Estatísticas e Análises, Mundo | 18 de outubro de 2020

Falta de identificação e de protocolos para tratar a “covid persistente” são novos desafios a serem enfrentados

Até o momento quatro síndromes foram identificadas. Duração das manifestações pode chegar a 7 meses
Falta de identificação e protocolos para tratar a covid persistente é um novo desafio a ser enfrentado

Pacientes com uma condição conhecida como “covid persistente” têm sido afetadas por quatro síndromes, de acordo com um novo estudo. A descoberta vem de uma revisão das evidências científicas disponíveis publicadas pelo Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde do Reino Unido (NIHR, na sigla em inglês). De forma geral, algumas pessoas seguem sentindo efeitos de uma infecção pelo novo coronavírus (Covid-19), mesmo tendo recebido alta hospitalar ou diagnosticadas como recuperadas.

O artigo, Living with COVID-19 (vivendo com Covid-19) baseia-se em um consenso recente de especialistas, nas evidências publicadas, e também na experiência relatada por pacientes. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas no Reino Unido foram acometidas até o momento pela Covid que se mantêm persistente em termos de sintomas e consequências. As pesquisas são do NIHR Center for Engagement and Dissemination (NIHR CED).


“Está cada vez mais claro que, para algumas pessoas, existe um caminho com efeitos contínuos. Há necessidade urgente de compreender melhor a jornada dos sintomas e os riscos clínicos que estão por trás disso. As pessoas, suas famílias e profissionais de saúde precisam de expectativas realistas sobre o que esperar quando adquirem o vírus”, dizem os pesquisadores.


Covid persistente: quatro síndromes identificadas

A revisão encontrou consistências claras para uma ampla gama de sintomas recorrentes entre pessoas que foram hospitalizadas por causa do Covid-19, assim como quem teve a doença e não precisou de hospitalização.

Foi observado que pacientes com coronavírus tiveram problemas com o sistema respiratório, cérebro, sistema cardiovascular, rins, intestino, fígado e até mesmo problemas de pele.


“Acreditamos que o termo ‘Covid persistente’ está sendo usado como um termo geral para mais de uma síndrome, possivelmente até quatro”, disse a Dra. Elaine Maxwell, autora da revisão.

Ela disse em um briefing apresentado pelo Science Media Center (SMC) que enquanto alguns pacientes experimentam “sintomas clássicos de doença pós-crítica (síndrome pós-terapia intensiva)”, outros relataram “fadiga e névoa mental de uma forma que é consistente com a síndrome da fadiga pós-viral”. A névoa mental é mais do que falta de concentração. Engloba ainda a sensação de se sentir confuso e problemas para pensar. Um terceiro grupo experimentou “danos permanentes a órgãos causados pelo vírus (pulmão e coração)”, enquanto outro grupo significativo “descreve uma montanha-russa de sintomas que se movem pelo corpo e não progridem continuamente em direção à recuperação”.

Todos que sentem um ou mais condições como estas deveriam ser monitorados. A conduta errada pode levar as pessoas acometidas a terem condições de saúde agravadas – caso os pacientes não recebam um plano de cuidado adequado e personalizado às suas condições de saúde pré e pós covid.

“Acreditamos que a falta de distinção entre essas síndromes pode explicar os desafios que as pessoas estão enfrentando para serem acreditadas e acessarem os serviços”, disse Maxwell. Além disso, o estudo aponta que pacientes podem sofrer impactos psicológicos.

Os pesquisadores defendem ainda que os profissionais de saúde devem começar a receber orientações mais claras de como agir, a partir de um reconhecimento em termos de políticas públicas, assim como um protocolo geral para lidar com o problema. E ainda, os pacientes precisam ser comunicados da importância de relatarem estas condições, logo quando aparecem.


Covid persistente pode durar meses (há casos de até sete meses)

Outra característica é que pacientes com “covid persistente “ relataram mal-estar por um longo período. De acordo com Maxwell, as pessoas que pedem ajuda e aconselhamento estão sendo informadas de que irão se recuperar dentro de 2 a 3 semanas. Porém, ela já recebeu relatos de pessoas que ainda não conseguem trabalhar, estudar ou cuidar de dependentes sete meses após o período inicial de infecção.

Como parte do estudo, o NIHR CED realizou entrevistas com 14 pessoas que fazem parte de grupos de apoio para a Covid persistente no Facebook, cujos membros incluem pessoas pós-hospitalizadas e não hospitalizadas.


Uma delas, Joanna House, uma acadêmica que estuda mudança climática na Universidade de Bristol, desenvolveu a Covid-19 em março depois que ela e seu parceiro, Ash, ajudaram um vizinho idoso que havia caído em sua casa e que estava infectado com a doença. Após sete meses, Jo e Ash continuam a apresentar sintomas contínuos de Covid-19, como falta de ar, fadiga, taquicardia e névoa mental.

Eles contaram aos pesquisadores que sua experiência de buscar ajuda de profissionais de saúde foi mista e às vezes frustrante porque eles não haviam sido hospitalizados e nem haviam sido testados na ocasião. Eles afirmam que se sentiram “no limbo” sem o reconhecimento formal de que estavam com Covid persistente e com a falta de apoio posterior.


Necessidade de mais pesquisas e protocolos para o tratamento da covid persistente

Os autores da revisão disseram que o desafio agora é projetar pesquisas que integrem as necessidades daqueles que têm sofrido com as consequências do covid persistente, com modelos clínicos de atendimento e que reconheçam as consequências sociais e psicológicas da Covid-19.


O Dr. Philip Pearson, um consultor respiratório de Northampton (Inglaterra), disse que a atual falta de dados sobre a Covid-19 precisava ser tratada “rapidamente”. “Tenho pacientes e colegas com sintomas pós-Covid. Preciso saber como aconselhá-los agora”, disse.

“Quando uma segunda onda começa, as únicas coisas que podemos ter certeza é que haverá mais hospitalizações, haverá mais admissões em UTI e haverá mais pessoas lidando com os efeitos de longo prazo da Covid”, completou.


Candace Imison, diretora associada de evidências e disseminação do NIHR CED, disse que este trabalho demandado por pacientes e especialistas da saúde estava em andamento. Adições estão sendo publicadas no site Living with COVID-19 à medida que novas evidências surgem, incluindo uma grande atualização em janeiro ou fevereiro de 2021.

“Também tenho o prazer de dizer, como você provavelmente deve saber, que a importância deste tópico está sendo retomada discutida em outras esferas – o NICE (Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados, órgão do Departamento de Saúde da Inglaterra) está atualmente desenvolvendo uma diretriz para este grupo de pacientes que deve estar disponível até o final do ano”, finalizou.

Com informações do Medscape. Edição do Setor Saúde.



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