Estatísticas e Análises | 28 de janeiro de 2016

Médicos querem avaliar depressão das gestantes antes e depois do parto

Painel de especialistas chama a atenção para a saúde mental das mães
Médicos querem avaliar depressão das gestantes antes e depois do parto

A Força-Tarefa Americana de Serviços Preventivos (USPSTF, na sigla em inglês), um influente painel independente de especialistas norte-americanos, apresentou uma proposta que, pela primeira vez, indica o rastreamento sistemático para doenças mentais na maternidade. A proposta, apresentada no periódico Journal of the American Medical Association, sugere que os adultos do país sejam submetidos a um controle para depressão, incluindo mulheres durante e depois da gravidez.

A recomendação vem junto com novas evidências de que as doenças mentais na maternidade são mais comuns do que se pensava. Muitos casos de depressão pós-parto começam, de fato, durante a gestação e sem tratamento os transtornos podem causar prejuízos para o bem-estar dos recém-nascidos. Estima-se que a depressão durante a gestação ocorra em 13% das mulheres. O índice fica entre 10% e 15% no pós-parto.

O painel espera estimular os médicos a detectar sintomas de depressão em seus pacientes. “O USPSTF encontrou evidência científica convincente que demonstra que o controle de rotina em estabelecimentos de cuidados primários melhora a detecção de pacientes adultos com depressão, incluindo mulheres na gravidez, ou no pós-parto”, afirma o texto.

As novas diretrizes recomendam o rastreamento para adultos mesmo que a instituição de saúde não tenha uma equipe especializada no tratamento de doenças mentais. Um dos problemas é que ginecologistas, obstetras e outros profissionais de saúde nem sempre se sentem preparados para abordar questões como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.

A recomendação é, portanto, que a paciente seja encaminhada para outro profissional especialista. Contudo, a recomendação não especifica quais médicos devem fazer o monitoramento ou a frequência que a triagem deve ser realizada.

Ao jornal Folha de São Paulo, o psiquiatra e diretor do programa de saúde mental da mulher do Instituto de Psiquiatria da USP, Joel Renn, lamentou que esta avaliação ainda não faça parte da rotina médica, e declarou que a mudança é importante porque alguns sintomas psíquicos na gestação são minimizados ou ignorados durante as avaliações de pré-natal. “O rastreamento de possíveis quadros de depressão na gravidez levaria à detecção precoce e a consequências menos drásticas”, afirmou o médico.

Joel Renn lembra que existe um tabu sobre depressão durante a gravidez, “ainda mais quando a gestação é planejada, desejada, sem intercorrências”. Além disso, as pacientes costumam omitir os sintomas para o médico, o que torna o rastreio ainda mais importante.

Modelos

Um método usado é a Escala Edimburgo de Depressão Pós-Parto (ver abaixo), que pode servir de caminho para diagnosticar a doença. São dez questões que, para serem respondidas, só é preciso alguns minutos.

Já para o tratamento, uma sugestão é a aplicação da terapia comportamental cognitiva, linha de psicoterapia proposta e desenvolvida pelo psicólogo Aaron Beck que envolve um conjunto de técnicas e estratégias terapêuticas com a finalidade de mudança de padrões de pensamento. O modelo apresenta eficácia comprovada através de estudos empíricos. O tempo curto e limitado lhe confere a posição de abordagem de escolha em vários países. O processo pode levar de três a seis meses onde trabalha-se a criação de estratégias para lidar com o sofrimento. Os pacientes são encorajados a entenderem seus problemas para em seguida identificar novas formas de enfrentá-los.

Vale lembrar que o uso de antidepressivos durante a gravidez pode trazer sérios danos aos fetos, mesmo que seja baixa a probabilidade disso acontecer.

Fazer o teste para saber se está com depressão pós parto pode ajudar a identificar precocemente a depressão, aumentando as chances de cura da doença. Por isso responda este questionário após a 8ª semana a partir do nascimento do bebê:

 

Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (EPDS)

Nos últimos 7 dias:

1. Tenho sido capaz de me rir e ver o lado divertido das coisas.

(0) Tanto como dantes
(1) Menos do que antes
(2) Muito menos do que antes
(3) Nunca

2. Tenho tido esperança no futuro.

(0) Tanta como sempre tive
(1) Menos do que costumava ter
(2)  Muito menos do que costumava ter
(3) Quase nenhuma

3. Tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal.

(3) Sim, a maioria das vezes
(2) Sim, algumas vezes
(1) Raramente
(0) Não, nunca

4. Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo.

(0) Não, nunca
(1) Quase nunca
(2) Sim, por vezes
(3) Sim, muitas vezes

5. Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo.

(3) Sim, muitas vezes
(2) Sim, por vezes
(1) Não, raramente
(0) Não, nunca

6. Tenho sentido que são coisas demais para mim.

(3) Sim, a maioria das vezes não consigo resolvê-las
(2) Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes
(1) Não, a maioria das vezes resolvo-as facilmente
(0) Não, resolvo-as tão bem como antes

7. Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal.

(3) Sim, quase sempre
(2) Sim, por vezes
(1) Raramente
(0) Não, nunca

8. Tenho-me sentido triste ou muito infeliz.

(3) Sim, quase sempre
(2) Sim, muitas vezes
(1) Raramente
(0) Não, nunca

9. Tenho-me sentido tão infeliz que choro.

(3) Sim, quase sempre
(2) Sim, muitas vezes
(1) Só às vezes
(0) Não, nunca

10. Tive ideias de fazer mal a mim mesma.

(3) Sim, muitas vezes
(2) Por vezes
(1) Muito raramente
(0) Nunca

EPDS – Orientações para cotação

As respostas são cotadas de 0, 1, 2 e 3, de acordo com a gravidade crescente dos sintomas.

As questões 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 são cotadas inversamente (3, 2, 1, 0).

Cada item é somado aos restantes para obter a pontuação total.

Uma pontuação de 12 ou mais indica a probabilidade de depressão, mas não a sua gravidade.

IMPORTANTE: A EPDS foi desenhada para complementar, não para substituir, a avaliação clínica.

 

Adaptado de Edinburgh Postnatal Depression. Original de JL Cox, JM Holden, R Sagovsky.
British Journal Of Psychiatry (1987), 150, 782-786.

Versão Portuguesa: Postnatal depression in an urban area of Portugal: comparison of
childbearing women and matched controls. Augusto A; Kumar R; Calheiros JM; Matos E;
Figueiredo E. Psychol Med, 26 (1):135-41; 1996 Jan

Referências bibliográficas: Cepêda T, Brito I, Heitor MJ. Promoção da Saúde Mental na
Gravidez e Primeira Infância – Manual de Orientação para profissionais de saúde. Lisboa: DGS;
2005 (Disponível em: http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i008180.pdf).

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