Política | 18 de agosto de 2016

Fibromialgia deveria ser classificada como doença crônica segundo médicos

Senado discute proposta para tratamento pelo SUS
Fibromialgia deveria ser classificada como doença crônica segundo médicos

Em audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), especialistas defenderam a classificação da fibromialgia como doença crônica e a oferta de tratamento adequado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para os casos identificados.

Requerida pela senadora gaúcha Ana Amélia (PP/RS), a audiência contou com a presença de representantes do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (Sbed), da Associação Brasileira de Fibromiálgicos (Abrafibro) e de médicos. De acordo com os especialistas, o tratamento da fibromialgia deve ser acompanhado por vários profissionais da saúde, e não apenas por médicos.

O coordenador-geral de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas do Ministério da Saúde, Sandro José Martins, destacou os tratamentos não farmacológicos, como exercícios físicos e terapia, para o controle da fibromialgia. O medicamento tem papel importante, segundo Martins, quando as dores se acentuam. Martins afirmou que a fibromialgia não é uma doença progressiva, mas demanda atenção constante. O mais importante, disse ele, é o autocuidado e o conhecimento sobre a doença.

“Fibromialgia é uma doença crônica? Se a gente entender a definição da Organização Mundial de Saúde, é uma condição permanente, incurável, produz incapacidade e alguma limitação residual, tem causas não muito bem conhecidas, mas irreversíveis, exige educação e reabilitação para essa pessoa poder ter uma vida funcional. Então, não preenche um ou dois, mas todos os critérios para ser considerada uma doença crônica nos termos sanitários” afirmou Martins.

Ao final da audiência pública, a senadora Ana Amélia informou sua intenção de propor um projeto para que a doença seja classificada como crônica. Ela informou que entrará em contato com a deputada Mara Gabrili (PSDB/SP), para saber se já existe alguma proposição de lei sobre o assunto.

ana melia

De acordo com a médica e pesquisadora da fibromialgia, Elia Tie Kotaka, a síndrome atinge um homem para cada 20 mulheres. Segundo a diretora-geral da Abrafibro, Sandra Santos Silva, cerca de 16 milhões de pessoas no Brasil sofrem da doença.

O diretor da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, Paulo Renato da Fonseca, afirmou que a fibromialgia não é uma doença psiquiátrica nem reumatológica, mas, sim, neurológica. Comparando-a ao computador, explicou que a dor da fibromialgia não está no hardware, ou seja, na máquina física, mas no software, isto é, nos programas do computador. “Eu tenho 30 anos de formado e me dedico ao estudo da dor nos últimos 15 anos. A síndrome dolorosa mais difícil de tratar é exatamente a síndrome de dor difusa, em que a síndrome dolorosa miofacial e a fibromialgia estão elencadas”, afirmou.

De acordo com Elia Kotaka, que escreveu um livro sobre a fibromialgia, a síndrome tem um espectro muito amplo, mas a dor é uma das características. A médica afirmou que tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a Sociedade Brasileira de Reumatologia aceitam critérios para a classificação da síndrome publicados em um estudo de 1980 na Universidade do Kansas, nos Estados Unidos.

Elia explicou ainda que o início da doença geralmente se dá quando a pessoa tem alguma perda, seja a de um amor ou de um trabalho. A pesquisadora explicou ainda o motivo de ser mais frequente na mulher. “ É uma situação psicológica em que a mulher se sente num estágio diferente de evolução quanto ao seu psiquismo. Ela tem um apego mais ao pai ou mais à mãe, o que faltou para apoiá-la na condução da sua vida normal. Amor, desamparo e dor: são condições que realmente estimulam a incidência da fibromialgia. Seja o desamparo que ela sente em casa, seja o desamparo na sociedade” afirmou.

Divulgação

O senador e médico Waldemir Moka (PMDB/MS), recomendou ao Ministério da Saúde adotar iniciativas para tornar a doença mais conhecida, inclusive com a criação de disciplinas específicas nas faculdades de Medicina. “Se o médico não tiver essa informação, a tendência natural é dizer: não tem nada. Isso é horrível. Acho que o SUS e o Ministério da Saúde têm que criar um grupo de estudo. E a solução está exatamente em tornar a doença mais conhecida” disse.

Durante a audiência, a diretora-geral da Abrafibro, Sandra Silva, relatou sua experiência pessoal, quando recebeu de um médico o diagnóstico de que não tinha nada e a liberou para voltar para casa. Segundo disse, os fibromiálgicos não conseguem trabalhar devido às dores e não conseguem receber o benefício do INSS porque a perícia médica não lhes dá crédito. Ela reforçou a necessidade de classificar a doença como crônica, não transmissível e sem cura.

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