Exame para identificar câncer de Próstata pode ser mais prejudicial do que benéfico, acreditam especialistas canadenses
Eficácia do PSA gera controvérsias
O órgão federal canadense que estabelece diretrizes para o rastreamento do câncer está pedindo aos médicos do país que abandonem o teste de PSA (sigla em inglês para antígeno prostático específico). O exame de sangue, simples e amplamente utilizado, ajuda no diagnóstico precoce de câncer de próstata, mas também poderia levar a tratamentos prejudiciais desnecessários.
Depois de duas décadas sem novas orientações sobre o PSA, a Canadian Task Force on Preventive Health Care emitiu nota considerando que os danos do excesso do tratamento superam os benefícios da detecção precoce, até mesmo para os homens considerados de maior risco para o câncer de próstata. O documento foi publicado no Canadian Medical Association Journal.
“Em 20 anos, a quantidade de provas (da eficácia) é decepcionante”, ressaltou James Dickinson, professor de medicina familiar e ciências da saúde da Universidade de Calgary e membro do estudo, em reportagem do The Globe and Mail.
As diretrizes estão sendo questionadas por grupos especializados em câncer no país, como a Urological Association, que contestam o alerta dizendo que o teste de PSA é benéfico, desde que usado criteriosamente.
Os especialistas consideram especialmente útil para os homens de ascendência afro e/ou com histórico familiar de câncer de próstata (grupos de maior risco de desenvolver a doença).
Laurence Klotz, urologista do Centro de Ciências da Saúde Sunnybrook, em Toronto, contesta a orientação e acredita que abandonar o PSA seria um retrocesso. “A mortalidade vai voltar a subir e em 15 ou 20 anos a força-tarefa irá se reunir e dizer que cometeram um erro”, criticou.
O antígeno prostático específico é uma proteína produzida pelas células da próstata, uma glândula que é parte do sistema reprodutivo masculino. O teste PSA pesquisa os nanogramas no sangue. Se o valor for maior que o normal, pode ser um sinal precoce de câncer. Há, no entanto, condições benignas que podem impulsionar a elevação do PSA, incluindo alguma inflamação da próstata.
Para chegar às conclusões, a força-tarefa se baseou em dois grandes estudos, um realizado nos EUA e outro, o principal, na Europa. O ensaio clínico acompanhou mais de 162 mil homens em sete países durante 13 anos. A conclusão é de que houve uma pequena redução na mortalidade por câncer de próstata de menos de 1% (13 vidas salvas para 10 mil pacientes), um índice pequeno para compensar os danos que decorrem do tratamento excessivo e outros danos associados que podem variar de disfunção erétil a paraefeitos colaterais da radioterapia e quimioterapia.
Câncer de Próstata no BrasilEm 2013 a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) entrevistou 5 mil homens e descobriu que 47% nunca haviam realizado exames para detectar o câncer de próstata, 44% jamais se consultaram com o urologista e 51% nunca fizeram exames para aferir os níveis de testosterona no sangue. O câncer de próstata é, atualmente, o segundo que mais acomete homens, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Para 2014, são esperados 68.800 novos casos, segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).