Mundo | 27 de janeiro de 2016

Médicos da França querem mudanças no sistema de saúde

Objetivo é revisar a organização do setor no país e atualizar um sistema de saúde defasado
Médicos da França querem mudanças no sistema de saúde

O Conselho Nacional da Ordem dos Médicos da França apresentou, no dia 26 de janeiro, as propostas da ampla consulta lançada em 2015 em que mais de 30 mil profissionais responderam. O objetivo é claro: uma revisão aprofundada da organização dos cuidados de saúde no país, já que o sistema, de acordo com os envolvidos, não tem mais fôlego para se manter.

O presidente do Conselho, médico Patrick Bouet, revelou os quatro pilares do plano: reorganizar a atenção da forma regional; eliminar as barreiras entre cuidados hospitalares e ambulatoriais; criar uma verdadeira reforma na assistência; e mudar a educação e formação dos médicos. “Estas propostas se destinam a alimentar um debate sobre a qualidade da organização da saúde na França”, explicou Patrick Bouet. “Elas serão projetadas para transformar radicalmente um sistema que, apesar de todas as suas qualidades, está defasado”.

No curto prazo, o Conselho pretende esmiuçar os planos durante uma conferência marcada para 11 de fevereiro. O evento promete ser tenso e truncado, pois todos os sindicatos médicos liberais pretendem boicotar o evento e até mesmo organizar uma reunião de oposição.  A médio prazo, o foco é repassar as prioridades médicas aos candidatos de todos os partidos políticos que se preparam para a eleição presidencial do próximo ano. “Qualquer que seja a maioria eleita, 2018 será o ano de uma nova reforma dos cuidados de saúde”, ressaltou Patrick Bouet ao jornal Le Figaro. “É nesta perspectiva que queremos trazer as vozes dos médicos e fazer propostas concretas”.

O Conselho Nacional da Ordem dos Médicos liderou no final de 2015, uma ampla consulta com 35 mil médicos. Na realidade, eles usam um olhar severo sobre a evolução do sistema de saúde. As conclusões foram: 55% deles são pessimistas sobre o seu próprio futuro profissional, 74% estão no exercício da profissão médica (26% estão em outras atividades), e 82% acreditam que o modelo francês se deteriorou ao longo da última década.

Os médicos franceses também sentem que estão perdendo muito tempo com burocracia. Quase todos os profissionais acham que estão trabalhando sob muitas pressões econômicas e administrativas. “Um terço do tempo de serviço dos médicos é ocupado por tarefas administrativas e reuniões”, critica Patrick Bouet, baseado em relatórios sobre resultados. Garantir mais tempo para a prática médica é uma das prioridades do movimento.

Por quase duas décadas se discute a redução dos gastos de saúde na França. Partidos de esquerda e de direita discutem o papel do Estado e a necessidade de repassar parte dos serviços à iniciativa privada, cobrando por melhores serviços e resultados assistenciais. Somente entre os anos de 1997 e 2007, os gastos estatais na saúde aumentaram 27%. O país é o que mais gasta com saúde no mundo, atrás apenas dos EUA.

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