Empregabilidade e Aperfeiçoamento, Gestão e Qualidade, Mundo | 17 de setembro de 2015

Liderança, resiliência e o poder da sensibilidade nos sistemas de saúde

Artigo britânico analisa as diferentes pressões inerentes aos cargos de chefia
Liderança, resiliência e o poder da sensibilidade nos sistemas de saúde

Em um mercado de trabalho cada vez mais desafiador, a resiliência vem sendo mencionada com maior incidência em organizações dos mais diferentes setores. O termo, originalmente, vem da física embora existam três vertentes de estudo da psicologia. O primeiro se baseia na própria física, e a pessoa pode sofrer um alto nível de pressão sem perder o controle, se mantendo no seu estado normal e natural. O segundo considera a resiliência como a capacidade de recuperação, como uma empresa consegue se estabilizar, depois de passar por uma dificuldade ou conflito. Por fim, a resiliência também é vista como a capacidade de transformação (da pessoa ou da empresa), de se antecipar e se preparar para uma possível situação futura, e enxerga nela uma oportunidade de crescimento e melhora.

O termo ganha importância diferencial para encontrar profissionais no mercado da saúde. O portal inglês Health Service Journal (HSJ) apresentou questões relevantes em recente artigo (Resilience building has a hidden cost) assinado pelas especialistas britânicas Sara Williams, diretora da clínica de saúde complementar da Spherical Living, e Jane Keep, gestora hospitalar do Serviço Nacional de Saúde (NHS – National Health Service) e professora da Universidade de Birmingham, que analisam a relação e a importância do termo no âmbito dos sistemas de saúde.

No Reino Unido, o NHS – assim como outros sistemas de saúde pelo mundo -, vem sofrendo pressões por melhores resultados e custos mais baixos. “Qualquer pessoa em um cargo de liderança no NHS atualmente, está se sentindo pressionado – há prioridades conflitantes, prazos para entregar projetos, necessidade de responder a entidades externas, manter-se aplicado na rotina agitada e exigente do ambiente de trabalho. Ouvimos frequentemente que ‘este é o momento mais conturbado’ ou que ‘nunca houve tanta exigência como atualmente’”, considera o texto.

O fato é que os gestores (clínicos ou não) têm um papel importante a desempenhar na elaboração do futuro dos sistemas de saúde. Nos últimos anos, muito se fala nas qualidades de liderança, e uma que predomina é a “resiliência”. Não a resiliência organizacional e o planejamento crítico, mas a capacidade de resistência dos próprios líderes. Apesar de inúmeros estudos, cursos e treinamentos, estaria faltando algum detalhe a mais para favorecer o enfrentamento dos mesmos aos desafios inerentes das lideranças da saúde? Segundo o HSJ, é preciso ir além de frases de efeito como “não ter medo” ou “ter coragem para estar sempre em alto nível. ”

“Há um preço oculto a pagar por ser valente e destemido”, principalmente em um sistema de saúde que busca, justamente, uma cultura de atendimento compassivo. O artigo lista uma série de comportamentos ou sentimentos que ocorrem com frequência:

Cobrança por mais quantidade e qualidade de tarefas em jornadas de trabalho extremamente longas, e em prazos excessivamente curtos;

A pessoa experimenta explosões emocionais;

A pessoa se sente vulnerável, frágil e ainda carrega um temor de que mostrar isso é um risco de ser visto como uma pessoa fraca, ou pode até ficar desempregado;

Compreensivelmente, pode desenvolver um medo de falar ou expressar preocupações ou sentimentos;

Problemas de sono, apetite, cansaço e exaustão;

Falta de compaixão consigo mesmo.

Tais características são preocupantes. Na área da saúde, o medo de falar, por exemplo, pode causar a perda de vidas. “Achar difícil se posicionar frente a colegas mais velhos – mesmo quando é uma questão de vida ou morte – é algo que pode abrir caminho para erros”. O HSJ reforça a afirmação dando exemplo de uma matéria da rede de comunicação BBC, que destacou que a medicina e a aviação são duas áreas que devem, obrigatoriamente, incentivar os mais jovens a expor opiniões e alertas.

Uma alternativa a esse estoicismo (aceitação resignada do destino), são os programas e artigos que focam em estratégias para “desenvolver uma mentalidade positiva” e “ser feliz”. Um exemplo é a iniciativa do NHS, Michael Fordyce’s Happiness Programme (inspirado em estudos do psicólogo, um dos percursores do conceito de felicidade como uma ciência estatística).

Mas as especialistas também defendem uma cultura que promova fatores que estimulem a sensibilidade. “Sensibilidade é sinônimo de ser capaz de sentir ou ter consciência”. Quando isso é conhecido pela sua verdadeira definição, em oposição à visão dominante em que alguém que assume sentimentos é julgado como uma pessoa fraca, então nós temos um componente fundamental de entendimento nos relacionamentos.

“É o desenvolvimento desta qualidade inerente a todos nós – a sensibilidade – que sustenta a profundidade da nossa consciência nas relações, e que é a semente do verdadeiro poder da liderança, aquela que sabe que compreender as pessoas está no coração de um bom líder”. E finalizam: “Também é a base do tratamento compassivo. ”

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