Estatísticas e Análises | 2 de outubro de 2018

Japonês e norte-americano vencem Prêmio Nobel de Medicina por terapia contra o câncer

Pesquisa é considerada um novo pilar da terapia contra a doença.
Scientist in white coat holding and examining test tube with reagent making notes of his research in laboratory.

Os imunologistas James P. Allison (norte-americano) e Tasuku Honjo (japonês) ganharam o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2018, pelo trabalho pioneiro no campo da imunoterapia contra o câncer. Anunciado na segunda-feira (1º de outubro) pela Academia Sueca, os pesquisadores irão dividir o prêmio de 9 milhões de coroas suecas, o que equivale a aproximadamente R$ 4 milhões.

Allison, professor da Universidade do Texas, descobriu que uma molécula chamada CTLA-4 (antígeno 4 dos linfócitos T citotóxicos) atua como um “freio” no sistema imunológico. Ele descobriu que um bloqueio da proteína poderia retirar o freio sobre os linfócitos T, fazendo com que as células voltassem a atacar o tumor. Em 1994, Allison realizou o primeiro experimento em ratos, que ficaram curados após o tratamento.

Por 17 anos, Allison trabalhou para provar que essa abordagem poderia funcionar, levando à aprovação, em 2011, da droga Yervoy – que mostrou resultados quase milagrosos para uma fração de pacientes com uma forma letal de câncer de pele.

Enquanto isso, Honjo, da Universidade de Kyoto, estudava um distúrbio imunológico chamado PD-1 (morte celular programada 1), de acordo com Thomas Perlmann, secretário-geral do Comitê Nobel. O sucesso de Allison com o CTLA-4 no câncer persuadiu Honjo a considerar sua molécula também no câncer – e ele descobriu que a terapia PD-1 era ainda mais segura e eficaz contra vários tipos de câncer, incluindo câncer de pulmão, que mata cerca de 150 mil pessoas nos EUA a cada ano. Drogas baseadas em suas descobertas também funcionam em combinação com Yervoy contra vários tipos de câncer.

A imunoterapia contra o câncer é extremamente eficaz para uma parcela de pacientes, o que pode prolongar as suas vidas por anos, ou até mesmo curá-las. Os membros do comitê do Nobel disseram estar esperançosos de que combinações desses medicamentos e outras terapias permitirão que mais pacientes com câncer se beneficiem com menos efeitos colaterais. A indústria farmacêutica está investindo em tratamentos de imunoterapia, e centenas de ensaios estão em andamento com base em CTLA-4, PD-1 e outras abordagens similares.

Durante décadas, os pesquisadores tentaram descobrir formas eficazes de usar o sistema imunológico do corpo contra o câncer. Eles tentaram vacinas e outros tratamentos para aumentar a atividade imunológica. De acordo com Perlmann, a nova abordagem trazida por Allison trouxe uma nova perspectiva. “Representa um princípio completamente novo, porque, ao contrário das estratégias anteriores, não se baseia no direcionamento das células cancerosas, mas nos freios, nos pontos de checagem do sistema imunológico do hospedeiro”, disse ele. “Representa uma mudança paradigmática e um marco na luta contra o câncer”, enfatizou.

Allison estava “exultante” com o prêmio, diz seu amigo de longa data e colega Lewis Lanier, professor e presidente do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que diz que falou com Allison logo após o anúncio. Lanier diz que muitas vezes passou as férias de Ação de Graças e Natal com Allison em meados da década de 1990, e se lembra de Allison falando sobre os experimentos iniciais que mostraram que o CTLA-4 poderia combater o câncer em camundongos. Allison passou mais de 15 anos convencendo outros cientistas e empresas farmacêuticas de que sua abordagem poderia funcionar. Foi sua perseverança, assim como sua ciência, que trouxe a terapia imunológica contra o câncer para o público, diz Lanier.

Lanier acrescenta que ele nomeou Allison para o Nobel várias vezes, mas que provavelmente levou algum tempo para o comitê descobrir quem merecia recebê-lo ao lado dele. Perlmann disse que o comitê do Nobel escolheu destacar Allison e Honjo para refletir a ciência básica que criou um novo “pilar” da terapia do câncer.

Outras pesquisas relacionadas ao tratamento da doença já haviam sido vencedoras do Nobel de Medicina: tratamento hormonal contra câncer de próstata (1966) , quimioterapia (1988) e transplante de medula para tratar leucemia (1990).

Com informações do Scientific American e G1. Edição do Setor Saúde.

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