Gestão e Qualidade | 7 de fevereiro de 2013

Hospital de Caridade deu exemplo de atendimento às vítimas de tragédia em Santa Maria

Estrutura qualificada e gestão profissionalizada foram fundamentais para o salvamento de vidas no incêndio que abalou o país
Hospital de Caridade

Angela Maria Perin recepciona o ministro Alexandre Padilha, a presidente Dilma Roussef e o governador Tarso Genro

O incêndio que vitimou 238 pessoas na boate Kiss em Santa Maria, no dia 27 de janeiro, é uma tragédia que o país, e o Rio Grande do Sul, não esquecerão tão cedo. As imagens das famílias ao procurarem nos seis hospitais da cidade por notícias de seus filhos são cenas que ficaram na triste lembrança das atuais gerações. Assim como o trabalho das centenas de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que estiveram na linha de frente da difícil missão que era salvar a vida daqueles que foram encaminhados às instituições de saúde de Santa Maria.

O envolvimento das equipes de médicos e enfermeiros de outras cidades, que chegaram a Santa Maria para ajudar no socorro às vítimas, foi fundamental para ajudar a amenizar a dor dos familiares envolvidos na tragédia. Profissionais de Porto Alegre foram deslocados para auxiliar no atendimento não apenas dos pacientes, mas também dos familiares, talvez o segundo maior grupo de vítimas da tragédia.

Foi uma verdadeira corrente de solidariedade montada para o auxílio à população de Santa Maria. A Aeronáutica disponibilizou helicópteros e um gigantesco avião com capacidade para levar sete pacientes de UTI ao mesmo tempo. Foi criada uma rede em todo o Estado e, em 24 horas, foram retirados cerca de 60 pacientes – entubados, em ventilação mecânica, de UTI – do município da região central do Estado e encaminhados para os hospitais de Porto Alegre, com uma estrutura maior para atender vítimas em estado grave.

Os bancos de sangue da Capital precisaram pedir que a população não fosse mais doar sangue, pois não tinham mais condições de fazer as coletas sem agendamento prévio. Cartazes eram distribuídos nos hospitais de Porto Alegre com contatos para que parentes das vítimas pudessem utilizar residências de desconhecidos para descansar por uma noite.

O Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo (HCAA), o maior de Santa Maria, foi o local que mais recebeu vítimas do incêndio – 222 no total – sendo que 91 ficaram internadas. Até quinta-feira, 7 de fevereiro, 22 pacientes ainda estavam internados, segundo a Diretora Executiva do hospital, Angela Maria Perin.

De acordo com Angela, o envolvimento de todos os profissionais, desde a área operacional e administrativa, e especialmente a assistencial, foi irrestrito. “A mobilização da pessoas nesse momento foi incrível. Não foi preciso telefonar para a casa de ninguém para chamar para o trabalho. Até às 10 horas da manhã do domingo a equipe estava toda no Hospital à disposição para atender os feriados ou confortar as famílias. Desde as telefonistas até os médicos e enfermeiros. O Hospital de Caridade mostrou sua capacidade de atendimento ao prestar o socorro neste momento difícil, e também a gestão estratégica da diretoria”, argumentou Angela.

Hospital preparado para atender demandas de alta complexidade, o HCAA conta com 61 Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), 515 leitos de internação, 1,6 mil profissionais de enfermagem e 550 médicos, além de um bloco cirúrgico com dez salas. O hospital foi o “quartel general” que reuniu a central médica e de especialistas que tomavam as principais decisões sobre as transferências dos pacientes em estados mais grave para os hospitais em Porto Alegre.

A capacidade de gestão e articulação em um momento de crise, onde o pessoal se confunde com o profissional, foi decisivo para que a equipe do HCAA contribuísse com que mais vidas fossem salvas. Segundo Angela, não faltou equipamentos ou insumos para o atendimento às vítimas do incêndio. Até a metade da manhã de domingo – poucas horas após a  tragédia – todos os fornecedores que possuem produtos necessários e que seriam utilizados para salvar vidas foram acionados e já estavam no hospital fazendo as entregas.

“Foi muito triste o que aconteceu em Santa Maria, mas, como profissional, acredito que se o acidente tivesse ocorrido em outro lugar que não tem um hospital com a estrutura do Caridade (Hospital Caridade), dificilmente teria sido possível salvar tantas vidas como conseguimos fazer no hospital”, declarou Angela.

Trauma psíquico

A tragédia vitimou dezenas de famílias, entre elas pessoas que trabalhavam no Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo (HCAA) ou filhos de profissionais que atuam no local. Diante da situação tão grave que se abateu no Rio Grande do Sul, o Cremers publicou orientações gerais de atendimento psiquiátrico para auxílio dos familiares das vítimas de Santa Maria.

O protocolo de atendimento foi elaborado por uma equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e pretende auxiliar as vítimas e seus familiares a superarem a tragédia. Segundo o documento, algumas pessoas podem apresentar reações agudas ao estresse que levam ao Transtorno de Estresse Agudo (TEA), a sintomas de Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) ou de outros quadros psiquiátricos. A situação pode atingir não apenas as vítimas ou seus familiares, mas também profissionais que atuaram na experiência, como bombeiros, socorristas, médicos e enfermeiros.

Clique aqui para ler a íntegra do documento publicado pelo Cremers com as orientações.

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