Estatísticas e Análises, Mundo | 18 de agosto de 2015

Estudo analisa práticas para evitar infecções relacionadas à assistência à saúde

Desinfetantes à base de lixívia, luz ultravioleta, peróxido de hidrogênio e metais de cobre
Estudo analisa práticas para evitar infecções relacionadas à assistência à saúde

São muitos os vetores comuns que favorecem a troca de germes entre pacientes e profissionais de saúde. Mesas, camas, interruptores de luz, banheiros, são apenas alguns exemplos. As táticas de limpeza dessas “superfícies constantemente tocáveis” (high-touch surfaces, no termo em inglês) foram o foco de uma nova revisão sistemática, publicada no periódico científico Annals of Internal Medicine.

Há falta de provas quanto ao que é o mais eficaz na redução de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Poucos estudos avaliaram os resultados após as altas hospitalares, ou com foco em novas tecnologias, e ainda menos em comparação a táticas de limpeza. Todas essas nuances são fundamentais para reduzir as cerca de 75 mil mortes que ocorrem nos EUA, somente relacionadas a IRAS.

A pesquisa foi liderada por Craig Umscheid, professor assistente de medicina e epidemiologia na Universidade da Pensilvânia e Diretor Associado Sênior no ECRI Institute-Penn Medicine Agency for Healthcare Research and Quality (organização dedicada a investigar quais procedimentos, dispositivos, drogas e processos médicos são eficazes); Jennifer Han, professora assistente de medicina e epidemiologia, Brian Leas e Nancy Sullivan pesquisadores do ECRI Institute-Penn.

O trabalho revelou importantes lacunas na prática de limpeza de superfícies em estabelecimentos de saúde, que poderiam evitar muitas infecções, incluindo superbactérias resistentes a antibióticos. “A limpeza de superfícies no leito do hospital é fundamental para reduzir as IRAS”, disse Dra. Han. “Descobrimos que as investigações não fornecem uma boa visão geral do antes e depois de resultados de agentes de limpeza específicos e abordagens para monitorar a limpeza”. As novas pesquisas, segundo a autora, precisam comparar as várias maneiras de limpar essas superfícies e monitorizar essa limpeza, a fim de determinar o que é mais eficaz na diminuição da taxa de infecções hospitalares.

Enquanto estudos que examinam IRAS têm aumentado ao longo dos últimos 15 anos, as infecções hospitalares continuam a ser uma das principais causas de morte e morbidade. Em 2011, foram registradas mais de 721 mil IRAS nos EUA. Além disso, especialistas acreditam que apenas 50% das superfícies são normalmente desinfetadas durante a limpeza do quarto de um paciente.

Examinando 80 estudos publicados entre 1998 e 2014, os pesquisadores descobriram que as comparações de eficácia foram incomuns. Diferentes estudos analisaram diferentes modos de limpeza, desinfecção, limpeza e monitoramento de superfícies duras, a fim de determinar quais eram os mais eficazes. Também houve relativamente poucos estudos com foco na mensuração de resultados de maior interesse para os pacientes, como alterações nas taxas de IRAS ou a presença de patógenos em pacientes.

Os estudos existentes, em grande parte, comparavam a magnitude da contaminação da superfície antes e após a limpeza com um agente particular. Mais de 65% dos estudos avaliaram a contaminação da superfície. Menos de 35% relataram resultados centrados no paciente, como taxas de IRAS ou diagnóstico da presença de algo incomum no corpo.

A equipe se prendeu a três grandes categorias de evidências:

1) Os agentes e métodos que foram usados ​​para limpar superfícies constantemente tocáveis;

2) Quais foram as abordagens que estavam disponíveis para monitorar a eficácia da limpeza;

3) Qual sistema de nível de fatores é necessário para a limpeza e monitoramento bem sucedidos.

Além da revisão da literatura, os pesquisadores entrevistaram um número de peritos dos EUA. “Nosso objetivo era fornecer uma ampla revisão de provas em todos os três tópicos”, disse Dr. Umscheid. “Embora haja uma clara necessidade de mais investigação centrada no paciente e na comparação da eficácia, os resultados que existem proporcionam um bom ponto de partida em termos de busca por informações sobre as formas de reduzir as infecções”.

Entre as suas conclusões, os especialistas da Pensilvânia identificaram vários estudos que mostram que as taxas de C. difficile (causa mais comum de infecções gastrointestinais adquiridas em hospitais), caíram com o uso de desinfetantes à base de lixívia, e que produtos à base de dióxido de cloro foram ineficazes na redução de contaminação e infecção. Os pacientes que tomam antibióticos têm risco maior de se infectar porque os medicamentos podem perturbar as bactérias normais do intestino.

Outro dado interessante é que seis estudos que analisaram o uso de lenços umedecidos com água oxigenada e outros produtos químicos como estratégias preventivas relataram resultados positivos, incluindo a redução das infecções hospitalares. Outros 17 estudos visaram a estratégia “no-touch” (sem toque) para limpar superfícies duras – como dispositivos que emitem luz ultravioleta ou vapor de peróxido de hidrogênio – relataram resultados positivos nas taxas de infecção. Sete dos oito estudos que avaliaram revestimentos de superfícies no quarto de hospital (como trilhos da cama revestidos de cobre) também mostraram eficiência. Superfícies de metais ou ligas de cobre são poderosas aliadas no combate às bactérias que causam infecções.

A análise também destacou áreas prioritárias de pesquisas futuras, com base na avaliação das provas e entrevistas com os principais especialistas. “Além de ampliar o uso da pesquisa comparativa da eficácia e dar maior ênfase aos resultados centrados no paciente, novas pesquisas devem investigar a eficácia de uma série de tecnologias e abordagens promissoras”, concluiu Dra. Han.

Para ver artigo original (em inglês) acesse o link.

Ou leia o compilado de matérias especiais que tratam sobre infecções hospitalares e superbactérias.

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