Gestão e Qualidade | 25 de março de 2014

Moinhos de Vento sedia evento sobre gerenciamento em emergências

A superlotação foi amplamente discutida
Moinhos de Vento sedia evento sobre gerenciamento de atendimento em emergências

O Hospital Moinhos de Vento realizou recentemente um Simpósio sobre o  gerenciamento do Fluxo de Pacientes. Abordando os padrões da Joint Comission International, diversos especialistas analisaram a questão do fluxo de pacientes e o que se pode fazer para evitar a superlotação nos estabelecimentos de saúde.

Sérgio Amantea, chefe médico das emergências do Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA/RS) ressaltou que a emergência é o termômetro do fluxo de pacientes. A partir disso, se iniciou o debate para estabelecer o que é preocupante em cada setor, junto com a SAMU –  que encaminha pacientes para a emergência – e o que inviabiliza um fluxo adequado. “Como a regulação viabilizaria compactuar essa questão com a SAMU e pacientes agendados (ambulatório)? Só dá certo se o regulador souber como funciona a instituição em particular”, analisou.

“Não há como haver bom funcionamento sem que seja revista a rotina dos estabelecimentos. É preciso treinar a equipe”. Dr. Amantea destaca a importância da triagem. “Em pediatria, por exemplo, uma mãe costuma superdimensionar o problema para ter atendimento mais rápido para o seu filho”.

Ao abordar os modelos (australiano, de Manchester, canadense e o norte-americano) de divisão dos setores, o especialista lembra que “o Cremers preconiza cinco níveis (não urgente, pouco urgente, urgente, muito urgente e emergência). A divisão é recomendada, mas cria uma estrutura com custos e mais espera dos pacientes. Tudo depende da característica do local”, salientou. “É preciso adaptações para achar o procedimento melhor.

A enfermeira Claudia Laselva, do Hospital Albert Einstein (São Paulo), explicou em sua palestra que “a internação em emergência é previsível, basta analisar o histórico dos períodos do ano”. Ela apresentou um modelo chamado “alisamento de demanda”, que consiste em “não interferir no ritmo da emergência nem comprometer a demanda cirúrgica”.

Para ela, o tempo médio de permanência é medida direta da eficiência e não há como criar um padrão, uma vez que instituições semelhantes têm padrões diferentes. “Sempre há espaço para reduzir o TMP (tempo médio de internação), aumentando assim a rentabilidade. Um bom cronograma pode aumentar o número de leitos, depende de um alto planejamento. Um dos grandes problemas é com o cuidado extra, que deveria ser função do Homecare. Muitos médicos atuam de forma paternalista, dando atenção extra para quem precisa sair do hospital”, analisou.

Ela lembra que “reduzir o tempo internado traz muitas vantagens, como maior capacidade dos profissionais, aumenta o acesso de novos pacientes, cria mais leitos, gera satisfação interna. Trabalhar em um ambiente lotado gera estresse”, resumiu. Cláudia Laselva ainda falou do conceito de “hospital sem paredes”, onde as equipes precisam se comunicar e saber de tudo que acontece para reduzir eventos adversos.

Já a gerente de enfermagem do Moinhos de Vento, Rúbia Maestri, comentou como é feita a triagem da instituição, que usa o modelo norte-americano. “É preciso fazer uma avaliação inicial, um planejamento do cuidado requerido, proporcionar atendimento individualizado e dinâmico. Fazemos triagem, avaliação e reavaliação, podendo mudar o procedimento inicial”.

A classificação de risco dos pacientes é refeita a cada 48 horas. Sobre o planejamento, ela diz que “é preciso juntar dados e fazer um plano para o paciente, monitorando a eficácia do tratamento. Pacientes e familiares podem e devem opinar. A gestão do erro deve ser feita, mas não com caráter punitivo. Isso capacita a equipe, através do processo de melhoria”.

Para Ricardo Kuchenbecker, chefe da emergência de adultos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), é preciso organizar a relação com a unidade, para saber como chega o paciente. “Sem o monitoramento, o contato do emergencista, temos dificuldade em tomar decisões e o paciente fica mais tempo internado”.

Dados do HCPA colhidos entre 2011 e 2013 mostram que “a cada 100 consultas de adultos, entre 70% e 100% ficaram mais de 24h em observação. Nosso desafio é mudar a parcela da emergência, que funciona como uma UTI”. Ele frisa que não basta crescer com tecnologia se não se pensar também pelo ponto de vista do paciente, como ele pensa ao recorrer um estabelecimento de saúde. “Ele fica sem saber para onde ir, a quem recorrer”, considerou.

Foi consenso entre os participantes que, mais do que buscar a qualificação por meio de medidas e normas já existentes, é focar na particularidade de cada instituição. Outro ponto importante do simpósio foi a interação via web. Oito instituições brasileiras acompanharam o evento e puderam enviar perguntas em tempo real. Participaram, via Internet, o Hospital de Clínicas de Minas Gerais; Hospital Barão de Lucena (PE); Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP); Hospital de Base do Distrito Federal; Hospital Samaritano (SP); Hospital Totalcor (SP); Hospital Getúlio Vargas de Teresina; e o Hospital Getúlio Vargas de Recife.

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