Fatores econômicos e culturais são determinantes para explicar variação no uso de antidepressivos na Europa
Prescrição cresce 20% ao anoPesquisadores do Institute of Psychiatry, Psychology & Neuroscience (IoPPN), do Kings College London, confirmaram que a cultura de uma sociedade em relação à doença mental, bem como fatores econômicos, são determinantes para explicar a grande variação no uso de antidepressivos em toda a Europa.
O estudo, publicado no British Journal of Psychiatry, mostrou que os antidepressivos foram prescritos mais frequentemente, e utilizados com mais regularidade, em países com níveis mais elevados de despesas com saúde. A crença de que pessoas com alguma doença mental são “perigosas”, também foi associada aos países com uso mais elevado desses medicamentos, enquanto a ideia de que esses pacientes “nunca se recuperam” ou “devem culpar a si mesmos pela doença” foram associados ao uso menos regular, e em menores quantidade, de antidepressivos.
Esta é a primeira pesquisa a examinar as razões por trás da variação nas práticas de prescrição de antidepressivos em toda a Europa. A equipe do Kings College London utilizou dados do Eurobarometer 2010 (um grande levantamento geral da população de 27 países europeus, para medir a prescrição de antidepressivos e a regularidade de uso). Foram comparados dados das despesas em saúde de cada país, com as medidas e atitudes em relação aos problemas de saúde mental.
Houve grande variação em toda a Europa, sendo Portugal o que mais usa antidepressivos (16% da população), e a Grécia apresenta o menor índice (3%). Era sabido que havia um alto nível de variação entre os países, mas nenhuma evidência de diferença na prevalência de transtornos de saúde mental. Na Islândia, por exemplo, os médicos prescreviam 6,4 vezes mais antidepressivos do que um profissional da Estônia.
No Brasil, a venda de calmantes e antidepressivos aumentou 8,4% entre 2009 e 2013, de acordo com levantamento da IMS Health. Segundo dados da consultoria, em 2009, foram vendidos 49.629 milhões de antidepressivos e, em 2013, 53.819. Uma das classes mais vendidas, com o princípio ativo clonazepam (que inclui o rivotril), subiu de 17.418 milhões para 22.158.
Dra. Sara Evans-Lacko, professora de Serviços de Saúde e Pesquisa Populacional do Kings College London, salientou que a pesquisa “fornece novas pistas sobre como as atitudes sociais e que gastos do governo em saúde estão associados com o uso de antidepressivos. A pescrição dessas drogas está aumentando a uma taxa de 20% ao ano em toda a Europa. Encontrar um equilíbrio entre o excesso e a falta de prescrição é difícil.
Precisamos abordar os países com baixo uso de antidepressivo e garantir que as pessoas que precisam, tenham tratamento. No entanto, também temos de abordar as razões por trás da alta prescrição de antidepressivos em alguns países”, alertou.
O estudo sugere que o maior uso de antidepressivos em países onde as pessoas com doenças mentais são vistos como “perigosas” reflete uma maior propensão em buscar ajuda médica. Já os países que encara os pacientes como culpados pela doença mental tinham menor probabilidade no uso de antidepressivos. Segundo os autores, isso pode ser explicado pela visão da doença como uma falha de personalidade ou doença incurável, o que pode reduzir a probabilidade de procurar terapia médica.
“A percepção de que as pessoas depressivas não podem se recuperar parece ser uma forte barreira para o uso de antidepressivos em alguns países. Rever essa crença por meio de campanhas de saúde pública e outras intervenções, pode contribuir para um uso mais adequado de medicamentos”, concluiu a Dra. Evans-Lacko.