Tecnologia e Inovação | 23 de janeiro de 2018

Exame de sangue identifica todos os tipos de câncer

Estudo com mais de mil pacientes foi conduzido por cientistas da Universidade Johns Hopkins
Exame de sangue identifica todos os tipos de câncer

Um exame de sangue universal que detecte todos os tipos de câncer pode se tornar realidade. É o que diz um estudo de uma equipe da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, que testou um método que detecta oito tipos de proteínas e 16 mutações genéticas comuns em quem já foi diagnosticado com a doença. O estudo contou com a participação de 1.005 pacientes. O teste foi capaz de identificar oito tipos de câncer e foi considerado bem-sucedido em 70% dos casos.

O exame, chamado de “Cancerseek”, foi capaz de identificar as alterações na maioria dos pacientes que tinham sido diagnosticados com a doença no ovário, fígado, estômago, pâncreas, cólon, pulmão,esôfago e na mama, mas que não sofriam de metástase.

O estudo foi divulgado pela publicação científica Science e tratado como novidade porque o método desenvolvido identifica tanto proteínas quanto o DNA modificado geneticamente. O custo do exame, segundo os pesquisadores, é de aproximadamente 500 dólares (equivalente a R$ 1,6 mil) por paciente.

Cristian Tomasetti, da escola de medicina da Universidade Johns Hopkins, disse que o diagnóstico precoce é crucial para reduzir o número de mortes por câncer. De acordo com Tomasetti, os resultados são animadores, porque podem potencialmente identificar a doença mais rapidamente.

Exame pode ser um aliado contra casos de difícil diagnóstico

Os pesquisadores estão animados porque alguns dos tipos de câncer identificados a partir do exame de sangue são de difícil diagnóstico. Dos oito tipos de câncer pesquisados, cinco dificilmente são identificados com ultrassom, como, por exemplo, o câncer de pâncreas, que apresenta poucos sintomas e geralmente é detectado tardiamente, já em estágio avançado.

Os pesquisadores agora tentam descobrir se é possível identificar as mutações antes de aparecerem os primeiros sintomas. Tomasetti afirma que descobrir tumores enquanto eles ainda podem ser removidos por meio de cirurgias faz aumentar as chances de sobrevivência.

O teste agora está sendo realizado com pessoas que ainda não foram diagnosticadas com câncer. A expectativa é poder avaliar a possibilidade de identificar a doença em uma fase bem inicial. Os pesquisadores esperam que o exame de sangue possa complementar outros testes, como mamografias (câncer de mama) e colonoscopia (câncer no intestino). Tomaserri acredita que o exame possa ser feito uma vez por ano.

Aumentar a possibilidade de, em um único exame, identificar um número cada vez maior de mutações e de proteínas vai permitir detectar também uma maior quantidade de tipos de câncer. Por isso, cientistas acreditam estar no caminho certo para um exame de sangue universal, que seria capaz de indicar qualquer tipo da doença.

O oncologista Gert Attard, que comanda uma equipe no Instituto de Pesquisas do Câncer em Londres, avalia que a pesquisa tem um enorme potencial. “É extremamente animadora. Pode ser o Santo Graal: um exame de sangue capaz de diagnosticar câncer sem a necessidade de outros procedimentos como ultrassonografia ou colonoscopia”, disse.

Attard afirmou que “estamos muito perto” de usar exames de sangue para identificar a doença, uma vez que já “temos a tecnologia”. No entanto, ele alerta para o fato de ainda haver incertezas em relação ao que fazer depois do diagnóstico. Em alguns casos, o tratamento pode ser ainda pior que viver com a doença, em especial quando ela não coloca a vida da pessoa sob um risco imediato.

Homens, por exemplo, podem desenvolver câncer de próstata mais lentamente quando monitorados do que quando submetidos a um tratamento. “Quando nós detectamos um câncer de uma forma inesperada, não podemos ter certeza de que todo mundo vai precisar de um tratamento”, afirma Attard.

Paul Pharoah, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, tem uma postura mais cautelosa em relação à descoberta. Pharoah afirma que mais estudos são necessários para avaliar o resultado desses exames de sangue em casos nos quais a doença está em fase inicial.

“Demonstrar que um teste é capaz de detectar câncer em estágio avançado não significa que o exame vai ser útil para identificar a doença quando os sintomas ainda são iniciais, e muito menos casos em que estão em estágio pré-sintomáticos”, diz Pharoah. “O nível de sensitividade de câncer em estágio 1 nesse estudo foi de apenas 40%”, completou.

 

Com informações da BBC News. Edição do Setor Saúde.

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