Gestão e Qualidade, Multimídia, Tecnologia e Inovação | 4 de maio de 2024

“Integração de sistemas e interoperabilidade são coisas diferentes” destaca André Cripa

O Hospital Moinhos convidou executivo da CTC para discutir interoperabilidade, integração de dados, saúde digital e IA, entre outros temas.
“Integração de sistemas e interoperabilidade são coisas diferentes” destaca André Cripa

O Hospital Moinhos de Vento promoveu o evento “Moinhos em série: navegando no futuro da saúde”, no final da manhã de quinta-feira (2). Em formato híbrido, o encontro gratuito teve como tema a “Interoperabilidade e Integração de Sistemas “. A atividade contou com a palestra de André Cripa, Chief Innovation and Digital Officer na CTC, uma das 150 maiores empresas de tecnologia do Brasil, e especialista em transformação digital pela Harvard Medical School. A abertura foi feita pelo superintendente Administrativo do Hospital, Evandro Moraes. A moderação do momento de debate teve a participação de Felipe Cabral, gerente médico de Saúde Digital, e Rodrigo Martins, coordenador de Ciência de Dados do Moinhos.


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Na abertura, Moraes (foto abaixo) destacou: “a saúde digital não é apenas um conceito emergente, mas uma realidade transformadora. Ela nos desafia a repensar nossos métodos, a inovar em nossas práticas e a buscar constantemente a melhoria na qualidade e na eficiência dos serviços em saúde. Aqui no Hospital Moinhos de Vento estamos comprometidos em estar na vanguarda desta transformação. Nosso objetivo não é apenas integrar as novas tecnologias, mas também liderar o caminho de redefinição de como a saúde é percebida, administrada e entregue. ”

Evandro Moraes

Conforme o superintendente Administrativo do Hospital, as edições do “Moinhos em série: navegando no futuro da saúde” buscam analisar a visão global da saúde digital e temas como cibersegurança, dados na saúde, soluções em cloud e inteligência artificial. “Nos eventos vamos explorar as fronteiras da saúde digital na qual teremos a oportunidade de discutir temas cruciais”, completou Moraes.

Interoperabilidade e integração de sistemas: consenso é peça chave

O Chief Innovation and Digital Officer na CTC, André Cripa, iniciou sua palestra destacando as dificuldades que o setor de saúde apresenta para colocar em prática a interoperabilidade e a integração de sistemas. Ele trouxe como exemplos os segmentos financeiro – adoção do pix no Brasil – e de transporte por trens na Europa – padronização de bitolas para unir linhas de outros países. Ambos conseguiram transpassar as dificuldades para conectar sistemas entre si, ao contrário da saúde, que ainda demora a avançar nesta tarefa.

Conforme Cripa, estes dois exemplos deixam claro que a palavra consenso é elemento chave para a transformação. “Em interoperabilidade o consenso é muito importante… falar sobre interoperabilidade é falar sobre consenso. É definir padrão. Basicamente isto é interoperabilidade. Estes exemplos, tão distantes da saúde, mostram que é importante sentarmos, independentemente de onde nós estamos, seja operadora, diagnóstico, um prestador como o hospital. Nós precisamos encontrar consenso para que este ‘negócio’ aconteça”, iniciou.

Fases de maturidade

Cripa explicou que a interoperabilidade tem quatro níveis de maturidade:

Fundamental (1)


Estrutural (2)


Semântica (3) 


Organizacional (4)

“A interoperabilidade tem níveis de maturidade. Ela vai avançando, crescendo, à medida que a maturidade da instituição avance também. ”

O executivo apontou que a fase de semântica (3) se refere às terminologias que ajudarão os sistemas a interpretarem automaticamente os dados, validando e utilizando corretamente as informações. Já na fase organizacional (4), caracterizada como o ápice da maturidade, se busca a integração completa dos sistemas, gerando coordenação entre os diferentes players, abrangendo aspectos legais e operacionais.

“O quarto nível é quando fazemos a interoperabilidade além das quatro paredes. Onde eu saio para as organizações que estão à minha volta. Estamos falando de Sistema de Saúde Único, da prefeitura, do estado, da operadora, do diagnóstico”, detalhou. É nesta fase onde em toda a jornada de saúde que o paciente fizer, haverá uma alimentação. “Eu uso isso [os dados e as informações] para que ele siga fluxos dentro da minha instituição sem depender mais de ter que iniciar um novo cadastro aqui. Eu já sei que ele se cadastrou, tenho os dados demográficos dele já validado em outra instituição. ”

Fragmentação de sistemas: “a gente tem que se adaptar a ele”

Cripa apresentou um estudo que evidencia a fragmentação dos sistemas como principal desafio para realizar a interoperabilidade no Brasil. Segundo o Observatório Anahp, executivos apontaram “Fragmentação dos sistemas de dados existentes” como barreira determinante (32%); a frente de “Barreiras legais/LGPD” (9%), “Incapacidade de órgãos competentes em gerir dados” (8%) e “Tecnologias disponíveis” (4%). A opção “todas as anteriores” atingiu 47%.

interoperabilidade anahp

“Este cenário fragmentado não vai ser resolvido. Nós temos que identificar como unir estas pontas. É algo ‘fora da casinha’ achar que vamos mudar o sistema de saúde. Na verdade, a gente tem que se adaptar a ele. ”


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Principais benefícios da interoperabilidade

Conforme Cripa, já está sedimentado no setor da saúde o entendimento dos benefícios da interoperabilidade. “Apesar de ser complexo de implementar, ele muda completamente a cadeia de saúde”, disse. Ele apontou os cinco principais ganhos e comentou:

1) Aumenta a eficiência no sistema (compartilhamento de informações): “Eu deixo de realizar fluxos dentro da minha instituição, pois já foram feitos em outra jornada. ”


2) Melhora o desfecho clínico (segurança para o paciente): “Eu tenho acesso a informações em momentos como quando o paciente entra em uma emergência, por exemplo, quando ele não consegue expor todo o seu histórico. ”


3) Melhora a experiência (empoderar e engajar o paciente): “O paciente também passa a ser dono da sua informação. Hoje a nossa sensação [como paciente], é que temos fragmentos do nosso histórico de saúde distribuídos em vários lugares…imaginem ter tudo isto em um QR CODE, no celular, e o médico que atender você conseguir ver facilmente todo o seu histórico. Isto engaja o paciente a querer ter consigo as suas informações de saúde atualizadas. ”


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4) Economiza recursos (reduz a redundância e melhora o acesso): “Este talvez seja um dos pilares mais importantes para o momento que vivemos hoje na saúde. Temos hoje um desbalanço entre prestadores e pagadores. Estamos em um momento bem complexo, como constantes glosas e tempo longo para receber pagamento. Será que o paciente precisa fazer um exame que ele fez há um tempo atrás só porque ele está em uma instituição diferente? ”


5) Saúde populacional (planejamento e intervenções públicas): “Quando a gente consegue identificar o que está acontecendo no país como um todo, independente em qual porta o paciente acessou, eu consigo planejar as minhas intervenções de gestão de saúde populacional. Eu identifico onde devo aplicar mais vacinas, para quem enviar mais quimioterápicos, além de [ser mais assertivo em] campanhas de obesidade, diabetes, já que tenho estes pacientes com informações ‘mais quentes’ do que eu tenho hoje. ”

Tangível ao paciente

O executivo da CTC demonstrou um estudo bastante robusto publicado na BMJ, com mais de 1,2 milhões pacientes oncológicos. O “Mortality due to cancer treatment delay: systematic review and meta-analysis”, que analisou 37 tipos de cânceres em 34 estudos, deu luz ao quanto de fato impacta na mortalidade o atraso ao iniciar os tratamentos.

“O estudo evidenciou que o atraso a cada quatro semanas em alguns tipos de câncer a mortalidade aumenta significativamente. A mortalidade de câncer de mama é 12% a cada 1.000 pacientes. Mas a cada atraso de quatro semanas, mais dez mulheres morrem por causa deste atraso. A cada oito semanas, mais 20 mulheres morrem. A cada 12 semanas, 31 morrem. Mas por que eu estou relacionando atraso com tecnologia? Porque hoje, o nosso sistema de saúde está desconectado, atrasa o início do tratamento”, explicou Cripa.

Segundo o executivo é preciso diminuir a burocracia e principalmente as idas e vindas de dados e informações, já que grande parte do processo da jornada do paciente atual tem entraves que retardam a assistência e diminuem as chances de cura dos pacientes.


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Burocracia e overtreatment 

O aumento do uso da tecnologia trouxe efeitos colaterais que ninguém desejava. Hoje mais de 60% do tempo dos profissionais de saúde são gastos com preenchimento de sistemas e trabalho burocrático. Outro dado apresentado por Cripa, demonstra que os médicos pedem muitos exames por falta de informações do histórico dos pacientes. O Overtreatment ou tratamento excessivo, geram procedimentos que não beneficiam o paciente, ou que muitas vezes podem gerar risco de dano superior a qualquer benefício.  “Isto traz peso e custo ao sistema de saúde”, disse.

Múltiplas fontes de dados em saúde

Um estudo do Dr. Wilian Stead [Vanderbilt University], fez uma comparação de quanto de informações/fatos o médico precisava buscar para um diagnóstico complexo em 1980 e 40 anos depois, em 2020. A relação em 1980 era 10 fatos para cada diagnóstico complexo. Em 2020, seriam 1.000 fatos por decisão complexa.

“A diferença é brutal, justamente pela quantidade de sistemas e conexões que existem hoje. Um ser humano pode lidar com cinco a nove fatos para tomar uma decisão. Já naquela época tinha disponível 10. O estudo demonstra que em 2020, havia mais 1.000 fatos por decisão complexa. Ou seja, eu tenho que buscar informações em diversas fontes, como [informações] autodeclaradas pelo paciente, buscar em diversos sistemas de diagnósticos, o histórico de consultas anteriores. É humanamente impossível que o médico analise todas as informações que ele tem à sua disposição. Até mesmo porque elas não estão de forma amigável disponíveis e livres para ele. Ele teria que fazer um trabalho muito grande de investigação. ”

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Dados complexos e sistema racional

Segundo Cripa trabalhar com dados em saúde é bastante complexo, até mesmo pela característica regulatória que se impõe à saúde. “Os sistemas foram concebidos sem que eles tivessem portas de conexão ou fáceis de ligar um ao outro. Imaginamos que para consertar isso é preciso muito dinheiro, não é mesmo? São investimentos que estão fora da realidade da maioria dos hospitais no Brasil. Mas será que isto mesmo? ”, indaga.

Ele apresentou uma notícia em que uma entidade estimava que 30% dos gastos em saúde privada são desperdícios. “Não sei como chegaram ao número de 30%, mas no fim a gente sabe que existe muito espaço para eficiência operacional nos hospitais. Fluxos e informações duplicadas, retrabalho, isto tudo gera um nível de investimento maior do que o necessário. Será que se nós fossemos mais adequados na visão futura de investimentos a gente conseguiria aos poucos reduzir a pressão no sistema? Me parece que sim! ”, diz Cripa.


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“ O Japão gasta menos em saúde e tem uma expectativa de vida muito maior do que sistemas de saúde como Estados Unidos que gasta muito mais por paciente e tem uma expectativa de vida muito menor. O dinheiro investido na saúde e a expectativa de vida não estão correlacionados.”

“Será que tecnologia aplicada e investimento na ponta é de fato o que faz diferença na saúde? Ou é melhor a gente coordenar isto e conseguir fazer um sistema mais racional? Acho que a resposta é óbvia”, sentenciou Cripa.

“É por isso que a OMS lançou uma estratégia de saúde digital para 2020 a 2025 que deveria ser absorvida pelos países membros. Depois o Brasil fez o seu próprio capítulo para 2020 a 2028 que tem como pilares a interoperabilidade, a troca de dados e informações. Parece que esta reconstrução discutida neste momento, é óbvio que compartilhar dados precisa estar na pauta para que a gente consiga criar um sistema mais adequado. ”

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Bons resultados de interoperabilidade no Brasil, RNDS, FHIR/HL7

Em relação às iniciativas de interoperabilidade no mundo, Cripa entende que o Brasil caminha de forma mais tímida, mas existem alguns exemplos que têm conseguido gerar bons resultados. Em 2012 houve a criação do e-SUS, depois em 2014 o e-SUS atenção básica, 2018 a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e 2020 a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Conforme Cripa, a arquitetura interoperabilidade da RNDS foi muito importante no período de vacinação contra a Covid-19, onde o cidadão tomava a vacina em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e em poucos minutos a informação já aparecia para a sua conferência no aplicativo “Meu SUS Digital” no celular.

A RNDS é a plataforma nacional de interoperabilidade (troca de dados), instituída pela Portaria GM/MS nº 1.434, de 28 de maio de 2020 como medida para enfrentamento da pandemia de COVID-19. A RNDS, além de ser um projeto estruturante, é um programa do Governo Federal voltado para a transformação digital da saúde no Brasil e tem o objetivo de promover a troca de informações entre os pontos da Rede de Atenção à Saúde, e assim promover a transição e continuidade do cuidado nos setores público e privado.

Interoperabilidade definicao

“A RNDS tem uma arquitetura muito interessante. Ela deixa que o hospital mantenha os seus sistemas e fluxos, mas quando ele passa a trocar dados com o sistema de saúde, ela passa por um sistema chamado ‘FHIR. Este é um padrão de troca de dados da RNDS.”

O FHIR é mantido pela Health Level Seven International (HL7), uma Organização Desenvolvedora de Padrões (SDOs) internacional, voluntária e sem fins lucrativos, que opera na área de Sistemas de Informação em Saúde, tanto para a área clínica, como administrativa. No Brasil há um capítulo da organização, a HL7 Brasil. “O objetiva da organização é encontrar maneiras de simplificar a troca de dados em saúde. FHIR veio desta organização… para quem quer conhecer mais sobre o tema de interoperabilidade, estar próximo da HL7 é necessário. Caso contrário você irá criar o seu padrão para trocar dados e vai simplesmente continuar cometendo o mesmo erro. Olhando o que aconteceu de melhor mundo em termos de interoperabilidade, usar o padrão HL7 é necessário… ele é um idioma padrão para a nossa comunicação de dados”, defendeu Cripa.

Terminologias, sistemas binários e IA

Conforme Cripa, a interoperabilidade é muito mais do FHIR. Ela precisa da terminologia, possibilitar que informação chegue até você e significar algo concreto, sem ambiguidades. “É como se você tivesse um dicionário para saber o que você recebeu. Existem vários: o SNOMED CT é voltado para dados clínicos; o LOINC para dados laboratoriais, o DICOM para imagens, o openEHR é outra arquitetura para dados em saúde, assim como CID10/CID11, TUSS/TISS, SIGTAP. Estamos habituados a estas terminologias e sabemos que se não tivéssemos isto seria uma bagunça. Existem várias terminologias para serem aplicadas em diferentes cenários. É por isso que a capacitação em saúde digital é importante para as áreas de tecnologia nos hospitais.”

O executivo demonstrou um caso prático que demonstra a dificuldade das tecnologias em interpretar as informações recebidas, diferentemente do ser humano, que possui a capacidade de receber diferentes informações, fazer associações e chegar a um mesmo resultado. “Nós seres humanos somos muito bons em associar as coisas. Mas os sistemas são péssimos. Eles não conseguem fazer isto. Os sistemas são binários, ou é isso ou aquilo. Se não tiver um caractere, uma letra ou se você escrever errado, aquilo não servirá para nada. ”

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“A interoperabilidade basicamente trata dessa diferença das coisas que parecem ser iguais. Por mais que o hospital vizinho tenha um prontuário eletrônico igual ao seu, o fato do médico registrar diferente lá, faz com que você não consiga usar o dado aqui. ”

“Mas uma esperança muito interessante surgiu há pouco tempo: a inclusão de inteligência artificial neste processo. A inteligência artificial pode ser aplicada para fazer estas configurações de coisas que parecem ser diferentes, mas são iguais. Ela consegue fazer associações quase tão bem quanto um ser humano. As últimas inteligências artificiais generativas foram treinadas com 1 trilhão de parâmetros ou regras. Estima-se que o ser humano tem 100 trilhões. Vai demorar um pouquinho para chegar lá. Mas aquilo que ela já aprendeu pode ser muito útil para ser um ‘copiloto’ muito bom do médico. Para ajudar o médico a não precisar fazer algumas associações que vez por outra tem que fazer. E também para que as áreas de tecnologia do hospital consigam comparar informações”, apontou Cripa.

Projeto do Hospital Moinhos e CTC com IA generativa

O Hospital Moinhos de Vento tem trabalhado em um projeto com a empresa CTC. Cripa apresentou uma tela com a demonstração de um prontuário, ainda em testes, que entrega notas clínicas geradas por meio do que a inteligência artificial integrada que ouve o paciente durante uma consulta na presença do médico.

“O prontuário, juntamente com o médico, começa a ouvir as informações do paciente e pode fazer sugestões de perguntas, hipóteses diagnósticas. No fim ele vai gerar uma nota clínica padronizada que irá ajudar o médico em algumas áreas que [usualmente] o aborrecem [no dia a dia da prática médica]. Uma delas é ficar atrás do teclado quando o paciente está na sua frente”, detalhou.

“Para quem apresentamos este projeto, há encantamento. Os médicos dos mais diversos tipos. No início desconfiávamos que teríamos uma barreira enorme com os médicos mais experientes, mas eles são os que mais aderem a este tipo de solução. São eles que na essência querem olhar para o paciente, mas estão amarrados pelo uso dos sistemas. ”

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A diferença entre integração e interoperabilidade

“Quando a gente começa a falar sobre interoperabilidade, facilmente ela se confunde com integração. A integração de sistemas não é algo complexo, mas é algo custoso e demorado. Funciona, mas é de difícil manutenção e de uma escala econômica absurda. Quanto mais integração eu faço, mais pessoas eu tenho e mais sistemas eu tenho que comprar. Já uma arquitetura de interoperabilidade tem uma visão completamente diferente. A interoperabilidade se relaciona a um barramento tradutor destas informações que servirá para enviar elas de um sistema para o outro de forma organizada. Para todas as áreas de tecnologia dos hospitais é importante fazer esta dissociação. É uma arquitetura diferente, uma visão de troca de dados que começa desde o dia um. Não é eu vou desenvolver um sistema e depois criar uma arquitetura de interoperabilidade. Talvez por isto o valor da interoperabilidade não é visto de forma rápida quando ela é implantada, mas depois ele cresce com uma curva extremamente alta.

“Informação leva a melhores resultados” e o fim do “eu acho”

A informação leva a melhores resultados, mas a transformação do dado em informação é um dos principais desafios, segundo Cripa. “As instituições que conseguem fazer isto têm um negócio completamente transformado…as instituições que estão mais maduras tecnologicamente também estão mais maduras na ciência de dados, como o Hospital Moinhos de Vento, que possui uma área dedicada à ciência de dados. Então é natural que o Moinhos esteja na vanguarda. ”

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Segundo o executivo da CTC, a tecnologia tem ajudado a afastar aqueles que dizem “eu acho” daqueles que apresentam dados e geram informações. Ele trouxe um exemplo das buscas no Google na qual uma tabela apresenta as buscas e o que a mídia noticia, em termos de preocupação das pessoas. De forma geral, as buscas por informações do público não estão sendo utilizadas pela mídia para abordar os interesses das pessoas. O terrorismo por exemplo, não é uma preocupação latente, mas a mídia insiste em abordar o tema de forma constante. Em termos de uso da mídia para ajudar a prevenir, outro exemplo são as mortes de origem cardiológica. No CDC, as doenças do coração matam muito mais do que câncer e o problema não é abordado com tanta ênfase pelos veículos de comunicação.

“Vemos uma diferença muito grande entre o que as pessoas buscam e aquilo que se noticia… Mas eu só consigo fazer este tipo de aferição quando eu tenho informação bem estruturada, quando eu tenho dado na minha instituição. É assim que tiramos da mesa o “eu acho”, que de vez em quando toma algumas decisões que não são as melhores. ”

No final da palestra, Cripa citou o cardiologista norte-americano Eric Topol, renomado profissional e autor de diversos livros, entre eles o The Patient Will See You Now (em tradução livre, ‘o paciente irá vê-lo agora’). Conforme o executivo da empresa CTC, a publicação destaca que outras áreas estão usufruindo plenamente a era digital, mas a saúde, mesmo sendo um mercado diferente dos aplicativos de transportes e de streaming, ainda não despertou completamente para o digital.

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Cripa encerrou com um chamamento para a transformação digital na saúde. “Será que com a tecnologia avançando tanto, não podemos fazer mais pelo paciente e pelo sistema de saúde? Certamente que sim. Porque no final do dia ser médico hoje é … estar na frente de um computador, preenchendo muitas informações que ele não deveria estar fazendo.”

Debates

Após a palestra, Cripa respondeu perguntas sob a moderação de Felipe Cabral, gerente médico de Saúde Digital, e Rodrigo Martins, coordenador de Ciência de Dados do Moinhos. Confira a palestra completa e o debate (a partir do momento 52:20):

FOTOS: Leonardo Lenskij

 



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