Lideranças hospitalares voltam a debater modelos de remuneração
Terceiro encontro discutiu premissas e estratégias para a gestão da saúde com menos distorçõesNa sexta-feira, 10 de novembro, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FEHOSUL) e a Associação dos Hospitais do Rio Grande do Sul (AHRGS) reuniram no Hotel Continental, em Porto Alegre, lideranças da área hospitalar do Estado. A terceira atividade avançou em estudos sobre modelos de remuneração vigentes, além de buscar novas alternativas e estratégias para a adoção de modalidades de remuneração mais sustentáveis. O primeiro encontro ocorreu no dia 25 de setembro e o seguinte no dia 20 de outubro.
Alceu Alves da Silva (Superintendente Executivo do Sistema de Saúde Mãe de Deus) defendeu em uma rápida palestra introdutória, a necessidade de uma atuação cooperativa, sem interesses individuais, alinhado a um objetivo maior junto com os diferentes atores, contribuindo com transparência para diminuir distorções que ocorrem no mercado. O executivo defendeu “a redução de custos, a busca pela excelência, o uso de ferramentas modernas de tecnologia e análise, a segurança do paciente e a qualidade do cuidado como referenciais para discutir novos modelos de remuneração”.
“Vamos continuar num sistema que paga melhor para quem têm os piores resultados?” Indagou às demais lideranças. Alceu reforçou que cada instituição tem suas peculiaridades, e por isso, “nós precisamos demonstrar as diferenças que devem ser colocadas na mesa de negociação. Precisamos de modelos que demonstrem o quanto de valor entregamos, medindo a performance assistencial alcançada e os resultados efetivos.”
Marcelo Sonneborn (Superintendente de Infraestrutura e Gestão do Sistema Mãe de Deus) complementou: “Promoção, prevenção, recuperação e reabilitação é o desafio que devemos enfrentar, conhecedor das escalas de necessidade da população, buscando preservação da vida e a cura da doença.”
O presidente da FEHOSUL, Cláudio Allgayer, comandou a segunda etapa, apresentando um resumo das duas primeiras reuniões. “O que nos trouxe até aqui não vai nos levar para o futuro. Esta foi uma colocação do Dr. Reimbran [Kolling Pinheiro, Superintendente Financeiro do Hospital Moinhos de Vento] que rememoro da atividade anterior. Acredito que ela sintetiza perfeitamente a nossa realidade e o que nos motiva a trabalhar para esta mudança.”
Para Allgayer, “se fala muito dos problemas do fee-for-service. Pois aqui estamos para mudar este modelo ainda predominante, ou ao menos, identificarmos as ações necessárias para diminuir as ineficiências ocasionadas por ele, tanto para nós prestadores de serviços, como para as fontes pagadoras e os pacientes.”
Premissas
Dentre as premissas apresentadas como sugestão para o encaminhamento de novas estratégias de relacionamento estão a necessidade de uma transição adequada; baixo custo de manutenção; considerar a qualificação da rede prestadora; definição de metas de qualidade (indicadores), dentre outras. “Com o fee for service, as operadoras é que se esforçam para controlar e monitorar os resultados. Com o DRG, que é um modelo de implementação trabalhosa, é preciso dizer, compartilhamos este monitoramento, com uma cooperação mais acertada para corrigir as distorções”, resumiu Alceu Alves da Silva.
Sugestões
Na parte final, as lideranças participaram com sugestões, relatos, exemplos e direcionamento para as próximas pautas e caminhos a serem tomados.
“Devemos sim mudar o modelo, mas não podemos esquecer de pensar e trabalhar com a sua essência, com as peculiaridades que cada parceiro possui. Este é um caminho que devemos levar em consideração”, defendeu Rogério Dalfollo Pires, Superintendente Geral do Instituto de Cardiologia.
Já o Assessor das Superintendências do Hospital Ernesto Dornelles, Everton Meyer Morais, considerou que é exigência ter estruturas e modelos de inteligência que consigam entender os dados com o uso das novas tecnologias. “Devemos buscar junto aos parceiros [operadoras, governo] uma leitura compartilhada dos dados epidemiológicos, e manter ao longo prazo esta relação mais próxima, com assertividade e tempo correto de leitura.”
Hilton Roese Mancio (Superintendente Executivo do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves), por sua vez, defendeu “que o modelo não precisa ser totalmente disruptivo.” Segundo o executivo “é possível encontrar nossas ineficiências no modelo que estamos trabalhando hoje, para após, e aos poucos, realmente ir para os modelos mais complexos de remuneração.”
Seguindo no mesmo caminho, o Superintendente Administrativo do Hospital Ernesto Dornelles, Odacir Rossato, disse que “a transparência deve seguir como uma necessidade a ser considerada de todo o processo a ser implementado. O DRG por exemplo, deve ser estudado e preparado para uma transição clara, de médio para o longo prazo”.
Reimbran Kolling Pinheiro do Hospital Moinhos de Vento defendeu a mesma linha de raciocínio: uma adaptação e simplificação inicial, com vistas a uma transição futura para um modelo mais complexo. “Um caminho é discutir elementos para preparar para o DRG. Mas atualmente a simplicidade para alguns parceiros [operadoras] ajuda a imprimir uma praticidade para revisar as bases do modelo atual. Pensar hoje em uma segmentação de planos, definir padrões de remuneração para cada público, em termos de estrutura de produtos.”
Ricardo Minotto (Gerente de Serviços do Hospital Divina Providência) destacou “a simplicidade, riscos, ineficiências e a necessidade de se trazer o histórico para entender o tipo de relação que deve ser trabalhada com cada agente”.
O Superintendente Executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, reforçou que é preciso abrir informações com a operadora, pois há importantes distorções de custos que não são entendidas pelo outro lado. “Nós temos muita coisa por trás dos nossos custos, muita tecnologia, processo, legislação. Temos que pensar na mudança de paradigma, por exemplo, com a diária. Iniciarmos uma discussão com as operadoras sobre qual a diária adequada, pois não podemos pensar no passado, em uma diária que não é a nossa [como diária de hotel ou casa de repouso, por exemplo]”.
“A responsabilidade também é nossa. Ao propormos uma mudança na fonte pagadora, devemos saber que teremos que dar a retaguarda internamente, com o nosso corpo clínico, por exemplo”, complementou Marcelo Sonneborn, do Mãe de Deus.
A Diretora Administrativo-Assistencial do Hospital São Lucas da PUCRS, Prof.ª Dr.ª Izar Müller Behs ponderou: “É um pensar disruptivo, mas devemos atacar também o que está sendo questionado. Qual a complexidade de nossa assistência? O preço de um medicamento no hospital é um, na farmácia é outro. Assim, as injustiças que sofremos não podem ficar na esfera leiga.”
Novas reuniões serão agendadas para os meses de janeiro e fevereiro de 2018. Antes, ocorrerá o encontro de técnicos dos hospitais para levantar situações que devem se tornar ‘foco de ajuste’ nas relações com as operadoras e demais fontes pagadoras.
Modelos de relacionamento e de remuneração em evento no mês de dezembro
Em 1º de dezembro, o Seminários de Gestão, evento da FEHOSUL/SINDIHOSPA, discutirá os modelos de remuneração com participação de Martha Oliveira (Especialista em Regulação em Saúde Suplementar e ex diretora da ANS), Aline Silva Medeiros (Médica Consultora Optum/United Health Group) e Salvador Gullo (Diretor de Provimento de Saúde UNIMED Porto Alegre) e Luiz Felipe Santos Gonçalves (Superintendente Médico do Hospital Mãe de Deus/RS), apresentando o case Sistema UM. Na segunda-feira, dia 13, a programação completa será divulgada.
Estiveram presentes pela FEHOSUL, além de Cláudio Allgayer, o Diretor Executivo Flávio Borges e a Gerente de Relacionamento com o Mercado, Shirlei Gazave. Pelos hospitais, as seguintes lideranças: Angela Maria Perin e Enedir Giacomini (Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo de Santa Maria); Claudiomiro Carus (Hospital de Caridade de Erechim); Fernando Scarpellini Pedroso (Hospital Santa Lucia, de Cruz Alta); Hilton Roese Mâncio (Hospital Dr. Bartholomeu Tacchini, de Bento Gonçalves); Alceu Alves da Silva, Marcelo Sonneborn e Patrícia Ruas (Sistema de Saúde Mãe de Deus); Ana Paula Coutinho e Francisco Silveira Benfica (Hospital de Clinicas de Porto Alegre); Ricardo Minotto, Marcelo Fernandes da Silva e Dulce Veronica Hippler (Hospital Divina Providencia); Odacir Rossato e Everton Luiz Meyer Morais (Hospital Ernesto Dornelles); Mohamed Parrini, Reimbran Pinheiro e Diocélia Jungbluth (Hospital Moinhos de Vento); Izar Behs (Hospital São Lucas da PUCRS) e Rogério Dalfollo Pires (Instituto de Cardiologia).