Estatísticas e Análises | 19 de janeiro de 2017

Letalidade do câncer de próstata pode ser prevista em exame genético

Três genes de reparo do DNA apontam pacientes com maior risco de óbito
Letalidade do câncer de próstata pode ser prevista em exame genético

Mais evidências estão surgindo de que homens que apresentam mutações germinativas em um de três genes de reparo do DNA são mais propensos a morrerem de câncer de próstata, e isto acontece mais rápido e em uma idade mais jovem do que entre os homens que não têm estas mutações, mostra uma pesquisa publicada em dezembro no periódico European Urology.

Segundo o portal Medscape, “os resultados do estudo têm um impacto importante porque demonstram claramente que mutações germinativas especificamente nestes três genes podem ser usadas para prever o risco de câncer de próstata letal e o tempo até a morte”, declarou o autor do estudo, Dr. Jianfeng Xu, vice-presidente de pesquisa translacional na NorthShore University HealthSystem, em Evanston, Illinois (EUA). “Isto
confirma as principais descobertas de estudos anteriores e fornece mais evidências diretas do importante papel do exame genético no diagnóstico e no tratamento do câncer de próstata”, declarou.

O estudo retrospectivo de caso-controle incluiu 313 pacientes que morreram de câncer de próstata e 486 pacientes com a doença localizada, de baixo risco. Os pacientes eram euro-americanos, afro-americanos e descendentes de chineses. “Os pesquisadores executaram o sequenciamento de todo o exoma do DNA germinativo e compararam as mutações patogênicas nos genes BRCA1, BRCA2 e ATM dos homens que tiveram câncer de próstata fatal e dos homens com doença indolente”.

Os pesquisadores também focaram o efeito que as mutações germinativas em qualquer um desses três genes tiveram em relação à idade dos pacientes no momento da morte pelo câncer de próstata e o período de tempo de sobrevivência dos pacientes após o diagnóstico. A frequência das mutações foi de 6,07% entre os pacientes com câncer de próstata letal, significativamente maior do que a observada nos pacientes com câncer de próstata localizado (1,44%), relatam os pesquisadores.

Para cada gene individual, as taxas de mutação foram também maiores entre os homens que morreram de câncer de próstata – o que ocorreu nos três grupos raciais. A diferença de status das mutações foram “particularmente surpreendentes” nos pacientes de ascendência chinesa. Neste grupo, foi encontrada uma mutação em mais de 18% dos homens com câncer de próstata letal. Em comparação, nenhuma foi encontrada entre os homens com doença localizada.

Destino do portador de mutações nos genes BRCA1, BRCA2 e ATM na coorte geral

TAB_MEDSCAPE

“A média de idade na época do diagnóstico foi de 64 anos e não difere de maneira significativa entre os que tinham e os que não tinham mutação. No entanto, os portadores da mutação foram significativamente mais propensos a ter câncer de próstata avançado no período do diagnóstico”, apontam os autores. “Portadores da mutação também tiveram uma proporção maior nos resultados na escala de Gleason igual ou menor que 7 (71%) do que os não portadores (31%), e níveis médios de PSA mais elevados (7,90 ng/mL) do que os não portadores (6,20 ng/mL)”, acrescenta a pesquisa.

Homens com alguma das três mutações germinativas também foram mais propensos a morrerem mais cedo do que os não portadores. O estudo indica que “10% dos homens que morreram de câncer de próstata aos 60 anos ou menos, tinham uma das três mutações germinativas, assim como 9,08% dos homens com idades de 61 a 65 anos que morreram da doença”.

Estes percentuais foram reduzindo conforme os homens sobreviviam por anos posteriores, até o ponto em que nenhuma mutação foi identificada nos homens que morreram de câncer de próstata após os 80 anos. “Ter uma das mutações germinativas também fez uma diferença significativa no tempo de sobrevida dos pacientes após o diagnóstico”, considerou o Medscape. “Mais de 12% dos homens que morreram até cinco anos após o diagnóstico tinham a mutação, comparados a menos de 1% dos homens que morreram mais de 10 anos após terem sido diagnosticados. “O exame das mutações deve ser oferecido a todos os homens com câncer de próstata recém-diagnosticado”, sugere o Dr. Jianfeng Xu.

Maior do que se acreditava Questionado pelo Medscape se a taxa de 6% de portadores era alta o suficiente para justificar a avaliação do estado das mutações nos homens com câncer de próstata, o Dr. Xu apontou que os 6% identificados no estudo foram significativamente maiores do que o considerado anteriormente. “Costumávamos pensar que girava em torno de 1% a 2%, portanto, a taxa de portadores é maior do que pensávamos, o que é importante”, disse ele.

Entre os homens que morreram da doença, alguns foram à óbito em um período de cinco anos a partir do diagnóstico, enquanto outros sobreviveram por uma década ou mais. “Quando você olha para os pacientes que morreram no período de cinco anos a partir do diagnóstico, o status de portador da mutação é acima de 12%”, observou o Dr. Xu.  Cerca de metade dos homens que tinha especificamente uma dessas mutações germinativas não tinha histórico familiar de câncer de próstata. “Se olharmos somente para o status das mutações nos homens com histórico familiar de câncer de próstata, perderemos metade dos pacientes com essas mutações”, disse.

“Conhecer a própria condição do portador ajudará a moldar a estratégia de tratamento”, acrescentou. Segundo o investigador, se um homem for identificado como tendo uma dessas três mutações germinativas, um tratamento mais agressivo deve ser a estratégia mais adequada.

“Nossas evidências sugerem que, mesmo se houver elementos de câncer de próstata indolente no momento do diagnóstico, o fato de ser portador de mutações torna o paciente mais propenso ao câncer de próstata letal do que os que não as têm”, afirmou o Dr. Xu. O especialista também considera que a informação de ser portador dessas mutações deva ser considerada como parte do processo decisório em termos de quem deve ser direcionado à vigilância ativa e quem deve ser tratado.

Ferramenta de pesquisa

Dr. Marc Garnick, médico e professor de medicina da Harvard Medical School, em Boston (EUA), foi consultado pelo Medscape para falar sobre se a análise do status de portador de mutações estaria apta para utilização clínica. “Ele diz que conhecer o perfil genético de um paciente pode não ser tão útil para pacientes que tenham elementos clínicos adversos, como uma alta contagem no escore de Gleason, PSA elevado e hipertireoidismo, porque os médicos já sabem que estes pacientes vão evoluir mal”. Por outro lado, “pode ser muito útil para identificar a população de pessoas que têm doença indolente e que, com base no perfil genético, sabe-se que a doença não é indolente, é um câncer agressivo”, disse o Dr. Garnick.

Alguns exames disponíveis podem ajudar a identificar os pacientes com doença indolente que possam ter um perfil genético mais agressivo, apontou o Dr. Garnick. O especialista também levantou questões sobre o exame de mutações BRCA. Embora estabelecidos para pacientes com câncer de mama e cobertos por planos de saúde, o mesmo não se aplica para casos de câncer de próstata. “Esta é uma pesquisa importante por acrescentar ao grupo de marcadores biológicos à medida que tentamos definir a conduta terapêutica a adotar”, observou. “Mas, caso o seguro não cubra, não tenho certeza se os pacientes farão o exame”, concluiu o Dr. Garnick.

VEJA TAMBÉM