Empregabilidade e Aperfeiçoamento, Perfil | 9 de novembro de 2015

Germano Bonow relata as experiências como médico na Amazônia

Ex-secretário de Saúde lançou publicação na Feira do Livro de Porto Alegre
Germano Bonow relata as experiências como médico na Amazônia

A experiência de atuar na saúde no final dos anos 1960 em plena floresta é contada com detalhes no livro Na fronteira da medicina: um médico no interior da Amazônia (1969-1970), recém lançado pelo médico Germano Bonow.

Na obra, Bonow conta como foi o início da sua vida profissional na pequena cidade de Benjamin Constant, na Amazônia brasileira, fronteira com o Peru e a Colômbia. Mais que um relato pessoal, o ex-deputado federal e ex-secretário de Saúde do RS traz importantes reflexões sobre as reais condições e desafios da saúde pública no país. Muitas regiões do Brasil ainda mantém as mesmas condições de décadas atrás.

“Sempre contei essas histórias e as pessoas diziam para eu escrever um livro, mas as atividades do dia a dia não deixaram”, admitiu, em entrevista ao portal Setor Saúde. Ao menos não deixavam. O projeto começou a nascer há pouco mais de três anos. “Fui escrevendo uma versão, duas, e quando chegou pela 15ª, mostrei para as pessoas, que me incentivaram e fui em frente”.

Atraído pelo trabalho com saúde pública, ele foi contratado pela Fundação SESP (Serviço Especial de Saúde Pública) e enviado para a pequena cidade amazonense, incrustada entre o rio Solimões e a floresta Amazônica, onde ele realizou seu sonho de ser médico de aldeia. “Quando estava na faculdade, minha ideia não era ter um consultório em Porto Alegre. Queria trabalhar em uma pequena comunidade, enfrentar as dificuldades. Me preparei para isso”.

Para elaborar o livro, Bonow contou com a ajuda de uma historiadora, fez pesquisas e também consultou muitos registros pessoais. “Eu guardei muitos dados. Tenho diagnostico de todas as pessoas internadas; número de pessoas vacinadas na unidade, cópia de relatórios”.

Sem televisão, rádio ou telefone

“Para se ter notícias, demorava uma semana. Na época que não havia televisão, rádio ou telefone no local”, recordou. Ele conta que sua residência era no mesmo local do hospital. “Não tinha descanso”, lembra. “Além da medicina, eu fazia plantão no pronto-socorro, pediatria, cirurgia, clínica médica. Fui para lá sem querer cobrar consulta, queria ser servidor público”. Mais do que exercer a profissão, Bonow fazia palestras, dava aula, era presidente da liga de futebol, árbitro auxiliar nos jogos, entre outras atividades. “Aprendi muito, não apenas em relação à medicina, mas nas relações humanas. Aquilo era uma aldeia”.

Germano Bonow chegou à cidade aos 26 anos, sendo o único médico, entre os 50 funcionários da SESP – todos do Ministério da Saúde, que também tinham a missão de educar a comunidade em termos de cuidados com higiene e saúde.

Ao longo de um ano e oito meses, foram mais de sete mil consultas e seis mil pessoas hospitalizadas. “Era uma cidade na extremidade do Brasil, bem onde o rio Solimões entra no Brasil, sem luz, água tratada, sem rua calçada, e com um hospital construído de alvenaria. Era bem equipado, tinha raio-x, laboratório, sala de internação, posto de saúde, lavanderia”, destaca.

“Tratei muita gente com doenças infecto-contagiosas, tuberculose, gastroenterite. Pacientes que se alimentavam com carne de caça estragada era um ‘problemaço’, e lá todos usavam a água do rio. Fazíamos campanha para o pessoal ferver a água, ou colher água da chuva. A premissa era que, entre não ter água e ter uma ruim, o melhor era ter. O ideal era a filtrada, ou tratada. Fazíamos o que era possível em uma cidade de três ou quatro mil habitantes”.

O excesso de trabalho e a falta de condições nunca impediram o médico de exercer sua profissão, mas exigiam esforços. “O sistema de doação de sangue tinha um cadastro. Mas quando chovia muito, não tinha transporte nem telefone, como poderíamos chamar um doador? Eu acabava doando, mas em um tempo curto. Uma vez saí da doação e fui para a sala de cirurgia seguir o trabalho. Senti tontura, muita dor no peito”, revela. Bonow diz que mesmo arriscando, nada de grave ocorreu.

Dia 5 de novembro Bonow divulgou a obra em uma tarde de autógrafos durante a 61ª Feira do Livro de Porto Alegre. O lançamento da obra, no entanto, também trouxe um pouco de tristeza, mesmo entre tantos familiares e amigos que o cumprimentaram pessoalmente. “Tentei falar com as pessoas que fizeram parte daquele momento, mas muitas com quem convivi já nos deixaram”, lamentou.

O livro foi lançado pela Editora Medianiz e pode ser adquirido na Feira do Livro ou pela internet, ao custo de R$ 38,00.

Biografia

Germano Mostardeiro Bonow nasceu em Porto Alegre, em 1942. Médico diplomado pela Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre (1968), atual Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), especialista e mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (1979). Chefe da Unidade Mista da FSESP do Ministério da Saúde de Benjamin Constant (AM), secretário estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, deputado estadual (RS) em diversas legislaturas e deputado federal (RS), quando integrou o Parlamento do Mercosul. É membro do Conselho de Representantes da Associação Médica do Rio Grande do Sul (CR AMRIGS) e da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, diretor do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS) e do Museu de História da Medicina do RS (MUHM). Foi professor de cursos de Pós-Graduação do IAHCS, de Porto Alegre.

 

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