Gestão e Qualidade | 8 de agosto de 2017

O hospital do amanhã em 10 pontos

Especialistas descrevem como enxergam a evolução dos hospitais no futuro
O hospital do amanhã em 10 pontos

A tecnologia avançou rapidamente nos últimos anos, com mudanças associadas em múltiplas áreas, incluindo estrutura e funções hospitalares. Em artigo para a revista médica Critical Care, os professores Dr. Jean-Louis Vincent e Dr. Jacques Creteur descrevem 10 pontos pelos quais enxergam a evolução dos hospitais no futuro, incluindo maior especialização, maior uso de telemedicina e robôs, a mudança de local da UTI, aprimoramento do gerenciamento pré e pós-hospitalar e melhora dos cuidados de fim de vida.

“A nova tecnologia vai impactar cada vez mais como praticamos medicina. Devemos aprender a melhor forma de nos adaptar e abranger essas mudanças se quisermos obter o máximo benefício delas para nós e para nossos pacientes”, afirmam os autores. “O futuro hospital será mais avançado tecnologicamente, mas também será mais avançado no nível pessoal e humano dos cuidados com o paciente”.

1.   Hospitais serão menores e mais especializados

O número de leitos será menor, por motivos que incluem: foco maior e mais efetivo na prevenção de doenças; exames de imagens, laboratoriais e diagnósticos mais rápidos, com tratamentos que visam menor permanência no hospital; uso mais amplo de intervenções não invasivas; e aprimoramento ambulatorial e de gerenciamento doméstico. Os centros de atenção primária serão melhor equipados, permitindo que muitas condições sejam diagnosticadas e gerenciadas sem a admissão hospitalar. A hospitalização será reservada quase exclusivamente para pacientes com doença aguda e grave.

2.   Hospitais serão mais “amigáveis”

Os hospitais se parecerão mais com hotéis cinco estrelas do que com os atuais centros de saúde, com grandes áreas de admissão/recepção, lojas e restaurantes e jardins paisagísticos. Horários de visitas não serão mais restritos, ocorrendo em todos os momentos, e os parentes poderão permanecer presentes durante as intervenções caso o paciente deseje. Pais serão encorajados a ficar com seus filhos doentes. Os quartos do hospital serão leves e espaçosos, equipados com grandes telas interativas nas quais os pacientes podem ver seus próprios resultados e progresso, solicitar informações e decidir sobre o tratamento.

3.   Número de colaboradores será reduzido

Grande parte da administração rotineira do hospital – como a admissão e a alta – será realizada através de telas sensíveis ao toque. Os registros médicos eletrônicos serão atualizados automaticamente sempre que um exame for solicitado e os resultados estarão disponíveis imediatamente para todos. Softwares irão integrar continuamente os sinais e sintomas do paciente com os resultados e a evolução das variáveis monitoradas e dos resultados laboratoriais. Assim, menos médicos farão parte da rotina hospitalar de chão. Uma equipe “esqueleto” ainda estará presente para cuidar de emergências e participar dos grupos de resgate.

4.   Telemedicina estará em todos os lugares

A qualidade da imagem e a velocidade de transmissão ainda precisam melhorar, mas muitos hospitais do mundo já usam a teleconsulta onde os especialistas locais não estão disponíveis – como o que é realizado em Porto Alegre, no Hospital da Restinga e Extremo-Sul. Esta abordagem funciona particularmente bem para condições dermatológicas, em que uma fotografia ou vídeo pode ser transferido rapidamente para um especialista que auxilia no diagnóstico e fornece orientação. Radiologia para interpretação de estudos de imagem e cardiologia para análise de ritmos cardíacos complexos são outras áreas que atualmente se prestam facilmente à telemedicina – bem como a oftalmologia, como no recente caso gaúcho da TeleOftalmo.. As possibilidades da telemedicina no futuro são consideradas quase infinitas.

5.   Robôs serão mais presentes

Os autores perguntam: “por que precisamos de pessoas para entregar alimentos, remédios, entre outros, nos quartos?” Em vários hospitais dos Estados Unidos essas tarefas já são feitas por robôs. Usando seus próprios elevadores programados, alimentos e outros suprimentos podem ser trazidos automaticamente de uma parte do hospital para outro e até mesmo para o quarto do paciente. Além de mais realistas, os robôs também poderão realizar o trabalho de “carregadores”, movendo pacientes ao redor do hospital para diferentes exames ou intervenções.

6.   Monitoramento não invasivo aprimorado

Na admissão, os pacientes serão equipados com uma série de sondas ou sensores multimodais não invasivos que avaliarão continuamente não apenas a frequência cardíaca e a saturação de oxigênio, mas também a pressão arterial, a temperatura, a frequência respiratória, níveis de glicemia e assim por diante. Esses dados serão transmitidos e monitorados continuamente por um dispositivo central (no hospital ou em outro lugar), que alertará uma equipe para verificar o paciente, se necessário.

7.   “Ainda existirão UTIs?”

Segundo os autores, não há uma resposta precisa. Uma possibilidade é que haverá um departamento de cuidados intensivos, porém, será muito diferente do seu formato atual. Alguns especialistas sugerem que, ao invés de ter uma UTI separada, se um paciente precisar de cuidados intensivos, sua cama regular será simplesmente transformada, trazendo um respirador e um equipamento de monitoramento mais sofisticado sem precisar transferir o indivíduo. Essas escolhas podem depender, pelo menos em parte, do hospital e do problema específico enfrentado pelo paciente. Como os hospitalizados do futuro provavelmente estarão mais doentes, o número de leitos de terapia intensiva aumentará qualquer que seja sua colocação física dentro do hospital.

8.   O paciente será mobilizado cedo

A cama do hospital estará lá, mas essencialmente para dormir à noite. Sempre que possível, os pacientes farão caminhadas, “passeios”, muitas vezes com a ajuda de robôs. Algumas pessoas, claro, terão que permanecer na cama, mas mesmo esses pacientes serão ajudados a exercitar-se ativamente sempre que possível. Graças à sua pulseira “inteligente” de admissão, o pessoal do hospital saberá exatamente onde o paciente está a qualquer momento e será alertado sobre qualquer alteração no estado das sondas de monitoramento.

9.   Haverá continuidade entre cuidados hospitalares e domiciliares

Graças à telemedicina, os pacientes que já receberam alta serão geridos “remotamente” pela mesma equipe do hospital. Este sistema de acompanhamento melhorado reduzirá o número de consultas ausentes do paciente após a alta e diminuirá as taxas de readmissão. Obviamente, se os curativos precisam ser substituídos ou outros procedimentos exigem uma intervenção profissional, uma equipe móvel pode ser facilmente enviada para a casa do paciente ou ele pode frequentar um centro de atenção primária local.

10.   As decisões éticas serão abertamente discutidas e os cuidados de fim de vida melhorados

Haverá uma discussão muito mais aberta sobre escolhas de fim de vida dentro e fora do hospital e os pacientes terão seus desejos registrados cedo. As discussões e decisões de fim de vida serão facilitadas pelo acesso a dados prognósticos e de qualidade de vida mais precisos. Em pacientes cuja condição inevitavelmente levará à morte e em que um tratamento adicional não será benéfico, o processo de fim de vida pode ser iniciado, auxiliado por conversas abertas anteriores e preferências conhecidas e documentadas. Haverá uma maior aceitação do suicídio assistido por médicos e da eutanásia no mundo. O uso de doses crescentes de agentes sedativos com o único propósito de reduzir o processo de fim de vida e permitir a morte com dignidade será praticado.

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