Tecnologia e Inovação | 23 de março de 2017

Monitores de glicose para diabéticos ganham adeptos saudáveis

Por monitoramento em tempo real, pessoas sem a doença estão cada vez mais usando o dispositivo
Monitores de glicose para diabéticos ganham adeptos saudáveis

Indicado para pacientes com diabetes, o monitor contínuo de glicose (MCG) está sendo usado por grupo pequeno, mas crescente, de pessoas sem a doença que querem saber mais sobre o seu próprio organismo. O MCG fica preso ao corpo da pessoa, e é um dispositivo composto por uma agulha, que faz um pequeno furo na pele do indivíduo, e um sensor que rastreia as alterações do nível de açúcar no sangue em tempo real, sendo geralmente usado após indicação médica.

Desde o primeiro monitor aprovado em 2005 (nos EUA), algumas pessoas com diabetes têm usado os dispositivos para ajudar a monitorar o açúcar no sangue, ao invés de levar uma picada no dedo ao longo do dia para verificar manualmente. Os MCGs fazem uma medição periódica, e as pessoas podem definir ´alarmes´ para alertá-los sempre que seus níveis são perigosamente altos ou baixos. No Brasil, o primeiro dispositivo chegou somente em 2016.

Tabb Firchau é um empresário que vive em Seattle (EUA) e tem utilizado por mais de um mês o monitor. Os dados são então enviados diretamente para o smartphone de Tabb. O empresário comprou seu MCG pela internet por aproximadamente 300 dólares. Aqui no Brasil, um kit inicial do MCG está disponível por 599 reais (aparelho + 2 sensores), e cada sensor – que dura 14 dias – sai por 239 reais, um custo que pode chegar a pelo menos 6.300 reais no primeiro ano (incluindo a aquisição do aparelho).

“Eu acompanho quase tudo, do sono ao exercício”, conta Tabb à reportagem da revista Time. “Eu tenho tentado saber o porquê que alguns dias eu me sinto fantástico, e em outros dias não. Comi uma sobremesa de canela recentemente e minha glicose no sangue dobrou em uma hora. O monitor ajuda você a entender os custos das decisões que está fazendo”, diz Firchau à reportagem.

Tabb, porém, não conseguiu o aparelho pela indicação de seu médico, porque não possui diabetes. Uma pessoa saudável usando um dispositivo de diabetes pode parecer estranho. No entanto, indivíduos como Firchau dizem que faz sentido controlar seu açúcar no sangue, especialmente dada a recente atenção aos riscos de aparecimento das doenças crônicas associados ao consumo excessivo de açúcares e carboidratos processados, que podem ir de diabetes e doenças cardíacas até a obesidade.

Os níveis de açúcar no sangue mudam ao longo do dia para todo mundo e, especialmente, depois que se come. Essas flutuações, no entanto, são importantes para acompanhar as pessoas com diabetes, uma vez que para esse grupo o corpo não regula o açúcar no sangue por conta própria. Já para aqueles sem diabetes, porém, o pâncreas naturalmente libera insulina para manter os níveis num parâmetro normal.

 Aprendizado sobre nutrição

“Acho que é divertido e interessante que uma ferramenta de diabetes faça esse caminho”, diz Aaron Kowalski, portador de diabetes tipo 1 e chefe de missão da JDRF Diabetes – um fundo sem fins lucrativos que visa financiar pesquisas acerca da diabetes 1. “Mas eu garanto que se você usasse um no McDonald’s seu açúcar no sangue aumentaria e você aprenderia muito sobre nutrição”, completa Kowalski.

Usando um MCG, mesmo quando for clinicamente necessário, não é barato. Partes do dispositivo têm de ser substituídas a cada duas semanas – ou meses – e calcula-se que os MCGs custam de 5 a 10 dólares por dia – cerca de 3 mil dólares por ano. Nos EUA para comprar numa loja física, as pessoas sem a doença devem convencer um médico para prescrever o aparelho. Ou simplesmente comprá-lo on-line, sem necessidade de prescrição.

Especialistas não acham perigoso

Cinco especialistas em diabetes ouvidos pela Time não acham que o uso do MCG seja perigoso. Embora o dispositivo esteja ligado ao corpo do utilizador, ele é considerado um aparelho minimamente invasivo. “Eu não acho que haja qualquer risco”, diz Boris Kovatchev, diretor do Centro para Tecnologia de Diabetes da Universidade da Virginia (UVA). “A menos que as pessoas fiquem muito obcecadas [demasiadamente preocupadas com as oscilações]”, completa Kovatchev.

Até alguns médicos que não têm diabetes usam o MCG. O Dr. Steven Russell, especialista em diabetes no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, e seu colaborador de pesquisa Dr. Ed Damiano, da Universidade de Boston, dizem que usam MCG algumas vezes para fins de demonstração e para testar novas versões.

“Estou fascinado ao ver como a minha glicose no sangue muda após diferentes refeições”, diz o Dr. Russell. “Você olha para um doce e lembra o que isso fez a sua glicose no sangue, e acaba por fazer uma escolha diferente. Não há nenhuma razão pela qual as pessoas sem diabetes não estariam interessadas nisso”, completa o pesquisador.

No entanto, os especialistas admitem que não há pesquisa que provam que usar um MCG pode melhorar a saúde de uma pessoa sem diabetes. Até agora, todas as evidências são superficiais. Embora seja improvável que os dispositivos causariam maiores problemas, além de possíveis erupções cutâneas ou infecções no local da injeção, isso também não foi estudado em pessoas sem diabetes. Dr. Kovatchev, da UVA, também argumenta que MCGs poderiam ser mais úteis para pessoas sem diabetes com alguns ajustes. “Há uma necessidade de algumas análises que poderiam processar os dados adequadamente e fornecer informações às pessoas versus um fluxo de dados”, diz ele.

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