Estatísticas e Análises | 11 de janeiro de 2017

Maconha prejudica a irrigação sanguínea do cérebro

Circulação sanguínea reduzida em usuários pode explicar a deterioração das faculdades cerebrais
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Consumidores regulares de cannabis (maconha) têm uma queda de mais de 10% do fornecimento de sangue ao cérebro, segundo o maior estudo sobre o tema feito com imagens do cérebro.

Os pesquisadores de um instituto especializado na Califórnia comparou o fluxo sanguíneo cerebral em repouso de cerca de mil fumantes regulares da maconha atendidos em nove clínicas no país, e um grupo de pessoas saudáveis. Esta medição foi feita por tomografia computadorizada por emissão de fóton único (Single-Photon Emission Computed Tomography – SPECT), que fornece imagem em 3D para avaliar o fluxo sanguíneo por todo o cérebro.

Constatou-se que em mais de nove em cada dez casos, o fornecimento de sangue cai abaixo do normal. “Enquanto a legalização da maconha pode abrir caminhos para novas aplicações terapêuticas, este estudo mostra redução global da perfusão cerebral nos exames de imagem de quase 1.000 usuários de maconha, particularmente no hipocampo, uma área do cérebro vital para a memória e a aprendizagem, e também sujeita à redução do fluxo sanguíneo na doença de Alzheimer”, disse ao Medscape o pesquisador do estudo Dr. Cyrus Raji, PhD, médico na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Em reportagem do jornal francês Le Figaro, Valerie Wolff, neurologista dos Hospitais da Universidade de Strasburgo, afirmou que “tais anomalias não existem apenas com fumantes e poderia explicar em parte o aumento recente do número de AVCs observados em pessoas com menos de 50 anos na Europa e nos EUA”.

Os resultados corroboram a deterioração dessas capacidades observadas entre usuários regulares de cannabis.Além disso, diz Valerie Wolff, “este estudo é consistente com o que já tinha mostrado até mesmo entre os jovens que usam cannabis vítimas de AVC que conseguiram reverter o estreitamento dos vasos cerebrais, incluindo a artéria que alimenta o hipocampo”. A pesquisadora, que descobriu que o uso regular de cannabis foi um fator de risco para AVC isquêmico em adultos jovens, está iniciando um estudo para avaliar o tema na França. Outros estudos já demonstraram uma redução da massa cinzenta do cérebro, dependendo do uso de cannabis.

Vários indicadores sugerem que a baixa irrigação cerebral pode ser diretamente atribuída à cannabis. Em primeiro lugar, as complicações cardiovasculares, também foram encontradas entre os seus usuários regulares.

O THC, um dos princípios ativos da cannabis, reduz diretamente a respiração das células nervosas e, portanto, a sua atividade. Ele altera a atividade das mitocôndrias, as estruturas responsáveis pela produção de energia nas células, o que é suficiente para perturbar a capacidade de lembrar, o que foi demonstrada em ratos por uma equipe de Neurocentre Magendie em Bordeaux  (França), em estudo publicado pela revista Nature.

O estudo norte-americano, publicado por pesquisadores americanos na revista Journal of Alzheimer Disease tinha o objetivo inicial de compreender melhor o efeito da cannabis no cérebro porque o respectivo consumo já é permitido em dez estados dos EUA para o tratamento da doença de Alzheimer. Como o hipocampo é também uma das primeiras estruturas cerebrais afetadas por esta doença, eles concluem que a cannabis deve ser usada com cautela. Além disso, se a prova da nocividade da maconha sobre o desenvolvimento e funcionamento do cérebro continuam aumentando, nenhum estudo clínico ainda demonstrou qualquer valor terapêutico desta, recordou recentemente uma investigação aprofundada publicada no periódico JAMA.

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