Medicina Nuclear evolui no Brasil em busca de diagnósticos precisos e suporte na localização de lesões
Em artigo, Diretora de Patrimônio e Eventos da AMRIGS e médica especialista em Medicina Nuclear, Cristina Matushita, fala sobre o Dia do Médico Nuclear e os avanços da área.A data de 14 de setembro é o Dia do Médico Nuclear. Trata-se de uma das mais novas especialidades da medicina e, apesar de ainda ser pouco conhecida no Brasil, usa o que há de mais moderno para diagnóstico preciso e tratamento de algumas doenças.
A prática se dá através da utilização de materiais radioativos. Envolve conhecimentos em física, química, biologia e medicina. Com técnica e uso de equipamentos, é possível, por exemplo, prever a Doença de Alzheimer com até 20 anos de antecedência aos sintomas, assim como antever a chance de infarto cardíaco e pesquisar quantidades de células cancerígenas no organismo.
PUBLICIDADE
Nos últimos anos, a Medicina Nuclear tem crescido no Brasil, impulsionada por avanços tecnológicos e pela crescente demanda por diagnósticos precisos e terapias mais eficazes. Diferentemente do que algumas pessoas possam imaginar, a Medicina Nuclear não se limita a exames. Também ajuda o cirurgião a encontrar o que ele precisa, injetando material radioativo que vai se fixar na lesão que o médico quer retirar, levando um aparelho que guia o profissional até o local exato identificando, por exemplo, um nódulo.
Entre as áreas que já vêm vivenciando os benefícios da especialidade está a de tratamento do câncer de tireoide. Para o tumor carcinoide (crescimentos malignos que, às vezes, produzem quantidades excessivas de substâncias parecidas com hormônios) também tem sido tratado com medicações injetáveis em pacientes que não são mais passíveis de operação. Além disso, a tecnologia tem ajudado a dar sobrevida a pacientes com câncer de próstata com metástase exclusivamente óssea, utilizando-se do Radio-223 (medicação utilizada para tratar adultos com câncer de próstata avançado). Mas o que há de mais impactante na área é o 177Lu-PSMA (antígeno de membrana prostática específica) usado em pacientes que já esgotaram as terapias existentes. A molécula de PSMA, proteína expressa na membrana da célula de próstata, permite a identificação de estruturas que, aparentemente, estão com aspecto normal, mas foram acometidas pelo tumor. Assim, ela tem um extraordinário potencial diagnóstico e terapêutico.
PUBLICIDADE
O diferencial na comparação com a radiologia, além do campo de atuação ser mais amplo, é que os aparelhos de Medicina Nuclear não emitem radiação. São áreas que trabalham próximas mas que são diferentes.
Portanto, o desafio é tornar a especialidade mais conhecida e acessível a todos no país. No Brasil, é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 1981. Atualmente, existem cerca de 1000 médicos nucleares registrados no país, distribuídos em aproximadamente 446 serviços de medicina nuclear.
No entanto, é preciso enfrentar alguns desafios. Um dos principais, é a falta de investimentos em equipamentos e infraestrutura, o que muitas vezes limita a oferta de exames e tratamentos. O custo dos materiais radioativos utilizados na prática é elevado, o que a torna pouco acessível para parte da população. Outra barreira para o crescimento é a formação de profissionais especializados. Trata-se de uma área complexa que exige conhecimentos específicos e habilidades técnicas. Mesmo diante dessa importância o número de cursos de especialização em medicina nuclear no Brasil é limitado, o que dificulta a formação de novos profissionais.
Portanto, perante isso tudo e com o desenvolvimento de novas tecnologias, há um futuro promissor pela frente. Tratamentos mais eficazes e personalizados para cada paciente representam um olhar cada vez mais próximo do que queremos que é o impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes e na redução dos custos dos tratamentos democratizando um direito de todos que é a saúde.
Artigo de Opinião: Diretora de Patrimônio e Eventos da AMRIGS e médica especialista em Medicina Nuclear, Cristina Matushita.