de comunicação oficial do evento e a Fasaúde foi a instituição de Ensino Superior responsável pela emissão dos certificados do evento. A certificação oficial é da FASAÚDE/IAHCS, e os apoiadores desta edição foram IAHCS Acreditação e Stercycle.

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Palestrante Dr. Eduardo Giacomazzi, diretor adjunto do ComSaude e Dr. Claudio José Allgayer, presidente FEHOSUL e ONA

 

Os aprendizados do sistema de saúde holandês, considerado o melhor da Europa

“O que mais chama atenção é que eles se transformaram no melhor sistema de saúde europeu. Como chegaram lá?”, questionou Giacomazzi. O palestrante explicou que, a partir de 2006, foi promovida na Holanda uma reforma na saúde. Entre os pontos de destaque no país, com 93 hospitais para uma população de 17 milhões de habitantes, está um sistema de financiamento com preços livres, que aumenta a competitividade e é centrado no paciente. “O cidadão holandês realmente tem voz, isso ocorre com base em transparência”, explicou. Giacomazzi trouxe como exemplo um guia existente na Holanda, em que o cidadão escolhe o hospital desejado com base em informações personalizadas de um portal de transparência, que avalia os estabelecimentos de saúde e seus indicadores. “Uma realidade que está ainda muito longe de ocorrer aqui no Brasil. Vejam a dificuldade de se conseguir informações pelo DATASUS, por exemplo”, cobrou Giacomazzi.

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Dr. Eduardo Giacomazzi, diretor adjunto do ComSaude

 

Giacomazzi apontou que, desde 2006, o acesso aumentou na Holanda, e 90% dos casos são resolvidos por um médico de família. Além disso, a cada ano são menores os índices de tempo médio de internação hospitalar (em 2016, seis dias de tempo médio) e mortes após 30 dias de internação (em 2016, cinco mortes a cada 100 pacientes). O diretor afirmou que os custos com saúde estão crescendo na Holanda, mas com um ritmo cada vez menor – além disso, os custos com medicamentos, em contrapartida, estão caindo.

Os eventos adversos (incidentes que na maioria das vezes poderiam ser evitados) são grandes responsáveis por desperdícios nos hospitais. Com as ações promovidas, a Holanda reduziu este tipo de desperdício: “os holandeses afirmam orgulhosos que evitaram em um ano a queda de três Airbus em mortes por eventos adversos”, apontou o palestrante.  Além de ser apontado como o melhor sistema de saúde europeu, outro dado chamou a atenção do diretor: um levantamento da Unicef, que coloca as crianças holandesas como as mais felizes do mundo.

Eventos adversos e a busca por segurança do paciente no Brasil

Os eventos adversos são a segunda causa de morte no Brasil, atrás apenas de doenças cardiovasculares, apontou Giacomazzi. São desperdiçados 10,9 bilhões de reais em gastos com eventos adversos, que poderiam ser mais bem aplicados. Recém-nascidos e idosos são as vítimas mais frequentes destes eventos, em que 60% das falhas são evitáveis.

“Os hospitais estão sentados numa montanha de dados”, disse Giacomazzi, apontando que 40% do tempo do médico é voltado para codificação de dados. “Isso não é exclusividade do Brasil, mas precisa ser solucionado”, apontou. O diretor fez uma analogia dos dados na gestão de saúde brasileira com a água parada: é preciso fazer os dados circularem corretamente no sistema de saúde, tornando assim os dados “potáveis”.

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Dr. Eduardo Giacomazzi, diretor adjunto do ComSaude

 

Giacomazzi também apontou que o mantra principal do sistema de saúde deve ser segurança em primeiro lugar. De acordo com o palestrante, alta segurança possibilita, em primeiro lugar, a qualidade hospitalar e, posteriormente, a qualidade integral do sistema de saúde.

Uso adequado de indicadores, segurança do paciente e os cuidados de saúde baseado em valor

Giacomazzi apresentou o indicador Reflex, desenvolvido por empresa de consultoria com base na Holanda chamada DPI, que faz a avaliação de dados de óbitos nos hospitais, diárias hospitalares prolongadas e readmissões não planejadas, e busca assim reduzir estes desperdícios, controles de dados e seus benefícios. Foi realizada uma avaliação piloto no Brasil, que envolveu 11 hospitais – entre eles o sistema de saúde gaúcho Tacchini, de Bento Gonçalves – , que somavam 1 milhão de pacientes, no período analisado. Entre os desperdícios, o palestrante afirmou que R$ 48 milhões foram por longo tempo de permanência e R$19,5 milhões foram custos em readmissões. A partir dos cases apresentados, o palestrante frisou que os indicadores podem promover a melhoria de qualidade e segurança do paciente.

A busca por valor a partir do indicador Reflex se dá a partir de uma matriz que avalia os hospitais em recursos versus qualidade, e que a instituição valiosa é a que apresenta alta qualidade com o menor gasto possível, de acordo com o diretor do ComSaúde. Segundo o palestrante, a saúde baseada em valor ocorre com bons resultados e custos adequados – tendo também como conceitos fundamentais o cuidado centrado no paciente e segurança.

No site da DPI, o modelo é apresentado como uma ferramenta que entrega “uma visão mensal dos dados mais recentes do seu hospital sobre mortalidade, enfermagem e reinternações. Desta forma, você mantém o dedo no pulso, observando as tendências desses números. Por especialidade, por diagnóstico e por operação. Você pode ver onde o registro não está atualizado ou incompleto. Todos os meses há uma atualização do Reflex com os últimos dados administrativos médicos. Estes são dados que foram registrados na maioria dos hospitais por anos. Você relatará as tendências em tempo útil e as analisará e, se necessário, intervirá”.

“Arquipélago” baseado em valor

De maneira figurada, Giacomazzi apresentou um arquipélago que representa todo sistema de saúde baseada em valor. O palestrante apontou que as mudanças em busca de um sistema de saúde baseado em valor devem começar pelos resultados, “com um lago de indicadores no hospital que posso começar a utilizar”. De acordo com o palestrante, bons resultados são percorridos em um caminho de procedimentos, diagnósticos e indicadores corretamente utilizados. Com isso, é possível trilhar um caminho em que se estabeleça um sistema de saúde baseado em segurança e custos efetivos.

Além disso, um sistema de saúde baseado em valor acarreta em ganhos, como foi ilustrado durante toda a apresentação. E isto traz uma questão: como compartilhar estes ganhos? Giacomazzi aponta que a divisão de ganhos, numa relação “ganha ganha”, ainda não está introduzido na cultura da saúde no Brasil. “E este talvez seja um dos pontos mais nevrálgicos nesta relação segurança e custo”, enfatizou.

O palestrante finalizou a sua apresentação afirmando que para alcançar valor na saúde, é necessário olhar para o indivíduo, personalizar o atendimento, entender os indicadores e que tipo de sustentabilidade está sendo buscada.

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Dr. Eduardo Giacomazzi, diretor adjunto do ComSaude

 

Performance, Resultados e Valor em Saúde

O Seminários de Gestão contou com a participação de referências da área da saúde nacional. O médico Renato Camargo Couto (presidente do IAG Saúde) apresentou “O que é, como medir e entregar valor em saúde”. O evento também contou com apresentações da diretora técnica do Hospital Santa Catarina, de São Paulo, médica sanitarista Denise Schout, com a palestra “Indicadores para desfechos clínicos”; e o coordenador do Grupo Valued-Based Care do Instituto Coalizão Saúde – ICOS, Fabrício Campolina, que apresentou “Modelos de remuneração baseado em valor”.

A próxima edição já tem data marcada, 18 de outubro, e abordará o tema SAÚDE DIGITAL E TELEMEDICINA. Em breve, as organizações promotoras divulgarão os nomes dos especialistas e os assuntos que serão apresentados.

 

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