Gestão e Qualidade, Mundo | 8 de janeiro de 2016

EUA: 10 tendências da saúde para 2016

As novidades que deverão ganhar destaque neste ano que começa
EUA 10 tendências da saúde para 2016

Em um artigo publicado no portal Common Health, o presidente associado de patologia no Newton-Wellesley Hospital (EUA) e professor na Tufts University School of Medicine, Dr. Michael Misialek, fez um prognóstico do que deverá ser destaque nos avanços da saúde ao longo de 2016.

“Olhando através do meu microscópio, espero que os avanços médicos mais marcantes no próximo ano estejam no âmbito do tratamento do câncer”, projeta o especialista, listando 10 tópicos que tratam do progresso científico e tecnológico, e também das mudanças nos sistemas de saúde.

Mesmo que esta análise leve em conta a realidade do consolidado mercado norte-americano – 17% do PIB dos Estados Unidos é gasto em cuidados de saúde -, os prognósticos podem ajudar a entender as transformações que invariavelmente irão refletir, em maior ou menor grau, no mercado brasileiro. Leia abaixo:

1. Câncer: a imunoterapia e mais

O tratamento do câncer através da imunoterapia foi destaque em 2015. É a técnica através da qual a capacidade do sistema imunológico é aproveitada para atacar o tumor. É usada em muitos tratamentos, mas tende a ser uma abordagem de segunda linha ou para doença avançada. “Em 2016, vamos ver mais tratamentos de imunoterapia aprovados e que provavelmente vão se tornar a primeira escolha em muitos tipos de câncer”.

O patologista norte-americano também espera para ver mais avanços na imunidade mediada por célula, uma forma de resposta imunológica que não envolve anticorpos. As próprias céllas são modificadas no sistema imunológico de um paciente para atacar o câncer. “Esperamos ouvir mais sobre epigenética, que usa a programação genética da célula cancerígena para levá-la de volta à normalidade”, acrescenta o Dr. Misialek.

Recentemente, a American Association for Cancer Research realizou uma conferência internacional sobre imunoterapia. O grande assunto foi como a resistência à quimioterapia pode ser superada utilizando proteínas modificadas. A resistência é um problema que impede os avanços da medicina de precisão. Estas proteínas, que são menores do que os anticorpos, levarão a imunoterapia para novos níveis em 2016.

Novas combinações de medicamentos, usadas junto com quimioterapia e imunoterapia, também devem crescer em 2016. “Essas abordagens já estão mostrando boas promessas em câncer de pulmão, de próstata e melanoma. E podemos esperar novas vacinas contra o câncer surgirem em 2016”.

2. Basket Studies: uma nova abordagem para Ensaios Clínicos

Ensaios tradicionais testam uma droga contra um tipo de câncer conhecido. Com a revolução da medicina de precisão, tornou-se evidente que muitos tipos de câncer, independentemente do tipo, compartilham as mesmas mutações genéticas. Em 2015, viu-se os primeiros ensaios que usam uma droga de forma a direcionar mutações comuns em cânceres de muitos órgãos diferentes. Os basket studies “vão explodir em popularidade em 2016, em um esforço para trazer um maior acesso dos doentes aos medicamentos. Este novo paradigma vai se tornar comum em 2016”, analisa o artigo. Já a American Society of Clinical Oncology está patrocinando seu primeiro basket study, em parceria com cinco empresas farmacêuticas. Os resultados preliminares são esperados para 2016.

O basket study é um esforço coordenado para encontrar respostas. Realiza-se o rastreamento de tumores em centenas de pacientes para determinar qual poderia ser atacado por alguma das novas drogas. Aqueles pacientes cujos tumores têm mutações suscetíveis de tratamento receberão as drogas. Os estudos deste novo método são muito menores do que os estudos habituais e sem grupos de controle de pacientes que, por causa da comparação, recebem o tratamento padrão.

3. Aproveitando os micróbios do intestino

As bactérias no intestino são conhecidas por desempenhar um papel no sistema imune e no metabolismo. Agora, uma nova pesquisa está mostrando que muitas doenças podem ser causadas, ​​em parte, por micróbios do intestino, e este tipo de abordagem deve aumentar no ano que se inicia. “Uma das técnicas em crescimento é a utilização de transplantes fecais para tratar a infecção por Clostridium difficile. Outras doenças, como a doença inflamatória do intestino, síndrome do intestino irritável, doenças auto-imunes e doenças alérgicas, provavelmente, terão as bactérias como base de tratamento em 2016”.

Recentemente, micróbios intestinais foram usados para reduzir os efeitos colaterais de quimioterapia. Talvez o mais promissor sejam os caminhos nos quais são detectadas estas bactérias. Os métodos tradicionais de cultura bacteriana serão substituídos pelo sequenciamento genético do DNA bacteriano. Tal informação poderosa já está mostrando promessa de ajudar a travar a transmissão de bactérias resistentes aos medicamentos dentro e entre hospitais, uma das principais causas de doença e morte.

4. Órgãos em impressoras 3D

Em 2015, aumentou o sucesso na impressão 3D de tecidos humanos. Tais avanços continuarão em 2016. Conseguir imprimir órgãos humanos em 3D ainda é um objetivo distante, mas é um futuro que parece estar ao nosso alcance. “Tal realização irá abordar os problemas atuais de transplante de órgãos – longas listas de espera, disponibilidade de órgãos limitada e rejeição -. A impressão 3D de órgãos irá eliminar estes obstáculos, já que órgãos serão impressos sob demanda”.

Costelas, próteses e outras partes do corpo já são desenvolvidas. Já houve sucesso na impressão de vasos sanguíneos, um passo crucial para a construção de um órgão. “Também podemos esperar mais manchetes em 2016 no campo da medicina regenerativa. O tratamento e a pesquisa do câncer podem se beneficiar se os tumores puderem ser rotineiramente impressos em 3D. Este campo ainda enfrenta desafios regulatórios, e vai precisar de tempo e investimento significativos, mas 2016 já deve trazer mais passos à frente”.

5. Microscópio no interior do corpo

A microscopia In Vivo é um nova técnica microscópica em que as imagens são obtidas a partir de endoscópios – um dispositivo de um longo tubo inserido no corpo do paciente – e em tempo real. A maneira tradicional em que o tecido da biópsia é examinado requer tecido removido do corpo, processado em laboratório e transformado em uma lâmina de vidro, um processo que pode levar cerca de 24 horas. Um diagnóstico é então feito, muito tempo depois que o paciente deixou a consulta. A microscopia In Vivo oferece um número de vantagens, tais como:

O diagnóstico pode ser feito imediatamente em tecidos que não podem ser facilmente removidos.

 Um órgão inteiro pode ser rastreado para a doença microscópica sem ter de remover qualquer tecido.

Biópsias tradicionais mais eficazes podem ser obtidas por meio de um direcionamento preciso.

Uma avaliação em tempo real dos efeitos de tratamento pode ser realizada

“Eu acredito que a microscopia promete revolucionar a forma como os patologistas examinam tecidos e fazem diagnósticos. E espero que essa tecnologia decole como um foguete em 2016”.

6. Laboratório em um chip

Os avanços recentes têm revolucionado a tecnologia de testes de laboratório. Miniaturizar a dimensão complexa e grande de testes de laboratório até um microchip permitirá que os prestadores de serviços de saúde façam mais, através de amostras menores e mais baratas. Uma dessas empresas, a Theranos, já ganhou a liberação da FDA para testes de herpes este ano. A Theranos é controversa (ver aqui), mas mais destes testes inevitavelmente surgirão. “Espero que em 2016 haja uma explosão nesta tecnologia de testes de laboratório minimamente invasiva. O local tradicional dos cuidados passará a ser fora do laboratório, clínica ou hospital”.

7. Diagnósticos móveis

Os consumidores podem esperar por um aumento nas tecnologias “vestíveis” de rastreamento de saúde em 2016, e os fornecedores podem esperar uma explosão de diagnósticos móveis. Os chamados dispositivos “point-of-care” irão expandir o acesso aos cuidados de saúde para diversas partes do mundo. “Seja em áreas rurais remotas, ou nas selvas e desertos do Terceiro Mundo, esta próxima geração de diagnósticos pode transformar o acesso aos cuidados em 2016. Smartphones podem ser facilmente adaptados para microscópios e outros tipos de analisadores”.

8. O aumento dos consumidores

Impulsionada pelo aumento dos custos e maiores franquias nos EUA, os pacientes/consumidores estão esperando mais dos serviços de saúde. Eles são incentivados a pagar mais para terem maior poder de escolha. Este aumento do consumismo já está movimentando os cuidados em hospitais e sistemas de saúde, que se esforçam para satisfazer as necessidades dos clientes mais educados e exigentes. “Espero que 2016 haja ainda mais concorrência no mercado. Os consumidores estão fazendo opções mais acessíveis, muitas vezes negligenciando o cuidado no processo. Em 2016, espero ver cuidados cada vez mais facilitados através de smartphones e aplicativos. O atendimento virtual e ferramentas de saúde on-line também devem crescer.”

9. Serviços com base em valor: Pacotes e Saúde da População

Os cuidados de saúde com base em valor podem ser definidos como resultados relativos ao custo. Em 2016 provavelmente veremos “cuidados coordenados”, uma tentativa de fornecer atendimento de alta qualidade a custos mais baixos, tanto para indivíduos quanto para populações inteiras. Melhor acesso aos cuidados (individual e coletivo) devem ganhar as manchetes ao longo do ano, incluindo os esforços para reduzir os custos, eliminando desperdícios e o controle da utilização de recursos.

Nos “cuidados integrados”, uma taxa fixa é dada aos prestadores, para o atendimento de uma condição abrangente de cuidado. “Provavelmente veremos mais pacotes para os usuários, tais como para o tratamento do câncer, idosos, Alzheimer, cuidados paliativos, medicamentos especiais, saúde comportamental e trabalho social”. O sistema público dos EUA (Medicare), ao completar 50 anos, divulgou um estudo – feito entre 1999 e 2013 – que mostrou que gastos e internações diminuíram entre beneficiários do Medicare acima de 65 anos.

10. Megafusões de seguradoras de saúde mudando o cenário

A empresa Aetna anunciou que iria comprar a Humana. Em um movimento semelhante, a Anthem disse que planeja comprar a Cigna. Estas ofertas de fusões reduzirão o número de grandes seguradoras. Isto significa menos escolha para os consumidores, em especial para os idosos. Embora as fusões levem tempo para serem concluídas, necessitem passar pela aprovação dos órgãos reguladores, elas continuarão ocorrendo em 2016.

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